O comandante do 4º Batalhão de Infantaria de Selva (4º Bis), coronel Wellington Valone Barbosa, tinha agendado uma conversa com o subtenente Márcio Augusto de Brito Borges, para esta sexta-feira, 28. Borges e a esposa, a ex-sargento Claudinéia da Silva Borges, foram encontrados mortos, em uma das casas localizadas na Vila Militar, no Bosque, onde há 3 dias a filha única do casal, Bruna Andressa Borges, de 19 anos, se suicidou e transmitiu ao vivo o ato por uma rede social.
Segundo o coronel, o casal teria se enforcado, assim como Bruna. Após a morte da filha, o subtenente recebeu acompanhamento de uma equipe multidisciplinar do Exército composta por um capelão, assistente social e colegas de trabalho. E na manhã desta sexta, 28, durante conversa com o capelão militar, ele teria mostrado tranquilidade.
“Foi uma conversa que o tranquilizou muito. Ele parecia estar muito tranquilo, calmo e fazendo planos para o dia de hoje e de amanhã. Inclusive, eu tinha marcado uma conversa pra hoje à tarde e, provavelmente, essa conversa iria acontecer. Ou seja, não havia indícios que esse fato iria ocorrer.”
Claudinéia teria ligado para um primo minutos antes da tragédia, dando sinais de que atentaria contra própria vida. Por isso, ele teria acionado a Polícia Militar que constatou o fato ao chegar ao local.
Sobre os boatos de que o subtenente teria culpado e ameaçado o namorado de Bruna pela sua morte, Valone diz não ter conhecimento sobre a informação. Porém, Borges teria dito a seguinte frase ao capelão: “Coitado do garoto. Ele não tem nada a ver com isso”.
Valone lamenta o ocorrido e lembra que, apesar de ser uma pessoa reservada, Borges era um profissional de excelência. “Ele era admirado por companheiros e superiores. Tinha uma capacidade de trabalho muito grande, um preparo físico excelente, ou seja, um militar exemplar. Foi uma surpresa muito desagradável e trágica para todos nós”.
Natural de Belém (PA), o subtenente servia ao Exército há 28 anos. Já a ex-sargento Claudinéia, natural do município de Brasiléia, trabalhou durante oito anos como auxiliar de saúde, no posto médico do 4º Bis. Ela pediu desligamento da corporação em março deste ano.
A família da ex-sargento está a caminho da capital acreana para realizar os procedimentos necessários. O corpo do subtenente deve ser translado para sua cidade natal, segundo o Exército.
O Exército deve instaurar uma sindicância para apurar o ocorrido. O prazo de conclusão do processo administrativo é de até 20 dias úteis. “Esperamos que no mais curto prazo nós tenhamos uma solução, que é baseada em documentos produzidos, principalmente, pela Polícia Civil. A principal peça é o inquérito policial baseado na perícia”.
CARTA DE DESPEDIDA – O coronel acrescenta que a polícia encontrou uma carta de despedida em que o casal explica os motivos para tal ato. A polícia ainda não divulgou o conteúdo da carta.
PREVENÇÃO – Ainda segundo Valone, o Exército trabalha com ações preventivas ao suicídio e instrui, sobretudo, os oficiais a identificar sintomas que possam motivar tal ato.
COMOÇÃO – A tragédia com a família comoveu milhares de internautas acreanos, que, pouco tempo após o ocorrido, publicaram mensagens de apoio à família e amigos. Hoje, o Acre está em luto.
“Meu coração está de luto. Que tragédia em nossa cidade. Estou muito triste. Que Deus console os familiares e amigos. Mais amor e mais políticas públicas de combate ao suicídio”, escreveu uma internauta.
Outra pessoa diz que não conseguiu conter as lágrimas ao saber do ocorrido. “Só peço que Deus com sua enorme generosidade entenda o que esses pais fizeram, e que dê o consolo necessário a todos os familiares. Não conheço nenhum dos envolvidos e nenhum familiar, mas não tem como não se comover com uma tragédia dessas tão grande”.
Fenômeno mundial
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 804 mil pessoas tenham se suicidado no mundo em 2012, último ano em que os dados internacionais foram totalizados, segundo o livro “Viver é a melhor opção”, do autor André Trigueiro. São mais de 2.020 casos consumados por dia, um a cada 40 segundos.
Em números absolutos, ocorreu uma queda de aproximadamente 9% entre 2000 e 2012. Apesar da pequena redução, a OMS considera o suicídio caso de saúde pública. “Cada suicídio é uma tragédia pessoal que leva prematuramente uma vida, tem uma onda expansiva contínua e afeta enormemente a vida de familiares, amigos e da comunidade”, diz o último relatório divulgado.
O documento aponta que o suicídio representa 1,4% de todas as mortes no mundo. As maiores taxas de suicídio costumam ocorrer entre pessoas idosas, com 70 anos de idade ou mais. Porém, apesar dos idosos liderarem as taxas, registra-se maior incidência de suicídios entre jovens em algumas regiões. Na faixa etária entre 15 e 29 anos de idade, o suicídio responde por 8,5% das mortes em todo o mundo.
No mundo, a taxa média é de 11,4 mortes por 100 mil habitantes, já no Brasil o índice cai para 5,8 mortes por 100 mil habitantes.
Ainda de acordo com a OMS, para cada pessoa que consegue se suicidar, mais de 20 tentam se matar sem sucesso uma ou mais vezes. Há uma tentativa a cada 2 segundos. A Organização afirma que o principal fator de risco é a primeira tentativa de suicídio porque a probabilidade de tentar novamente é alta.