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Farinha de Mandioca de Cruzeiro do Sul é o primeiro produto a conseguir selo de Indicação Geográfica no Estado

“Ela é a referência do município. Expõe de forma orgulhosa e massificada seu nome na regional, no Estado e no País. De sabor diferenciado, levemente adocicado é a mais requerida, é a mais apreciada! Grossa, peneirada, com coco ou castanha, amarelinha, branca, crocante ou fina é a companheira inseparável do velho e bom açaí, do pirão e da caldeirada de mandin, ela é a melhor farinha de mandioca, ela é a distinguida farinha de Cruzeiro do Sul”… (Murielly Nóbrega, analista do Sebrae)

Sim, ela mesmo! Agora as cooperativas integrantes da Central Juruá podem usar o selo e registrar nos rótulos de sua farinha, a expressão “Indicação de Procedência Cruzeiro do Sul”. A concessão outorgada pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) foi publicada nesta terça-feira, 22 de agosto. Com este reconhecimento o Brasil passa a ter a primeira Indicação Geográfica para o produto “farinha de mandioca” e o Estado do Acre o primeiro produto com concessão de registro de indicação geográfica.

O produto certificado é produzido tradicionalmente nas conhecidas e populares farinhadas do Vale do Juruá há mais de 100 anos. Esse alimento, além de grande valor cultural vinculado ao conhecimento do “saber fazer” herdado por gerações sucessivas, apresenta qualidade diferenciada, constituindo-se como uma das principais fontes energéticas na alimentação da população local. Processada de forma artesanal em pequenas unidades conhecidas como casas de farinha movimenta uma importante cadeia de valor da agricultura no Vale do Juruá e é um dos principais produtos agrícola do Estado com utilização de matéria-prima e mão de obra exclusivamente da agricultura familiar.

A Identificação de Procedência – IP de Cruzeiro do Sul possui uma área geográfica de 1.042 km², contemplando região oeste do Estado do Acre, abrangendo os municípios de Mâncio Lima, Rodrigues Alves, Cruzeiro do Sul, Porto Walter e Marechal Thaumaturgo, para as cultivares Branquinha, Caboquinha, Mansa-e-Brava, Cumaru, Curimêm, Chico Anjo e Mulatinha.

O processo do reconhecimento formal da IP que valoriza e identifica a histórica região produtora de Farinha de Mandioca do Vale do Juruá, tradicionalmente conhecida como Farinha de Cruzeiro do Sul, exigiu a construção de um dossiê técnico, o qual demonstrava especificamente a delimitação geográfica, as normas e condições específicas para a padronização da produção da farinha, sistemas de controle, criação do conselho regulador, incluindo ainda comprovação do renome da região como produtora de farinha de mandioca. Todo este processo, foi uma construção coletiva dos produtores, gestores de cooperativas com o apoio técnico do Sebrae, Embrapa, Superintendência Federal da Agricultura (SFA/Mapa) e Governo do Estado através da Secretaria Estadual de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof).

O Sebrae atuou diretamente em todas as etapas de construção do processo de solicitação da IP de Cruzeiro do Sul através do projeto Cadeia de Valor da Mandiocultura, a concessão do registro de reconhecimento de Indicação Geográfica, além de conferir proteção do conhecimento tradicional, garantia pela qualidade diferenciada vinculada ao local de produção e um legado para o território, reflete ainda, a valorização, o reconhecimento e a recompensa aos agricultores familiares que fizeram deste produto a sua identidade, ou seja, emite a plena certeza que agregado ali, temos histórias, pessoas, saber fazer, qualidade e compromisso”, afirma a diretora técnica Sídia Gomes.

Já para Germano Gomes presidente da Central Juruá, entidade responsável pela governança deste, bem como pela proteção da propriedade industrial conferida pela Indicação de Procedência da farinha de mandioca de Cruzeiro do Sul. “A obtenção da IP, é recebida como uma garantia do reconhecimento da origem e qualidade do produto, assegurando sua reputação e preservação e a confiança de que atendem os mercados mais exigentes”, pontuou o presidente.

De acordo com a pesquisadora da Embrapa Acre, Joana Souza, que atuou em estudos sobre a qualidade da farinha de Cruzeiro do Sul e aspectos históricos relacionados à sua notoriedade, que integraram o dossiê para pedido da IG, esse produto se caracteriza por uma produção artesanal, baseada em práticas tradicionais que vêm passando de geração para geração há mais de 100 anos. “O modo de fazer particular, traduzido no zelo e dedicação dos produtores na realização das diferentes etapas do processo de elaboração, atribuem sabor, crocância e qualidade próprias do produto. A Indicação Geográfica funciona como uma marca e vem atestar um conjunto de valores intrínsecos a esse produto específico do Juruá, com benefícios múltiplos. Para os agricultores, significa o reconhecimento do seu produto no mercado; para a região, sinaliza a chance de desenvolvimento; para o consumidor é a garantia de contar com um produto de excelência, genuíno da agricultura familiar amazônica e com procedência acreana reconhecida.

Esse marco histórico para a economia acreana é celebrada por todas as pessoas e instituições comprometidas com esse legado, cujas cooperativas rurais de farinha de mandioca e, consequentemente, seus produtores cooperados, são os maiores beneficiários, visto a valorização de todo esforço e compromisso com um produto de qualidade agora reconhecido em todo o Brasil, humanizando a prosperidade. Então, vamos comemorar essa conquista: a farinha de Cruzeiro do Sul é nossa.

Murielly Nóbrega, Analista I Sebrae AC e Gestora do Projeto Cadeia de Valor da Cadeia da Mandiocultura do Sebrae no Acre

 

A Gazeta do Acre: