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Por uma acolhida e um diálogo que gere vida: “Fui estrangeiro e me acolhestes…(Mt 25,36)

Queridos leitores e leitoras do Jornal A GAZETA, Paz e Bem! Com grande satisfação estamos mais uma vez neste espaço para meditar e refletir sobre aspectos importantes de nosso contexto humano à luz de nossa fé, motivo de nossa esperança.

Estamos todos assistindo diariamente novos capítulos da história de um mundo em migração. Desde que há registros da presença humana no mundo existem relatos de fluxos migratórios sejam em decorrência de questões ambientais, guerras e conflitos tribais, disputas políticas de território e/ou prestígio das massas ou disputas religiosas, existe o deslocamento de pessoas de um lugar ao outro.

O abandono da terra de origem e, com muita frequência, de familiares próximos, inclusive filhos ou cônjuges, gera, não raramente, nos migrantes um forte senso de culpa, como se estivessem, no fundo, renegando a própria família. Embora racionalmente a viagem possa ser justificada pela necessidade do sustento dos próprios familiares, nem sempre isso é suficiente para eliminar a sensação de culpabilidade. Além disso, muitos migrantes precisam interpretar os sofrimentos, as decepções e as frustrações que frequentemente acompanham os deslocamentos, principalmente quando se torna expressivo o gap entre as idílicas expectativas e a sofrida realidade. A religiosidade, nesses casos, pode ser um recurso simbólico que oferece sentido, inserindo as escolhas e as experiências biográficas no interior do plano divino.

A Sagrada Escritura, no episódio de Abraão e sua família é um dos retratos do quanto a dimensão religiosa é importante num contexto de migrações, pois é necessário dar esperança e sentido aos sofrimentos dos recém-chegados. Porém, em muitas vezes, a chegada de uma família em um país estrangeiro é marcada por terríveis gestos de preconceito, ódio e xenofobia. Basta vermos como cada país reage em relação aos migrantes na Europa, ou mesmo as migrações na América como o caso mais recente dos venezuelanos que, em condições de grande vulnerabilidade, ingressam no território nacional.

O Brasil está em pleno momento de discussão por conta da expectativa de sanção da chamada Lei da Migração. O anúncio de que o texto já havia sido aprovado pelas duas casas legislativas brasileiras e estaria a ser sancionado pelo Presidente da República gerou protestos de grupos radicais, notadamente no sul e sudeste do Brasil. Assim nos perguntamos: qual o papel dos migrantes no contexto de desenvolvimento do Brasil? Quantas colônias foram se organizando e dando novo contorno à geopolítica da Nação? Ainda mais, quantos brasileiros emigram numa condição de estudantes, profissionais, turistas, etc? É assim mesmo queridos leitores, não podemos negar que somos um país de imigrantes e emigrantes e não tem razão lógica, humana e cristã qualquer desprezo, preconceito ou negação de direitos.

Recentemente, o Papa Francisco esteve no Egito e repetiu o lindo gesto de Francisco de Assis, que reconheceu humanidade e fraternidade nos povos mulçumanos. Este século pede isso: Tolerância, Respeito, Humanidade. Somos todos migrantes neste grande mundo – casa comum – e nossa definitividade não são as fronteiras dos países, bandeiras, línguas. Somos cidadãs no mundo a caminho do Reino conquistado por Jesus, nosso Senhor.

Estes comportamentos ditados por Francisco de Assis indicam as duas linhas mestras de seu pensamento: a da presença e a do testemunho. Não é o caminho da imposição, mas o da contaminação. Francisco era um homem de paz: o que ele sonhava, o demonstrou com a vida e em todos os modos, chegando até o Sultão e anunciando a ele a paz de Cristo, que não é aquela que o mundo dá. Não estava ali somente pelo Sultão, mas também pelos cruzados, que tinham uma extrema necessidade de exemplos de vida cristã. Presença e testemunho: estas as límpidas linhas espirituais e históricas de um gesto que não abre caminho para mal-entendidos. Caso se saia destas concretas e claríssimas coordenadas interpretativas se fará somente conversações inúteis.

E é por este caminho que se move agora o Papa Francisco. Uma viagem que desperta a máxima atenção da família franciscana. Este encontro abre simbolicamente os 800 anos de aniversário do aperto de mão, do abraço entre cristãos e muçulmanos (1219 – 2019). Um encontro que parece calar-se, infelizmente, em uma “nova Idade Média”, em que se cortam cabeças e se combate em nome de Deus. Nós não queremos cair de novo na Idade Média, mas queremos abrir as portas e percorrer os caminhos ancorados no diálogo e no respeito recíproco.

Que Jesus, que com sua Família de Nazaré, foi migrante, nos ajude a compreender que somos todos irmãos e irmãs e, exemplando-nos em Francisco de Assis possamos reconhecer as “sementes do Verbo” em cada cultura. À seu coração, PAZ E BEM!

Frei Paulo Roberto – OFM Cap.

Fábio Fabrício Pereira da Silva (Vice Coordenador do Grupo Amigos e Amigas de Francisco e Clara. Encontro todo 4º domingo do mês na Paróquia Santa Inês, às 07:00 horas

fabriciofabio@hotmail.com

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