* Organizadores estimam que cerca de 8 mil pessoas participaram do ato na manhã de ontem
“Não vamos nos acovardar”, gritavam a plenos pulmões trabalhadores de diversas categorias durante uma manifestação no Centro de Rio Branco nesta sexta-feira, 28. O protesto é uma forma de a população dizer que é contra as reformas da Previdência, trabalhista e contra a lei da terceirização, propostas pelo Governo Federal.
Logo pela manhã, os trabalhadores se concentraram em frente ao Palácio Rio Branco. Nem mesmo o sereno e ameaça de chuva atrapalharam. Até mesmo o padre Asfury participou do evento, além de deputados estaduais. Em seguida, eles caminharam até o Terminal Urbano, onde outras categorias já estavam mobilizadas.
Com as principais ruas fechadas, o trânsito ficou complicado na região central por quase duas horas. De acordo com a funcionária pública, Sandra Maria Carvalho, esse é um momento histórico. “Se anos atrás lutávamos por mais direitos, hoje não deixaremos que esses direitos conquistados com tanto suor sejam tirados de nós”, destacou.
O estudante do Ensino Médio, Flávio Lima, as medidas trazem prejuízos não só para quem já está empregado, mas também para aqueles que estão se preparando para o mercado de trabalho.
“Procurei me informar um pouco sobre as propostas. Estou com medo pelo meu futuro. Por isso, fiz questão de vir e mostrar a minha insatisfação. Além disso, tenho mãe e pai que serão seriamente prejudicados com a lei da previdência”, explicou o jovem.
A Nova Central Sindical dos Trabalhadores do Acre, uma das entidades organizadoras da manifestação, contabiliza a participação de oito mil pessoas.
“Estamos felizes com o resultado da manifestação. É uma demonstração de que o povo, as centrais, os sindicatos não concordam com os atos criminosos do governo Temer que quer subtrair direitos da classe trabalhadora, por meio de suas reformas. Vamos continuar na resistência”, disse o presidente da entidade sindical, Franklin Albuquerque.
No período da tarde, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) convocou as catego-rias para uma manifestação que terminou com realização de shows de artistas locais.
80% das escolas em Rio Branco tiveram atividades suspensas nesta sexta
A presidente do Sindicato dos Professores da Rede Pública de Ensino do Estado (Sinproacre), Alcilene Gurgel, afirma que 80% das escolas das redes municipal e estadual estão com as atividades suspensas desde o início da manhã.
A mobilização começou no início do mês. Ela também confirmou que os trabalhadores de todo o país estão se sentindo ‘ameaçados’ com as reformas propostas pelo governo.
“Estamos desde o início do mês fazendo mobilização nas escolas para esse dia. A gente sabe que o tempo chuvoso atrapalhou um pouco. As escolas pararam. Esse não é um movimento da Educação. É um movimento dos trabalhadores acreanos, já que todos estamos nos sentindo ameaçados com a retirada dos nossos direitos”, confirmou a presidente.
Sindifisco/AC alerta sobre o perigo das medidas
Os auditores fiscais também participaram do protesto. De acordo com a presidente do Sindicato do Fisco do Estado (Sindifisco/AC), Leyla Alves, essa foi a forma que a categoria encontrou de se posicionar contra mecanismos que tentam tirar direitos adquiridos do trabalhador brasileiro.
“A retirada de direitos significa um retrocesso para todas as gerações, resultando em danos irreparáveis aos trabalhadores do setor público e privado. Aproveitamos o protesto para alertar as pessoas sobre os perigos dessas medidas”, falou a sindicalista.
Unidades de saúde e agências bancárias
Com a paralisação, as Unidades Básicas de Saúde (UBS) funcionaram até às 10h desta sexta. Já as agências bancárias funcionaram normalmente. Apesar disso, o Sindicato dos Bancários do Acre teve representantes na manifestação. Os bancários não aderiram ao movimento por ameaça de corte de pontos.
Manifestação na Eletrobras/AC
Os servidores da Eletrobras Distribuição Acre fecharam a entrada da empresa em manifesto contra a privatização da estatal, além das reformas trabalhistas e da previdência. No local houve confusão e até a polícia teve que ser acionada para conter os ânimos. Cerca de 70% dos serviços foram paralisados, pontuou o vice-presidente do Sindicato dos Urbanitários, Marcelo Jucá.
“A greve é geral, como em todo o país. Estamos juntos com as demais categorias protestando contra as reformas que o presidente está querendo fazer no país. Deixamos os 30% dos serviços funcionando, como a lei pede, e os demais foram paralisados”.
Pneus bloquearam a entrada da Ponte Metálica
Manifestantes mais exaltados atearam fogo a pneus na entrada da Ponte Metálica, no Centro. O fogo tomou grandes proporções e uma equipe do Corpo de Bombeiros teve que ser acionada. A ponte Juscelino Kubitschek foi bloqueada por cerca 15 minutos.
OCA fechada
A Central de Serviços Públicos (OCA) de Rio Branco teve os serviços paralisados. De acordo com o Governo do Estado, como os servidores aderiram ao movimento e não compareceram aos postos de trabalho, o local não teve como funcionar normalmente.
Por não saber da manifestação, a diarista Helen Vieira se surpreendeu ao chegar ao local e vê-lo fechado. “Precisava resolver uma pendência hoje ainda, mas está fechado. Vou ter que voltar na segunda-feira agora”, desabafou.
Manifestações também no interior do Acre
Segundo Franklin Albuquerque, no interior do Acre também foram registrados protestos. “Tivemos movimentação também nas cidades de Cruzeiro do Sul, Feijó, Taraua-cá, Bujari e Capixaba”, afirmou Albuquerque.
Entenda os motivos
A Câmara dos Deputados aprovou na última quarta-feira, 26, projeto de lei da reforma trabalhista. Entre outras medidas, o projeto estabelece a possibilidade de jornada de 12h de trabalho com 36h de descanso. Além disso, a reforma estabelece um intervalo (para o almoço, por exemplo), durante a jornada de, no mínimo, 30 minutos.
Atualmente, a CLT estabelece uma jornada de trabalho de 44h semanais com 8h diárias. Já os intervalos na jornada de trabalho não podem ser negociados e precisam ser de uma hora. A empresa, portanto, é obrigada a fornecer uma hora de trabalho ao empregado – tratando-se de um descanso não remunerado.
PEC da Previdência
Entre outras medidas, a PEC 287, mais conhecida como PEC da Previdência, prevê o tempo de contribuição para a aposentadoria integral de 49 para 40 anos. Mas o preço dessa ‘bondade’ foi um corte de 6 pontos porcentuais no valor do benefício.
Pelo texto original, após 25 anos contribuindo, o trabalhador teria direito a aposentadoria inicial correspondente a 76% da média das contribuições. Depois das mudanças, vejam só, o benefício começa em 70% da média. Para chegar aos 76% o empregado teria de contribuir por mais quatro anos.