Muito boa à ideia do governador Tião Viana de promover a cadeia produtiva da mandioca no Acre. É um elemento historicamente enraizado na cultura amazônica, tendo tudo para conquistar mercados internacionais com a diversificação de produtos. Nem preciso lembrar que Cruzeiro do Sul, em nosso estado, produz a melhor farinha do mundo.
Se a ideia vingar, poderemos, de cara, sonhar com o tucupi e a caiçuma conquistando as mais sofisticadas prateleiras. Penso em produtos bem acabados e bem lançados, com o registro “made in Acre” ou “Made in Amazônia”, para impressionar mesmo.
Há bem pouco tempo, o então deputado federal Fernando Melo, eleito pelo PT, andou trabalhando a mesma ideia, conseguindo realizar encontros regionais junto a grupos de pesquisa e a produtores de mandioca. Infelizmente, não teve fôlego para seguir em frente, em parte porque deixou que o marketing político pessoal prevalecesse. Logo, ele e a mandioca se eclipsaram!
Mas é melhor que o assunto seja tratado como programa de estado, com dimensões coletivas, envolvendo agricultores, ribeirinhos e indígenas, além do governo e do empresariado na produção. Os primeiros grupos são, afinal, quem vai apontar o que fazer de melhor com sua cultura amazônica centenária. Ou seja, cem anos antes da ciência e da tecnologia aparecerem, eles já desenvolviam alimentos, bebidas e sonhos com a mandioca.
Pessoalmente, adoro comer macaxeira (ou mandioca) cozida, acompanhada de café preto, na parte da tarde. Gosto também do bolo de macaxeira, da farinha de tapioca pra comer com açaí e, uma vez ou outra, experimentar a caiçuma. Também prefiro o purê de macaxeira ao feito com batata portuguesa.
Eu sei (já li sobre isso) que a Coca-Cola desenvolveu em Manaus um conservante extraído da mandioca que utiliza em seu produto. Sabe lá o que mais a empresa já descobriu e aplica em segredo empresarial! Afinal, os Estados Unidos dominam a biotecnologia no mundo faz tempo.
Não importa, podemos sempre usufruir melhor que os não amazônidas alguns sabores que só a cultura popular mantém. Quem conhece o açaí do Amapá, por exemplo, sabe que é muito melhor que aquele preparado no Acre, porque o povo de lá, que chamo de “povo das águas” (em vez de “povo da floresta”) tem o produto como opção alimentar e meio de vida. Sabe como extrair a polpa, como complementá-la na hora da refeição (pode ser acompanhada de camarão no bafo, pirarucu assado, farinha de tapioca etc.) e, sobretudo, como tratá-la com higiene e como não deixá-la azedar.
Só lamento que as pessoas responsáveis pela produção e consumo do açaí no Acre não tenham procurado os amapaenses (ou paraenses) para aprenderem a lidar melhor com o produto. Na cidade de Macapá, capital do Amapá, que é do tamanho de Rio Branco, existe mais de 1.200 amassadeiras que funcionam diariamente, das 11 às 15 horas, vendendo polpa de açaí diretamente aos consumidores, numa tradição que não se esgota.
*Elson Martins