*Família de Bruno diz que sabia do contrato, mas mãe alega que livros não são ‘jogada de marketing”
Um pouco mais de dois meses após o desaparecimento do acreano Bruno Borges mexer com a imaginação de milhões de pessoas no Brasil e no mundo todo e levantar muitas questões, a Polícia Civil do Acre chegou a mais um episódio. Nesta quarta-feira, 31, um dos amigos do jovem, Marcelo Ferreira, foi preso e, junto com ele, a polícia teve acesso a contratos e conversas no WhatsApp.
De acordo com o delegado Alcino Loureiro Junior, responsável pela divulgação dos contratos à imprensa, a polícia acredita que o caso esteja relacionado a uma jogada de marketing.
O documento intitulado de “Contrato de sociedade no projeto Enzo com o lançamento de 14 obras” trás uma cláusula que determina o benefício de 15% do faturamento bruto do projeto e das 14 literaturas iniciais aos envolvidos.
Alcino afirma que foram feitos três contratos distintos. Dois com os amigos Marcelo Ferreira e Márcio Gaiote, e um com o primo Eduardo Veloso, que foi quem emprestou R$ 20 mil para o projeto de Bruno.
Marcelo Ferreira foi conduzido coercitivamente para ser ouvido novamente por conta do falso testemunho. Além disso, pesou contra o rapaz o fato de ele ter sido pego com cigarros de maconha em casa. No ato, a polícia teve acesso ao celular do jovem. Conversas entre ele e Márcio foram encontradas.
“Do Eduardo eu não posso falar. Mas quem sabia que o sumiço de Bruno ia dar esse ibope todo para a divulgação e depois a publicação das obras? Quem sabia disso? A polícia hoje trabalha com a hipótese do Marcelo e do Márcio, porque além do contrato que tinha com os dois, em conversa por WhatsApp, eles acabam dizendo que vão ficar ricos, devido à repercussão nacional”.
O delegado confirma que a família sabia do contrato, inclusive o informou. Contudo, ele não acredita que os pais e os irmãos de Bruno soubessem de algum plano midiático. “A família foi muito chocada para a delegacia, colaborou com as investigações e estava muito preocupara com o desaparecimento do Bruno. Ela podia saber da questão do contrato, mas não que o desaparecimento tivesse a ver com isso”, declara.
“Os livros não são uma jogada de marketing”, desabafa mãe de Bruno
A mãe de Bruno, Denise Borges, em sua página no Facebook, alegou que a família sabia do contrato. “Me tranquei no quarto sem comer, sem dormir e sem falar para que eu pudesse assimilar bem o conteúdo destes livros e saber onde Bruno queria chegar ou o que ele queria passar. Então eu digo com respeito a todos que os livros não são uma jogada de marketing. Hoje penso com certeza que Bruno deixou ali naquele quarto, que tanto me assustava e agora não mais, um grande legado. É riquíssima a obra dele. Peço respeito pois estou falando com propriedade. Sempre fui uma pessoa que devorou livros e realmente posso fazer esta análise. Os contratos existem sim e nós já sabíamos. Aliás, sabemos muitas coisas que ninguém sabe, como exemplo o conteúdo de livros que não foram e nem serão divulgados por mim. (…) Sempre fomos de família integra, honesta, religiosa e não estamos habituados a devastar a vida das pessoas. Meus filhos vieram desta família e são trabalhadores, humanos, íntegros e honestos. Todos sabem disto”.
A irmã de Bruno, Gabriela Borges, também rebateu as acusações sobre o desaparecimento estar relacionado a um plano midiático para enriquecer o jovem. “Desde o dia do desaparecimento soubemos do contrato, e isso nunca nos disse muita coisa a respeito. Até porque, para que os planos do Bruno dêem certo, ele precisa de dinheiro. Afinal, não dá pra construir hospitais e ajudar quem precisa só com amor no coração. Então nem comecem com nehnhenhe! Qual o problema ele fazer contrato para ajudar amigos que o ajudaram? O problema é que sempre tentam encontrar um meio pra denegrir a imagem de alguém de bem”.
Gabriela encerra o desabafo afirmando que em breve o primeiro livro de Bruno Borges será lançado.
O quarto
Bruno Borges desapareceu no dia 27 de março. Antes de tomar rumo desconhecido, a polícia acredita que o jovem estava cercado de duas pessoas mais frequentes na casa dele: os amigos Marcelo Ferreira e Márcio Gaiote.
De acordo com o delegado Alcino Loureiro Junior, Bruno teria tido ajuda de um amigo para fazer os símbolos nas paredes e teto do quarto. “Inclusive, um pernoitava, que é o Marcelo. O Márcio também sabia do projeto. Inclusive, auxiliaram ali no translado da estátua do Rivasplata para o quarto do Bruno. A cama e o raque foram levados para a casa do Márcio, enquanto ele morava aqui (Acre) ainda. No dia que o Bruno sumiu, por coincidência, o Marcelo reconhece o contrato em que dá direito a ele de 15% na venda dessas obras, uma vez publicadas”.
Alcino declara que a Polícia Civil está provando que existe um contrato de divulgação. “Aí mais uma razão para o Marcelo e o Márcio mentirem durante os primeiros depoimentos”.
Após notarem o sumiço de Bruno, a família entrou no quarto do rapaz e se deparou com um ambiente totalmente modificado. Ao invés da cama e do raque, havia uma estátua de 2 metros do filósofo Giordano Bruno, feita pelo artista peruano Rivasplata. Nas paredes e teto vários símbolos codificados.
Denise Borges fez um Boletim de Ocorrência sobre o desaparecimento da cama e do raque do quarto de Bruno. Por meio de uma amiga do filho, Denise soube que os móveis estavam na casa de Márcio Gaiote, que atualmente não mora mais no Acre. Ele se mudou para Vitória da Conquista, na Bahia.
“A menos que o Bruno apareça e diga que deu os objetos para os amigos, a polícia vai trabalhar com a hipótese de furto”, aponta o Alcino.
Os amigos
Apesar das provas encontradas até o momento, o delegado Alcino acredita que Marcelo e Márcio não sabem do paradeiro de Bruno. “Eles sabiam que o desaparecimento iria acontecer. Existe um contrato que fala em dois anos. É possível que ele (Bruno) fique exatamente esse período para poder fazer com que as obras sejam publicadas. São 14 livros. E aí depois ele apareça”.
A polícia avalia responsabilizar os dois amigos pelo crime de falso testemunho. “O Marcelo está aqui. Ele omitiu várias informações, não só o contrato, mas a questão da cama com o raque, onde eles inclusive foram comunicados pela mãe do Bruno como se tivessem furtado esse material. Para nós, da polícia, fica claro que o Márcio e o Marcelo estão surfando nessa onda para ganhar dinheiro também”.
Márcio Gaiote está em Vitória da Conquista. Ele vai ser comunicado para ser ouvido. Gaiote terá que depor em Rio Branco ou a polícia da Bahia irá colher o depoimento lá.
O vídeo
A primeira filmagem feita dentro do quarto do Bruno Borges, onde mostra a estátua do filósofo Bruno Giordano, os livros e as escrituras nas paredes, foi feita por uma amiga dele, confirma o delegado.
Na época, chegou-se a cogitar que membros da polícia teriam feito as imagens e vazado o vídeo na internet. Alcino desmente. “Eu tenho a declaração dela (amiga de Bruno) aqui. Ela entrou, filmou e divulgou. Essa divulgação ganhou todos os meios: nacional e internacional. Pelas imagens é possível ver que ela não gravou clandestinamente”.
Paradeiro de Bruno ainda é um mistério
Ainda que novas pistas tenham sido reveladas sobre o caso do desaparecimento de Bruno Borges, o paradeiro dele segue sendo um mistério para a família, amigos e polícia.
O delegado Alcino Loureiro Junior deixa claro que o sumiço de Bruno não está ligado a nenhum crime. “Da parte do Bruno não existe crime nenhum. E nem contra ele, que é a nossa principal preocupação inicial. Nós temos interesse em achar o Bruno, lógico que temos. Mas, hoje, a gente passa a ficar mais tranquilo quanto a outras circunstâncias, de não ser um sequestro, de não ter sido um homicídio ou algo diferente. Não vou descartar, mas as chances já são bem menores”.
Segundo Alcino, em 2013, Bruno teria recebido certa revelação. Ele passou a ouvir vozes. Desde então o jovem não parou de ler e de escrever. “Ele precisava trazer esse material e divulgar. Segundo o Marcelo, o Bruno em sim não queria nem dinheiro. Ele dizia que o mundo inteiro ia conhecê-lo. O Bruno não queria dinheiro. Era o estilo de vida dele”.