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Acreana cria rede social para mostrar rotina de filho com síndromes raras

Acreana cria rede social para mostrar rotina de filho com síndromes raras

 A arquiteta Diana Bastos, 27 anos, optou ser mãe em tempo integral após a chegada do pequeno Rafael Henrique, de 1 ano e 2 meses. Diagnosticado com Síndrome de Moebius e variação de Dandy Walker, a criança tem feito sucesso no Instagram @fantasticomundodorafa com suas fotos fofas.

A ideia de criar a rede social surgiu após uma campanha para arrecadar fundos para a compra de um monitor de batimentos cardíacos que custava cerca de R$ 20 mil. Rafael ainda estava no hospital e, por falta de estrutura, necessitava de acompanhamento médico em casa, além de aparelhos específicos.

“Minha tia começou a campanha numa noite e no dia seguinte já tinha ganhado bastante repercussão. Todos empenhados a nos ajudar. Foi muito lindo. Até hoje me emociono quando lembro do que fizeram pelo meu filho. Amigos e colegas de profissão que eu jamais imaginaria, nos prestando solidariedade. No grupo de WhatsApp dos arquitetos da cidade, todos se mobilizaram até conseguir fechar a cota. E em menos de 1 semana, já tínhamos atingido o valor necessário para comprar o aparelho. Foi a partir dessa mobilização que decidi, que depois que o Rafa recebesse alta do hospital, eu criaria um blog para que todos pudessem acompanhar o desenvolvimento dele. Como se fosse uma prestação de contas às pessoas que nos ajudaram para que pudessem ver que não tinha sido em vão”.

A princípio, a mãe desejava criar um blog, mas sem saber se conseguiria mantê-lo atualizado, preferiu a rede social Instagram. O objetivo é compartilhar a rotina e as descobertas diárias em relação às doenças pouco conhecidas.

“As síndromes que o Rafa tem são raras e com pouca informação. A cada dia aprendemos algo novo. Muita coisa da literatura não funciona com o Rafa e temos que aprender e nos adaptar. Com a criação do Instagram, minha experiência pode chegar a outras famílias que, assim como eu, estão passando por isso e de alguma forma eu possa ajudar compartilhando um pouco de informação e mostrando que não é nenhum bicho de sete cabeças”, relatou.

O feedback dos seguidores é imediato. A mãe costuma receber mensagens de apoio e agradecimento pelo fato de compartilhar um pouco da rotina da família.

“É muito legal e gratificante. As pessoas torcem pelo desenvolvimento e por cada nova conquista do Rafa. Os familiares e amigos também acompanham com muito entusiasmo e eu me sinto muito grata por tudo que eles fizeram e continuam a fazer pelo meu filho. Poder compartilhar a evolução do Rafa com eles é uma forma de agradecimento por toda a ajuda espiritual e material que tivemos”.

Uma história de amor

Quem acompanha a rede social do pequeno Rafael não imagina o quanto Diana e o esposo, Henrique, lutaram pela vida do filho desde a gestação. A gravidez inesperada aconteceu no final de um tratamento para espinha que a jovem fazia. Qual o problema? Engravidar era a principal contraindicação do medicamento.

A chance de o bebê sobreviver era de apenas 1%, segundo os médicos. A arquiteta foi orientada a buscar na Justiça a autorização para o aborto. “Eu estava desesperada. Sem chão. Mesmo com o sentimento de não querer ser mãe e de achar que a minha vida tinha acabado, na época, no momento que sugeriram o aborto, perdi o chão. Não sou contra o aborto, mas eu não o faria. Não conseguia lidar só com a ideia do aborto, imagina realizá-lo. Se meu filho tivesse que morrer, que fosse de forma natural, e não por uma decisão minha. E quando ouvi o coração dele pela primeira vez, foi então que eu tive mais certeza, dentre todas as incertezas, que seria essa gestação e essa criança que eu jamais abortaria”.

Mesmo com poucas chances de vida, o casal decidiu manter a gestação. Foram vários dias de exames, pré-natal, acompanhamento médico, até o nascimento de Rafa. Mãe e filho ficaram no hospital por mais de três meses, entre UTI e enfermarias, em busca de respostas. Pouco tempo após deixar o hospital, a família decidiu morar numa cidade que oferecesse tratamento adequado para o pequeno, mudando-se para Florianópolis/SC.

“O Rafa é uma criança que tem que aprender tudo. Teve que aprender a respirar, tem que aprender a sugar, deglutir, mastigar, rolar, sentar… Todos os extintos que crianças ‘normais’ nascem sabendo, para o Rafa tem que ser ensinado. O processo de adaptação mais difícil foi comigo mesma. Primeiro, me aceitar como mãe, depois como esposa e depois morar em um lugar onde eu não me reconhecia”.

Apesar de ser portador de síndromes raras, que afetam seu desenvolvimento motor, movimentação ocular, entre outros, o pequeno leva uma vida como qualquer criança da sua idade. A rotina de Rafa se divide em fisioterapia, fonoaudiologia, nutricionista, geneticista, osteopatia, neurologista, terapia ocupacional. Ele também recebe acompanhamento motor e cognitivo pela Apae de Florianópolis.

“O que difere do Rafa para as demais crianças é a maneira de comer e a rotina intensa de terapias. Mas o tratamos como uma criança normal. A alimentação dele não é nenhuma alimentação especial. Ele come tudo que outras crianças nessa idade têm que comer. Não tenho nenhum cuidado exacerbado com ele. Nada de exageros e restrições. Exponho ele a tudo, para evitar alergias, etc. Em 1 ano e 2 meses, a primeira vez que ele gripou foi duas semanas atrás, devido à chegada do inverno”.

Difícil é não se emocionar com as palavras de amor da mãe, que luta diariamente pela melhora da qualidade de vida do filho. “Ele é especial por nos fazer enxergar a vida e o mundo de outra maneira. Nos ensinou o sentido de amar e de nos reinventar. Ele é especial na maneira de perceber o mundo e de nos demonstrar isso. Ele é especial porque é nosso filho, e todo filho é especial para os pais. Ele é especial por ser tão amado por todos e também por ser tão forte e tão inteligente. Ele é especial por ser abençoado e por ser uma benção em nossas vidas. Ele é especial por ser especial!”.

Sobre a Síndrome de Dandy Walker e Moebius

A síndrome de Dandy Walker, também chamada de complexo de Dandy Walker, consiste em uma malformação cerebral congênita que acomete o cerebelo e os espaços repletos de líquido circunvizinhos a ele. Sua incidência é de 1 indivíduo em cada 25.000 a 35.000 nascidos vivos, acometendo ambos os sexos.

Já a síndrome de Moebius, consiste em um raro distúrbio neurológico complexo, caracterizado por paralisia não progressiva dos nervos cranianos VII e VI, tipicamente bilateral, resultando pouca expressividade facial e estrabismo convergente.

Acreana cria rede social para mostrar rotina de filho com síndromes raras
Diana Bastos, 27 anos, e o o pequeno Rafael Henrique

Acreana cria rede social para mostrar rotina de filho com síndromes raras

Acreana cria rede social para mostrar rotina de filho com síndromes raras
Rafael foi diagnosticado com Síndrome de Moebius e variação de Dandy Walker
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