Depois de um dia intenso de trabalho na agricultura, o produtor rural Manoel Olímpio de Paiva chega em casa e percebe que a roupa cheira a fumaça. O clima seco e o ar poluído agravam problemas de saúde, como a sinusite. Sua crise alérgica piora e ele procura atendimento médico em uma unidade básica de saúde e percebe que é grande o número de pessoas com o mesmo problema, principalmente entre crianças e idosos.
“Eu não queimo, mas o pessoal queima muito, tem que maneirar mais a mão. É muita fumaça e poeira que adoecem a gente. Tenho sinusite e fico com falta de ar”, diz o produtor.
O problema de Manoel Olímpio se repete a cada ano no verão amazônico, estação de pouca chuva, muito calor e baixa umidade. Esses fatores favorecem o aumento das queimadas, incêndios urbanos ou florestais que colocam em risco a saúde da população, ameaçam a biodiversidade e prejudicam o patrimônio público e privado.
Por vezes, um incêndio começa com um montinho de lixo queimado no fundo do quintal e que sai do controle. É comum também produtores rurais colocarem fogo no terreno para renovar o pasto ou a área para o plantio. Essas são técnicas antigas, mas existem alternativas para evitar o fogo na agricultura, como o plantio direto, a rotação entre lavoura e pastagem e os sistemas agroflorestais, que integram agricultura, pecuária e floresta.
“Nesta época o governo intensifica a fiscalização, mas é necessário também apelar para o bom senso da população e alertar sobre o perigo das queimadas e pedir que não queimem lixo em suas casas. O resultado é esse aumento de pessoas com doenças respiratórias, como, infelizmente, presenciamos todos os anos”, alerta o secretário de Estado de Saúde, Gemil de Abreu Junior.
Combate às queimadas
O Corpo de Bombeiros atua no combate a incêndios florestais, além da realização de campanhas preventivas. A Defesa Civil do Estado também atua nos 22 municípios acreanos para minimizar os impactos sobre a população. Denúncias devem ser feitas pelo número 193 e podem resultar em aplicação de multa para os responsáveis.
“Queimar é crime e o processo de fiscalização pelos órgãos ambientais está sendo intensificado. Chamamos a população para denunciar as pessoas que insistem em causar danos à saúde e ao meio ambiente”, ressalta o coronel Roney Cunha, comandante-geral do Corpo de Bombeiro Militar do Acre.
O Corpo de Bombeiros compõe a sala de situação para monitoramento dos focos de calor. Esse trabalho é desenvolvido em parceria com órgãos ambientais como Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Acre (Sema), Instituto de Mudanças Climáticas do Acre (IMC), Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
O coronel Roney Cunha alerta ainda que as queimadas, além de prejudicarem a saúde e impactarem o meio ambiente, também interferem no processo educacional de muitas escolas, porque impedem as crianças de ir para a aula. (Bleno Caleb / Agência Acre)
Saúde alerta para os cuidados com a baixa umidade do ar
Queimadas, baixa umidade do ar e altas temperaturas. Esta combinação tem feito muito mal aos acreanos, que enfrentam nesta época do ano a estiagem, quando a falta de chuvas, atrelada à fumaça, vem castigando e causando ardência e ressecamento dos olhos, boca e nariz, por exemplo, bem como o agravamento de doenças respiratórias.
Para evitar ou minimizar a ocorrência de problemas de saúde em razão do tempo seco, a Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre) indica alguns cuidados importantes durante a baixa umidade relativa do ar que dificulta a dispersão de poluentes.
De acordo com a médica Gleiciane Miranda, gerente de assistência da UPA Via Verde, crianças, idosos e pessoas que já possuem histórico de problemas respiratórios são os grupos que acabam sendo mais vulneráveis às doenças neste período, portanto, os cuidados precisam ser redobrados.
“São orientações que servem pra todos nesta época do ano. Aumentar a ingestão de líquidos como água, sucos naturais e chás. Consumir mais frutas e legumes. Outra dica importante é trocar a vassoura por um pano úmido para a limpeza do domicílio. Também é aconselhável retirar cortinas e tapetes que concentram poeira e podem agravar os problemas respiratórios.
Um último conselho é para quem não tem condições de comprar um umidificador de ar, deve colocar um recipiente com água ou uma toalha molhada dentro do cômodo, que ajuda a melhorar a umidade do ar
Quem apresentar sintomas mais comuns provocados pelo tempo seco deve procurar atendimento. “As crianças e os idosos estão mais vulneráveis. Os principais sintomas são febre, falta de apetite, tosse e congestão nasal. Se esses sintomas persistirem é importante procurar a Unidade Básica de Saúde mais próxima de sua casa”, enaltece Gleiciane.