As mudanças no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), apesar de terem sido anunciadas em maio deste ano, ainda é assunto entre os candidatos. Em Rio Branco, a maioria dos estudantes consideram positivas as alterações.
Este ano as provas serão aplicadas em dois domingos, nos dias 5 e 12 de novembro, e não mais em um único fim de semana. Outra novidade é a prova de redação, que será no primeiro dia, junto com as questões de linguagens e ciências humanas. Já o segundo dia de provas será de exatas, com matemática e ciências da natureza. O resultado final do exame será divulgado no dia 19 de janeiro de 2018.
Essa é a segunda vez que a jovem Vitória Guimarães, 18 anos, vai fazer o exame. Ela pretende cursar Medicina Veterinária e conta que a rotina de estudos é intensa. No período da manhã, a jovem cursa o 3º ano do Ensino Médio. Na parte da tarde, revisa matérias importantes e à noite faz cursinho preparatório.
Guimarães considera “justa” as mudanças, sobretudo para os estudantes que seguem religiões sabatistas, que guardam os sábados para descanso e oração. Para ela, o fato de esperar uma semana para fazer a segunda prova aumenta a ansiedade.
“Sobre a redação, eu gostei que tenha mudado para o primeiro dia. Assim não dá tanta curiosidade para saber qual será o tão esperado tema”.
Aquele frio na barriga de nervoso é comum entre os candidatos ao exame. A expectativa de alcançar uma nota suficiente para entrar nas vagas do curso pretendido sempre é grande.
“Sempre fico pensando que já está chegando e preciso me dedicar mais ou estudar mais. Sempre rola aquela dúvida se vou ou não passar e isso me deixa bastante aflita, mas procuro me tranquilizar pensando que sempre haverá novas oportunidades e pra sempre continuarei tentando”.
A estudante Emanuelle Hillem, 17 anos, quer cursar Direito. Segundo a jovem, as mudanças foram bem aceitas entre os amigos. Ela acredita que, com a mudança de data, os estudantes terão mais tempo para descansar e se preparar entre uma prova e outra.
“Vamos ter mais tempo para revisar e nos preparar melhor. Estou com uma grande expectativa. Espero muito conseguir um bom resultado”, disse.
A jovem Gabrielle da Silva, 17 anos, vai fazer o exame pela segunda vez e diz que as novidades não devem influenciar na hora de fazer a prova. “Com o Enem cada vez mais perto, fica difícil pensar em outra coisa a não ser isso. A pressão é muito grande e o medo de falhar já virou rotina. Pensamentos positivos e apoio da família são muito bem vindos”.
Já para o estudante Luan de Souza, 16 anos, as mudanças devem ajudar porque os candidatos terão uma semana para se recuperar do cansaço do primeiro dia de exame. “Fica cansativo fazer dois dias de provas seguidos. É positivo porque o aluno pode descansar, mas pode ser negativo porque aumenta a ansiedade e tensão, e a pressão de ir bem”.
Entenda as principais mudanças do Enem 2017
Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o Enem 2017 tem 6,7 milhões de inscrições confirmadas. O número de inscritos que confirmaram participação por meio de pagamento da taxa é o menor desde 2013, quando foram contabilizados 7,2 milhões de inscrições. Em 2016, o Inep registrou 8,6 milhões de participantes no exame.
O Inep ainda não divulgou o número de inscritos por Estado. No Acre, mais de 64 mil pessoas se inscreveram para o exame ano passado.
Em entrevista exclusiva ao A GAZETA, o coordenador de Ensino Fundamental 2 e Ensino Médio da Secretaria de Estado de Educação e Esporte (SEE), Wudson Chaves, explicou resumidamente todas as novidades do Enem 2017.
As provas serão aplicadas em dois domingos, 5 e 12 de novembro. O primeiro dia será dedicado para as provas de redação, linguagens, códigos e suas tecnologias, totalizando 5 horas e 30 minutos de duração. No segundo dia serão realizadas as provas de matemática e ciências da natureza e suas tecnologias, com duração de 4 horas e 30 minutos.
“Com a aplicação da prova em dois finais de semana tanto o desgaste físico, como o mental é diminuído. Os candidatos terão uma semana para se recuperar e mesmo que julguem ter tido um desempenho relativamente ruim, terão uma semana para se acalmar e repensar”.
Outra mudança é sobre a certificação para o Ensino Médio. A partir de agora, o Exame Nacional de Certificação de Jovens e Adultos (Encceja) volta a garantir o diploma de ensino médio e fundamental. “O Encceja tinha sido despotencializado pelo Enem ao longo dos tempos, sobretudo no ensino médio. É muito curioso porque ele é aplicado no Brasil, no exterior e para Pessoas Privadas de Liberdade (PPL)”.
Nesta edição apenas concluintes do ensino médio de escolas públicas e pessoas beneficiadas pelo CadUnico puderam solicitar a isenção da taxa de inscrição. Até 2016 a isenção era concedida por meio de autodeclaração. Os chamados treineros também foram impedidos de participar do exame.
E o que muda nos cadernos de questões? Por medida de segurança, os cadernos de prova passarão a ser personalizados, com nome e número de inscrição dos candidatos na capa, juntamente com os cartões de resposta encartados na prova.
“Agora há uma identificação nominal. Eu considero essa uma medida extremamente interessante porque o Enem é uma porta de ingresso no ensino superior. Quanto mais estreita a porta para fraude, melhor é”.
O coordenador destaca a mudança no resultado por escola, que divulgava as médias das notas dos estudantes separados pela escola que estudam. Com a mudança, o resultado deixa de servir de base para a criação de rankings que qualifica as escolas.
“As escolas são diferentes. Às vezes, elas estão na mesma rua, mas são feitas por pessoas distintas. Acho que essa comparação é justa para a família, que quer um indício que está levando o filho para uma boa escola. Essa também é uma mudança muito legal”.
Pela primeira vez, os estudantes surdos poderão ter acesso a vídeo com as questões do Enem traduzidas na Língua Brasileira de Sinais (Libras). Os participantes que optaram pela tradução no vídeo terão acesso a um tradutor por dupla de candidatos, além de salas adaptadas.
Vale ressaltar que as mudanças foram feitas com base na consulta pública realizada pelo Ministério da Educação (MEC). Cerca de 600 mil pessoas participaram da consulta, que ficou disponível no período de 18 de janeiro a 17 de fevereiro. Do total, 42,3% dos participantes disseram preferir a prova em dois domingos seguidos, apenas 23,6% optaram pela manutenção do formato até então vigente.
Escolas públicas preparam alunos para o exame
Sobre a metodologia utilizada pelos professores da rede pública, Wudson garante que esse é um trabalho contínuo da SEE, que através da capacitação dos professores alcança resultados satisfatórios em várias avaliações ao longo do ano.
“Esse ano já aplicamos mais de quinze cursos de formação continuada para professores, coordenadores e diretores. São cursos cuja maior preocupação são de natureza metodológica. Queremos que o professor melhore a qualidade da sua aula porque acreditamos que quando houver elevação da qualidade da aula naturalmente a qualidade da aprendizagem também é elevada”.
O coordenador diz que o Acre é o único estado da federação em que os avanços nos índices de Educação estão relacionados à qualidade do ensino. “Aqui, 65% da melhora na Educação tem sido em função do real crescimento de aprendizagem do aluno”, acrescentou.