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No Acre, pesquisadores divulgam fotos de macaco raro não visto por cientistas há 80 anos

No Acre, pesquisadores divulgam fotos de macaco raro não visto por cientistas há 80 anos

Após pouco mais de 3 meses, uma expedição que iniciou em fevereiro deste ano, divulgou fotos inéditas de uma espécie rara de macaco, o parauacu, mais conhecido como macaco voador. O parauacu, da espécie Pithecia vanzolinii, teve seu único relato científico em 1930. Desde então, a espécie nunca mais foi vista nem estudada pela ciência.

Porém, uma expedição foi iniciada no Acre em fevereiro para encontrar vestígios do animal. A ideia era comprovar a existência ou a extinção da espécie. Nomeada como Houseboat Amazon, a expedição percorreu três rios do Alto Juruá: rios Gregório, Liberdade e Eiru.

A expedição foi ideia da PhD Laura Marsh. Ela passou dez anos estudando em 17 países sobre a espécie do macaco voador. A primatóloga diz que a espécie só é encontrado nesta região. “O objetivo da expedição começou com a ideia de encontrar o macaco desaparecido, só que, desde o início, já sabíamos que a expedição seria grande e resolvemos fazer um levantamento dos animais encontrados”, disse.

A expedição foi uma parceria entre diversas instituições. As principais são Global Conservation Institute (EUA) e o Instituto Mamirauá no Brasil, além do Incra e pesquisadores de Universidades. Ao todo,17 pessoas fizeram parte da expedição, entre biólogos, pesquisadores, primatólogos, pesquisadores e equipe de apoio. Três era dos Estados Unidos, dois do México, um da Colômbia e o resto é brasileiro. O grupo saiu para a expedição dia 1 de fevereiro e retornaram dia 6 de maio.

A primatóloga conta que o macaco foi encontrado em comunidades de todos os rios em habitat natural e também como animais de estimação de ribeirinhos. “Eles foram encontrados nas duas situações. Tanto nas árvores, como nas casas. Outros primatas maiores são caçados e vendidos como animais de estimação. Infelizmente, há essa cultura na região”, explica.

 Informações da espécie – O estudo deixou claro algumas informações sobre o animal, que não tinha relatos científicos há 80 anos. Os dados são importantes para traçar o perfil do macaco.

“Eles são bem parecidos com os parauacu de outras espécies. Tem hábitos diurnos, utilizam o maior extrato da floresta e estão sempre no alto das árvores em cerca de 20 a 30 metros de altura”, explica a bióloga Lislei Gomes, do Instituto Mamirauá.

Eles se agrupam normalmente em 4 e são predadores de sementes. Os pesquisadores também puderam coletar informações sobre a reprodução da espécie. “Conseguimos observar muitos filhotes. Então, acreditamos que alguns meses antes seja a época de reprodução deles. E um dado importante é que eles são consumidos pelas comunidades como alimento”, destaca Lislei.

Outro fator crucial para o mapeamento dessa espécie foi a parceria com as comunidades ribeirinhas do Alto Juruá. O ecólogo Alessandro Rocha, que acompanhava a equipe e coletava as principais informações. “Foi importante a participação das comunidades, porque não conhecíamos a área das pesquisas. Para eles, os macacos são permanentes o precisávamos do reconhecimento científico”, explica.

As espécies encontradas foram: parauacu (macaco voador), soim (sagui), guariba, macaco da noite, macaco aranha (macaco preto), zogue-zogue, cairara, macaco prego, macaco de cheiro (pita) e uacari.

 

Próximos passos – Com as informações coletadas, o grupo deve submeter um artigo científico para publicação em uma revista de conservação em Cambridge na Inglaterra. “Tivemos mais dados do que a ciência tinha em mais de 80 anos, porque as únicas informações foram coletadas em 1930, utilizando somente duas peles dos animais”, explica Lislei.

A bióloga diz ainda em agosto deste ano os dados devem ser apresentados no Congresso Brasileiro de Primatologia. A bióloga destaca ainda que é importante frisar que a espécie havia desaparecido para a ciência.

“É uma redescoberta de uma espécie perdida de Parauacu. Vamos apresentar os dados para a União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN), que é a entidade responsável por dizer quais espécies estão ameaçadas de extinção. E eles é que vão avaliar os riscos de extinção da espécie se há ou não”, esclarece.

 Relatórios – Além disso, um relatório deve ser entregue para as secretarias de Meio Ambiente do Acre e do Amazonas e também para o ICMbio, devido às espécies se encontrarem também em área de preservação ambiental. Será analisada também a necessidade de uma possível intervenção para a conservação da espécie, que é caçada e consumida na região.

Porém, a bióloga destaca que o estudo ainda precisa ser aprofundado, mas que formou-se com a expedição, uma base para novas pesquisas.

“A gente achou uma espécie que estava desaparecida há anos, isso já é uma coisa grandiosa. Estamos levando em consideração toda a dificuldade de fazer pesquisa na Amazônia. Existe uma dificuldade de acesso muito grande. A ciência no Brasil, a primatologia, não é valorizada, então o impacto está em provar a existência de uma espécie que ninguém tinha mais conhecimento. Aqui existem áreas que não foram estudadas, esse é o impacto. Estamos dando o ponta pé inicial para quem quer fazer pesquisa”, finaliza Lislei.

No Acre, pesquisadores divulgam fotos de macaco raro não visto por cientistas há 80 anos

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