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Sede de poder!

O conceito grego de política buscava como esfera de realização o bem comum da cidade (a pólis). Por sua vez, o conceito moderno de política, no dizer de Norberto Bobbio (1909-2004) está estreitamente ligado ao poder. O julgamento de Bobbio adquire forças no pensamento de cientistas políticos da atualidade. Segundo os quais, a política é o processo de formação, distribuição e EXERCÍCIO DO PODER. Exerce o poder quem tem mais poder, principalmente de manipular, cooptar, com “domínio” de barganha ou transação fraudulenta ou, ainda, trapaça. Fato notório e insofismável no parlamento brasileiro. Para não falar, é claro, nos porões ou entranhas dos partidos políticos e seus acordos espúrios. Fecha pano!

A sede pelo poder público leva homens e mulheres a graus e atitudes extremamente egoístas e desonestas. Não interessam os meios, pois os fins justificam os meios, numa busca desenfreada pelo poder e realização pessoal (prazer) desmedidos, nem que para isso tenha que esfolar, trair antigos comparsas de paliçadas políticas. A propósito, já diziam os antigos, bom político é aquele que vende a própria mãe para chegar ao poder. É a sede gestatória de poder, ou TUDO PELO PODER!.

Do mesmo modo, talvez de forma mais aviltante, os partidos políticos tupiniquins, quase sem exceção, com linha “ideológica” extremamente pragmática, pois que seus mais dignos representantes, loucos por poder e protegidos pela memória curta do povão, fazem acordos espúrios e parcerias promíscuas como as que estamos testemunhando na presente hora, agravando essa situação caótica e desonesta, fomentando rivalidade entre as siglas. É uma corrida louca na busca desenfreada pela glória, uma vez que são presas fáceis dos “detentores do poder”. Nesse caso, não há dúvida, a atividade política está desmoralizada. Não há outro vocábulo mais adequado, pois que desmoralização é o termo que melhor se adéqua ao atual momento da vida pública brasileira. Corrupção, entre outras definições, é: podridão, devassidão, depravação, perversão, suborno e peita. Além ou aquém disso, temos a farsa e cinismo, perpassando a idéia, digo lorota, própria do Brasil, que o bom da democracia é que todos, indistintamente podem mentir.

Alias, mentiras advindas do poder público é o que não falta neste Brasil de dimensões continentais, com suas diferenças e grandes desigualdades regionais. Mentiras em cima de velhos clichês do tipo: “VAMOS RETOMAR O CRESCIMENTO!” Uma bazófia ou mesmice que os políticos vivem, de Norte a Sul, a reverberar como se o povo fosse totalmente idiota. É certo que grande parte da nação está idiotizada.

Em dias idos o renomado jurista e cientista político Afonso Arinos (1905-1990) numa de suas famosas conferências sobre o pensamento político e a reconstrução da democracia no Brasil, dizia que não haverá paz e progresso autênticos sem o restabelecimento das normas éticas no trato dos negócios públicos nacionais e internacionais; sem a restauração das liberdades fundamentais cívicas e privadas, do homem e do cidadão; sem a restituição da legalidade aos poderes políticos; sem o banimento, tanto quanto possível, da corrupção e da violência nos negócios entre o Estado e o cidadão.

Francisco Assis dos Santos, Pesquisador bibliográfico em humanidades
E-mail: assisprof@yahoo.com.br

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