Em dias idos, enquanto fazia o trajeto aéreo Brasília/Rio Branco com escala em Porto Velho, no antigo 737-300 da Vasp, por uma dessas coincidências da vida, tive a agradável surpresa de assentar ao lado da então “Estrela” do Tchan Sheila Melo que se fazia acompanhar de sua assistente Núbia.
Feitas as apresentações devidas, próprias de pessoas civilizadas que permanecem juntas num mesmo recinto por determinado tempo, trocamos algumas “idéias”.
Não pude deixar de notar que a Sheila, ao longo de quase toda a “viagem”, fazia leitura, quase que ininterruptamente, dum livro de autoria de Paulo Coelho.
Núbia, mais próxima de mim, perguntou: Professor, o senhor tem lido ou gosta de ler Paulo Coelho (sic)? “Não! Foi a minha resposta!!” “Para usar de sinceridade, eu ainda não li uma só página de qualquer livro do “GURU” Paulo Coelho e suas panacéias, ou remédio universal para a alma humana”. Enfatizei!
Contudo, o importante é que a SHEILA MELO estava lendo, dirimindo assim uma impressão enganosa e preconceituosa que este escrevinhador fazia, naquela época, de algumas estrelas do mundo do saracoteio.
Em outra ocasião, quando de minha estada em Brasília, ouvindo um programa matinal duma rádio local, que entrevistava o jornalista Carlos Heitor Cony, sobre o fenômeno de venda dos livros de Paulo Coelho, suponho ter ouvido o Cony dizer que ainda não tinha lido nada de Paulo Coelho. É possível, por lapso de memória, que eu esteja confundindo o Paulo Coelho com o Augusto Cury, que também, andou vendendo milhares de exemplares, especialmente entre os “evangélicos.” Abro parêntese para dizer que este escritor (Cury) é outro que eu não consigo ler um só parágrafo de qualquer livro de sua autoria. A propósito desse sucesso do mencionado autor, José Mindlin (1914-2010) ilustre bibliófilo brasileiro, antes de morrer disse, numa de suas últimas entrevistas, que Paulo Coelho está para os livros ou venda de livros o que Edir Macedo está para a religião. Estava, pois hoje, Edir Macedo, diz ao mundo inteiro que é apenas “empresário.”
Outra prática, bem conhecida, nesse “prodígio” de “produzir” livros, é aquela em que alguns, diletantes e/ou aluados, põem na cabeça que seus escritos são a “solução” para os dilemas da existência humana. Lançam seus “escritos fenomenais” no mercado e se frustram, pois não vendem, uma vez que estão entre miríades de livros disponíveis no comércio prestando um total desserviço (mau serviço; prejuízo) às questões éticas relevantes. Há casos em que a família, ou algum padrinho, compra os livros, em surdina, e os entoca em algum porão sombrio, dando a entender que o tal “livro” é fenômeno de venda. Acho até, que já vi esse filme “N” vezes. Nesse caso, a frustração é dobrada!
Citei essas arengas, propositalmente, para nos interrogar sobre o que é um bom livro? A resposta é relativa, pois cada leitor tem sua preferência que vai da comédia aos grandes tratados científicos. Os escritos de Voltaire e Rousseau, por exemplo, apesar da contribuição significativa para o pensamento da época em que viveram, com reflexos expressivos até os dias de hoje, principalmente este último que defendia um “retorno à natureza” para combater a desigualdade causada pela sociedade civilizada; contudo, na ótica dos cristãos, tais autores com seus livros fizeram um grande mal à França.
Todavia, muitos são os bons motivos, porque devemos ler exaustivamente: Quem lê, alguém já disse, sabe mais; pensa melhor, compara idéias; tem o que falar; tem o que responder; fundamenta suas opiniões; aumenta sua compreensão; melhora seu vocabulário; tem mais chances no mercado competitivo e exigente do mundo moderno; absorve experiência e sabe o que está acontecendo pelo mundo afora.
No meu caso particular, não abro mão dos meus alfarrábios. Para um ou outro desavisado, alfarrábios são livros de pouco préstimo, usados, antigos, etc. Gosto dos meus. Não consigo ler de forma acurada fora do livro impresso em papel. COSTUME antigo!
Francisco Assis dos Santos, Pesquisador bibliográfico em Humanidades. E-mail: [email protected]