Mais um capítulo do drama vivido pelos parentes da família Borges, que cometeu suicídio em Rio Branco no final do mês passado, veio à tona. O tio da jovem Bruna, Paulo Brito Borges, procurou o Jornal A GAZETA para denunciar que um dos envelopes contendo R$ 1 mil, que deveria ser entregue a um soldado do Exército, que trabalhava diretamente com o subtenente Márcio Augusto de Brito Borges, 45 anos, desapareceu da casa.
De acordo com Paulo, o comandante do 4º BIS, coronel Wellington Valone Barbosa, garantiu que nenhum dos homens subordinados a ele pegou o tal envelope no dia da morte de Márcio Augusto e Claudineia Borges, pais de Bruna. De acordo com o denunciante, o pessoal da Polícia Civil afirmou que, após o trabalho da perícia, o envelope foi deixado em cima da cama do casal.
“Todo o restante do dinheiro deixado por eles e endereçado para pagar contas foi repassado à família. A única quantia que não tivemos acesso foi esse de R$ 1 mil. O comandante comentou que será aberto procedimento administrativo pelo quartel. É uma situação complicada, dentro da vila militar ter sumido dinheiro. E o pior não é só pelo dinheiro e sim pela memória do meu irmão. É um absurdo!”, declarou Paulo.
Tanto a família do subtenente como da esposa dele, alegam que desconhecem o paradeiro do envelope. Os valores e as pessoas que seriam destinadas foram discriminadas na carta deixada pelo casal.
“É preciso que isso seja esclarecido. Por isso, fizemos um Boletim de Ocorrência para que todas as hipóteses sejam apuradas. Estamos todos decepcionados com essa situação”, ressaltou Paulo.
Trechos da carta deixada pelo casal antes do suicídio
“Hoje estarei junto de minha amada filha, não é fraqueza minha, mas sim, uma vontade enorme de encontrá-la…”, Márcio Augusto de Brito Borges.
“Peço mil perdões, mas não conseguirei viver sem minha filha… Não se preocupem, vou estar com minha filha e feliz”, Claudineia da Silva Borges
Diretor do Instituto Criminalista do Acre, Aleksander Barros, afirma que o local estava descaracterizado
O diretor do Instituto Criminalista do Acre, Aleksander Barros, detalhou as primeiras impressões do perito ao chegar à residência dos Borges após o ocorrido, naquela sexta-feira, 28.
“O local na chegada do perito criminal já estava totalmente descaracterizado. As pessoas estavam tomando a residência. Eram parentes, militares e vizinhos. Inicialmente esse local deveria estar isolado. Não era para ter circulação de pessoas. Apesar disso, a verificação do fato criminoso em si não foi prejudicada. Não há qualquer dúvida. Eles estão sendo suficientes para fazer uma avaliação técnica adequada. Mas, o processamento dos vestígios foi dificultado. Foi uma situação complicada”, relembrou Aleksander.
O diretor confirma que a carta deixada pelo casal discrimina uma quantidade dentro de um envelope. “Vale ressaltar que o perito criminal só arrecada aquilo que é de interesse criminalístico, ou seja, aquilo que pode elucidar o evento. No caso dos Borges, foi arrecadado celulares, HD do notebook e cartas”, destacou.
Aleksander afirma que tudo relacionado a valores, como chaves de veículo, quantia encontrada dentro do carro e outras coisas verificadas pelo perito, foram entregues para um oficial do Exército que acompanhava a perícia.
“Isso é uma praxe. Essa questão do valor do envelope de R$ 1 mil, verificamos que constava na carta, mas o perito alega que não teve contato com esse envelope. Com isso, nós não sabemos dizer o que houve. Muitas outras coisas podem ter desaparecido, afinal, da identificação da situação até a chegada da perícia existe um lapso temporal muito grande”, alegou o diretor.
Ele levanta a hipótese de que este envelope ainda esteja dentro da casa dos Borges, misturado a roupas e bens. “Eu não descarto essa hipótese. As vítimas deixaram todos os produtos e equipamentos discriminados, inclusive, agrupados. Todos os bens deles estavam distribuídos pela casa. Na ocasião, o perito estava preocupado com a causa morte, que é o objetivo dele ali, e não de estar fazendo inventário dos bens, que não é atribuição dele”, concluiu o diretor.
Relembre o caso
A triste história da família Borges teve início quando a jovem Bruna Andressa, 19 anos, se suicidou e transmitiu ao vivo o ato numa rede social. O caso aconteceu no dia 26 de julho.
Os pais da jovem, o subtenente Márcio Augusto de Brito Borges, 45 anos, e a esposa, a ex-sargento Claudineia da Silva Borges, 39 anos, foram encontrados mortos, no dia 28 de julho.
O caso chocou os acreanos. Pela residência da família foram encontradas cartas de despedidas autenticadas em cartório, além de quantias em dinheiro que deveriam ser a pessoas designadas no documento.
Na íntegra, cartas de despedida do casal Borges:
Eu, Márcio Augusto de Brito Borges,
Deixo expressa a minha vontade de que meu irmão, Antônio Luís de Brito Borges, gerencie e faça a partilha desses bens aos restantes dos meus irmãos, incluindo o meu sobrinho Rafael, totalizando 5 pessoas.
Apartamento da Isaura Parente, avaliado em 220.000 reais. Poupança no valor de aproximadamente 2.500 reais na Caixa Econômica.
E mais o meu salário do mês, que vai cair no banco Santander.
Carro Onix Placa OTV 7621, fica para o meu irmão Antônio.
Minhas ferramentas, duas impressoras, a que está no quartel é minha, duas máquinas de costuras, devem ser entregues ao meu amigo SD Wisley Oliveira, o qual deixo 1.000 reais que estão em um envelope em cima da cama.
Toda a roupa que está arrumada deve ser jogada no lixo.
Meus dois cachorrinhos Shitzo ficam com o meu irmão Antônio. Até o meu retorno de viagem deixo 110,00 reais para pagar a conta da cantina no 4º BIS.
2.950,00 reais no porta-luvas do carro pra custear a vinda do meu irmão Antônio até aqui.
As chaves do carro estão em cima da mesa de plástico.
As chaves do meu apartamento estão em cima da mesa de plástico.
E, por fim, deixo um grande abraço aos companheiros Morelato, Bessani, Jonas, Izaquias, Sandro, a todos da SUOPES GUERREIRA e a todos que deixei de citar neste momento, são muitos e seria difícil colocar todos aqui.
Hoje estarei junto de minha amada filha. Não é fraqueza minha, mas sim uma vontade enorme de tentar encontrá-la, se realmente existir vida além dessa, que é algo que não acredito, mas vou tentar. Não é fácil não fazer isso, mas é necessário, tem que ter muita coragem e minha pequena foi muito audaciosa e corajosa. Sou covarde, mas encontrei coragem pra ir até o final.
E pra não deixar de fazer uma referência, comento rapidamente sobre a falta de prestígio que um subtenente tem dentro do Exército, pois somos entubados de missões e sem qualquer tipo de reconhecimento, por muitas vezes tendo que nos rastejar para conseguir uma promoçãozinha. Digo a todos não vale a pena. Vão se dedicar a suas famílias. Os nossos comandantes ganham muito bem para ficar depois do expediente. Já nós, praças, não temos essa mesma obrigação. Desabafo de um profissional, pois é o que eu sempre fui e sempre tive o reconhecimento de todos para quem trabalhei.
Obrigado e fiquem todos com Deus!
Eu, Claudineia da Silva Borges,
Deixo expresso minha vontade que minha mãe, Maria Helena da Silva, fique com todos os meus bens, como meu apartamento no Residencial Araçá, localizado na Rua Gabriel Soares, bairro Nova Esperança.
E minha moto deixo para meu sobrinho Wuillian Robson.
No Banco do Brasil tem meu salário do Iapen, que também é pra minha mãe. Minha pecuniária, que até hoje não recebi e que vai dar em torno de 30 mil, também é pra minha mãe.
E, por fim, minhas coisas de casa e pertences deixo tudo pra minha mãe. E peço pra minha mãe ajudar minha irmã Katia Silerne da Silva na compra de sua casa.
E assim me despeço de todos dizendo que amo a todos, principalmente minha mãezinha, que peço mil perdões, mas não conseguirei viver sem minha filha. Meus irmãos, peço que ajudem minha mãe e me perdoem. Não se preocupem. Vou estar com minha filha e feliz.
OBS. Também imposto de renda que vai cair no fim do ano fica para as famílias.