Caro leitor (a) do jornal A GAZETA! Paz e Bem! Neste mês, gostaria de partilhar com você um aspecto da mística franciscana, que iluminou a vida de nosso pai São Francisco, nossa mãe Santa Clara, os santos e santas de nossa Ordem. E continua sendo, um dos alicerces de nossa busca de Deus: o seguimento a Jesus Cristo, pobre e crucificado.
Seguir Jesus Cristo, a exemplo de São Francisco, talvez signifique em primeiro lugar, entrar e crescer naquele processo que São Paulo já recomendava aos Efésios: “Se é que o ouvistes e n’Ele fostes instruídos conforme é a verdade de Jesus, devereis abandonar a vossa antiga conduta e vos despojar do homem velho, corrompido por concupiscências enganosas, para uma transformação espiritual de vossa mentalidade, e revestir-vos do homem novo, criado segundo Deus em justiça e verdadeira santidade (Efésios 4,21-24). Seguir Jesus Cristo, segundo São Paulo, é, portanto, entrar e perseverar num processo de morte contínua ao velho homem, para, sempre de novo, renascer à nova criatura, ao novo Adão, que é Jesus Cristo, e cujos traços fisionômicos estão gravados em nosso interior, desde a eternidade. A luta de Paulo sempre foi não voltar a ser Saulo.
Para São Francisco, Santa Clara e para os antigos companheiros destes nossos fundadores, a razão de todo o seu ser e viver foi, sempre, a imitação de Cristo, pobre e crucificado; a conformidade com o Senhor da Cruz. Em certo sentido, este processo de morte já se inicia nas primeiras tentativas de respostas ao chamado do Senhor. Intensifica-se, depois, ao ingressarmos na Ordem Franciscana. Aqui, no início da formação, morrer ao velho homem e nascer para Jesus Cristo, significa, antes de qualquer coisa e acima de tudo, propor-se, decidida e radicalmente, a deixar para trás todo um conjunto de valores, ideias, hábitos e projetos que, embora nobres, importantes e altamente humanistas, não são e não pertencem à inspiração originária de São Francisco: deixar para trás seus próprios sentimentos e vontade própria; renunciar e deixar para trás pessoas amigas e do próprio sangue; e, acima de tudo, deixar para trás a si mesmo e morrer ao seu próprio eu.
Tudo isso, porém, ainda não será seguir Jesus Cristo, se nesta morte não estiver presente a firme decisão de se abraçar todos os valores, hábitos, ideias evangélicas; de revestir-se, sempre melhor e mais profundamente, dos sentimentos, da vontade e da própria pessoa de Cristo, pobre e crucificado, na inspiração de São Francisco. Mais adiante, quando já professos na vida franciscana, este processo de imitação e de conformidade com Jesus Cristo talvez possa ser expresso com a palavra hoje muito em voga: RENOVAÇÃO. Entender a nossa formação franciscana como entrar e crescer num processo de renovação; “numa vida”, como ensinou nosso pai São Francisco, porém, não significa simplesmente ter a vontade e o esforço de se mudar coisas, nem mesmo quando essas coisas se chamam hábitos, gestos ou atitudes.
Renovação, aqui, é entendida e procurada como um processo de contínuo retorno à pureza ao frescor do vigor originário de nossa vocação franciscana. Renovar-se, segundo este sentido, não é apenas ter aptidão de se abrir às coisas novas ou aos jovens. É, antes, o empenho de exercitar-se, sempre de novo, todos os dias, na capacidade de abrir-se às coisas novas da Igreja e do Mundo, como, por exemplo, às novas teologias, novas pastorais, aos avanços científicos e tecnológicos que a civilização moderna nos oferece, mas sempre dentro e a partir daquela raiz que move toda a nossa busca de conformar-se com Cristo pobre e crucificado.
Renovar-se é, então, o empenho de exercitar-se, na sensibilidade e na capacidade, de abrir-se, sempre de novo, de maneira novas, ao vigor renovador do nosso ponto de partida, do frescor recriador do toque do primeiro amor. Renovar-se é amar o Senhor de todo o coração, de toda a alma e mente, de todo o vigor e ter em “ódio” seu corpo, com vícios e pecados, para receber o Santíssimo Corpo do Senhor.
Neste sentido, amar é crescer na felicidade e na exultação grata e reconhecida, por ter sido eleito e escolhido por Deus num amor de predileção; é seguir este Senhor com a vitalidade de uma criança, com a pujança de um jovem, com a responsabilidade de um adulto, na concentração plena de todas as forças e aptidões florescidas e conquistadas na experiência da própria caminhada de conformar-se com Cristo pobre e crucificado.
Oremos e vigiemos para não cairmos no mal de abandonarmos o caminho iniciado. E não progredirmos no conhecimento de Jesus Cristo. Com São Francisco, comecemos de novo, de modo firme e, a nossa peregrinação rumo à casa do Pai; realizando as atividades de cada dia com amor e dedicação.
Frei Paulo Roberto, Ordem dos Frades Menores Capuchinhos – OFM Cap.
Pároco da Paróquia de Bom Jesus do Abunã em Plácido de Castro – Acre.
Assistente Espiritual do Núcleo em Formação da Fraternidade da Ordem Franciscana Secular – OFS, encontro todo 4º Domingo do mês na Paróquia Santa Inês, às 07h00.