X

Senador Jorge Viana destaca que governo ilegítimo agravou a crise vivida no país

“O Brasil não podia seguir convivendo com um sistema político partidário eleitoral que é sinônimo de abuso do poder econômico, que afronta o cidadão com essa gastança de dinheiro”. A frase é do senador Jorge Viana (PT-AC) ao comentar sobre a crise política e econômica na qual o Brasil vive atualmente.

Nesta primeira parte da entrevista ao jornal A GAZETA, o senador fez uma avaliação do momento e falou sobre como a denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB) pode agravar ainda mais a crise. Segundo ele, o atual governo perdeu o fôlego e prova do próprio veneno.

Ele trata ainda sobre as reformas do governo Temer, o arquivamento do processo contra Aécio Neves no Senado, as delações e a possível candidatura do ex-presidente Lula a Presidência da República em 2018.

Confira a primeira parte da entrevista:

A GAZETA – O Brasil enfrenta atualmente uma grave crise política e econômica. Muitos políticos envolvidos em escândalos de corrupção e reformas mal intencionadas. O que podemos esperar do futuro? Qual a sua avaliação desse momento?

Jorge Viana – Realmente estamos numa situação tão grave, do ponto de vista político, que teve reflexo na economia e na vida das pessoas. Cada um tem uma opinião sobre o que aconteceu, mas é impossível fazer uma avaliação do que acontecerá na semana que vem, muito menos do mês que vem. O que precisamos ter é consciência de que o momento requer o combate à corrupção. O Brasil não podia seguir convivendo com um sistema político partidário eleitoral que é sinônimo de abuso do poder econômico, que afronta o cidadão com essa gastança de dinheiro. Eu falo sempre que nosso sistema político eleitoral partidário é um remédio que perdeu a validade. Quando o remédio perde a validade ele já não cura a doença. E se usado depois de muito tempo, pode ser um veneno. É o que acontece no momento.

A GAZETA – A Lava jato tem conseguido cumprir esse papel?

  1. V. – Veja bem, considero importante a Lava Jato, independente de ter identificar em muitos excessos com relação a uma ação seletiva, mas é meritório combater a corrupção.

A GAZETA – Como ser um agente político em um período em que a sociedade está desacreditada da política?

  1. V – Não adianta alguém querer satanizar a política, pois, a boa política é um instrumento que a gente tem na democracia para fazer as boas mudanças, as transformações na vida das pessoas. A política faz com que tenhamos um mundo melhor para todos. No Brasil ainda existe políticos que estão interessados com o desenvolvimento desse país. O que precisamos é deixar para trás essa política corrompida. E aí não tem ninguém que não seja culpado. Temos orgulho da história que construímos. O PT tem uma história bonita, tem um legado de realizações fundamentais, por isso sempre falarmos com orgulho dele.

A GAZETA – Durante uma entrevista a Rádio Senado o senhor disse que a denúncia contra o Temer ‘tirava o fôlego do governo’. Até que ponto isso é prejudicial ao país?

  1. V – Eu acho que o governo Temer está provando do seu próprio veneno. Ele era o vice da presidente Dilma, foi eleito junto com ela e daí resolveu traí-la. Não estou aqui passando por cima dos erros dos nossos governos, especialmente, do segundo mandato da presidente Dilma. Eu mesmo não sei nem explicar porque ela foi candidata à reeleição. Talvez o certo ali fosse ter colocado ali o presidente Lula, que é o nosso maior líder político, onde teve um governo que mais fez por todos. Tem pensador que diz que uma grande democracia ela se sustenta pela lealdade daqueles que são minorias, que são oposição ao governo, a Constituição. A oposição foi desleal não com o governo da Dilma, nem com o PT, mas foram desleais com a democracia e com a Constituição. A consequência disso foi terrível. Uma crise econômica sem precedentes, muitas pessoas desempregadas, falência de empresários. O país está pagando um preço muito caro pela irresponsabilidade de alguns golpistas.

A GAZETA – Recentemente, em vídeo publicado nas redes sociais, o presidente Michel Temer comemorou a alta no PIB do primeiro trimestre deste ano.

  1. V – Veja bem, a inflação agora está pequena, mas ela está assim porque as pessoas não têm dinheiro para comprar. As empresas hoje estão sofrendo hoje porque não tem mais crédito para contratar ninguém e isso é muito ruim. O pior é que a conta está indo para os brasileiros. Aquelas pessoas mais pobres, com mais dificuldade é que estão pagando a conta dessa crise política e econômica.

A GAZETA – E quanto às propostas de reforma enviadas pelo governo. O Senhor tem se mostrado contrário, inclusive, defendeu que a apreciação das matérias fosse suspensa. Fale um pouco sobre isso.

  1. V – É fato que mesmo tendo experimentado um momento de muita prosperidade no governo Lula e no primeiro mandato da presidente Dilma, o Brasil precisa hoje de mudanças e reformas. Um governo que não tem nenhuma legitimidade resolve fazer reformas que não são aquelas que o Brasil precisa, são aquelas que o governo ilegítimo tem que fazer para se sustentar. É por isso que eu discordo da Reforma Trabalhista, Previdenciária e Tributária do jeito que eles falam. Ninguém fala em tributar as grandes fortunas, que o justo. Países dos EUA e da Europa fazem. Ninguém fala de fazer uma previdência onde possamos fazer com que a as aposentadorias sejam boas para todos. Ninguém fala em fazer uma Reforma Trabalhista que leve o Brasil para frente, que leve em conta a modernidade e a evolução tecnológica que vivemos.

A GAZETA – Então, o senhor defende uma reforma em outros moldes?

  1. V – O que precisamos é de uma modernização nas leis trabalhistas que facilite a vida de quem gerar emprego e de quem precisa trabalhar. Mas esta que está sendo feita é para tirar o pouco direito que as pessoas têm. O Congresso diz que as reformas não são mais do Temer, mas nossa. O pior de tudo é querer que o Senado vote do jeito que veio da Câmara. Como é que pode o Senado Federal não poder alterar um artigo, um parágrafo, um inciso de uma lei tão importante, que mexe com as famílias, mexe com a vida de todos os brasileiros. É por isso que sou contra. Sou favor de fazer uma simplificação das leis, uma atualização das leis para facilitar a vida dos empresários e dos trabalhadores.

A GAZETA – Senador, a decisão do Conselho de Ética em arquivar o processo contra Aécio Neves não desmoraliza o Congresso?

  1. V – O Congresso já está desmoralizado. Está desmoralizado porque foi o palco de um impeachment, de um golpe. Oscar Niemeyer e Lúcio Costa fizeram a Praça dos Três Poderes e colocaram a Câmara e o Senado mais a frente, bem alto, e nós resolvemos nos apequenar. Não que sejamos um poder maior que os outros, mas a harmonia dos três poderes é fundamental para que não exista um super poder. E a gora o Congresso resolveu ser o pequeno poder. Isso é ruim para a democracia. O Congresso sofre as consequências dessa pequenez. Foi lá e fez uma intervenção no Executivo, em outro poder, e agora o Judiciário está fazendo uma intervenção no Congresso. Isso é péssimo.

A GAZETA – O senador Aécio Neves sempre acusou o PT de estar envolvido em ações de corrupção e agora tem seu nome envolvido.

  1. V – O Brasil agora sabe de seu envolvimento com a corrupção. Mas, diferente do que eles fazem, não vou tripudiar em cima de ninguém. A situação requer outra atitude. Mas, lamento essa situação. A nova República começou com Tancredo Neves, mas acho que ela chegou ao fim com esse episódio de impeachment, com o golpe, com essa crise do PSDB e do Aécio Neves.

A GAZETA – Martelo batido quanto à candidatura de Lula a Presidência da República em 2018?

  1. V – O ex-presidente Lula é a maior liderança política que o país tem. Talvez por isso que estejam tentando a todo custo, atropelando a legislação e o processo legal, querer inviabilizar a candidatura dele. Ele fez muito pelo nosso país. Não só pelos os que mais precisavam, mas no governo do presidente Lula o Brasil inteiro melhorou, especialmente Norte e Nordeste. Empresários, setores médios da sociedade, classe média também cresceram. E os mais pobres tiveram pela primeira vez um governo que olhava para eles. Eu nunca vi alguém ser tão massacre por grandes setores da imprensa como o ex-presidente Lula. Do jeito que está indo vão terminar transformando o Lula em uma espécie de Mandela. Ele ficou 27 anos preso, e quando saiu o provo o elegeu presidente. O Lula foi um presidente que mais fez pelo Brasil. O povo está do lado do Lula, todos solidários a ele. Por isso que acredito na possibilidade do presidente Lula voltar a governar o Brasil.

A GAZETA – Caso se candidate e vença a eleição, em sua opinião, qual postura o ex-presidente Lula deve adotar, tendo em vista o atual momento político?

  1. V – Acho que se o presidente Lula vier a ser candidato, vier a ganhar, ele também tem que ser parecido com Mandela. Tem que saber perdoar, tem que saber ser grande e tem que saber unir esse país que está desunido e que não pode seguir desse jeito se alimentando do ódio. O Brasil precisa de paz, de trabalho e de harmonia. E acho que quem assumir a presidência pelas urnas precisa ter esse compromisso com isso.

A GAZETA – Senador, essas delações não proporcionam uma insegurança política. Tendo em vista a ausência de provas? O senhor é a favor desse instituto?

  1. V – Eu estava no Senado quando nós aprovamos a Lei que permite a delação. Eu acho que não tem como você desmontar quadrilhas organizadas, o crime organizado sem delação. Agora, a delação, a lei é bem clara, ela tem que vir acompanhada de provas sobre pena de você ficar nas mãos dos bandidos que incriminados resolvem atacar os outros. Tem que ter prova. Só não podemos ter uma ação seletiva. Só tem gente presa se for do PT, só é solto se for denúncia contra o PT. Quando a denúncia é alguém da oposição dar-se um jeito e de repente solta. Isso é uma ação seletiva.

A GAZETA – O ex-presidente estaria sendo injustiçado com essas delações?

  1. V – Essa ação contra o presidente Lula, e isso já falo há algum tempo, é uma verdadeira caçada contra ele e sua família. Passaram três anos devassando a vida do Lula e seguem com duas denúncias. Ele pode ser condenado porque ele tinha a possibilidade de comprar um apartamento que ele não comprou. Ou que ele usava um sítio que também não era dele. Isso não pode ser usado, porque não tem prova nenhuma, ao contrário. Estão querendo que o ex-presidente Lula prove que é inocente, quando o certo é que a justiça prove que ele é culpado e não tem como provar isso, pois, ele não é. O presidente Lula fez um trabalho fantástico e fez o Brasil crescer dentro e fora e ser respeitado por todos e não tem nenhuma acusação de quando ele era presidente. Eu acho que o Brasil precisa combater a corrupção, mas sem cometer injustiças como estão fazendo contra o presidente Lula.

“Não adianta alguém querer satanizar a política, pois, a boa política é um instrumento que a gente tem na democracia para fazer as boas mudanças, as transformações na vida das pessoas”.

A Gazeta do Acre: