Após um período conturbado depois de voltar para casa em Rio Branco, é com serenidade que o estudante de psicologia Bruno Borges, de 25 anos, tenta explicar todas as reações causadas pelo seu isolamento que durou quase cinco meses e tomou grande repercussão no primeiro semestre deste ano.
Quase 50 dias após ter voltado do isolamento, Bruno Borges recebeu a equipe do G1 em casa. Com 13 quilos a mais, corado e com a barba feita, aos poucos ele tenta retomar a rotina.
Logo que chegou, debilitado e desidratado, o estudante conta que precisou recorrer ao soro. De 51 quilos, Borges está atualmente com 64 quilos.
“Voltei a fazer esporte, estou fazendo academia, ganhando peso, comendo bem e vou começar aulas de inglês e ocupar meu tempo, que é importante, e também me relacionar com meus amigos”, diz.
Antes de sumir por vontade própria, o jovem deixou 14 livros escritos à mão e criptografados, com alguns trechos copiados nas paredes, teto e no chão do quarto. Deixou ainda uma estátua do filósofo Giordano Bruno (1548-1600), por quem tem grande admiração, que custou R$ 10 mil.
Depois disso, foram quase cinco meses isolado e sem dar notícia à família. No dia 11 de agosto, ele retornou para casa e revela que não estava preparado para lidar com as diversas reações que o seu isolamento e o primeiro livro causaram.
“Como eu não tinha contato com nada e eu sempre tive muita fé nesse projeto eu esperava que a reação fosse outra. Apesar de que, nos meus próprios estudos, falo que quem inova tende a ter uma reação meio hostilizadora, mas não estava preparado e fiquei um pouco surpreso com as reações, porque as minhas intenções foram boas”, garante.
Tímido e introspectivo, o estudante garante que não é adepto dos holofotes, mas acabou sendo protagonista de um dos casos que mais chamaram a atenção nos últimos meses.
O mundo inteiro queria saber mais detalhes sobre o menino do Acre que desapareceu deixando obras codificadas e símbolos por todo o quarto.
Para driblar os sentimentos ruins, Borges passou a conversar e absorver as coisas boas que toda a situação acarretou. Porém, ele conta que nos primeiros dias, inclusive, tinha medo de ser agredido na rua.
Atualmente, Borges tenta se inserir aos poucos na sociedade. Ele relata que é difícil ter contato com muita gente devido ao período em que ficou isolado. O local onde permaneceu durante esses quase cinco meses continua em sigilo pelo jovem.
Mesmo antes do sumiço, o estudante conta que sempre gostou da solidão. “Não sei se me sentiria bem se chegasse em uma multidão, não sei como seria”.
A mesma exposição que o deixou deprimido diante da opinião pública também foi a motivação para que ele conseguisse novamente ver o lado positivo do projeto que levou quatro anos para ser finalizado.
“Comecei a buscar os apoiadores, os lugares. Porque, para falar a verdade, quase todos os comentários eram hostilizadores, mas aí encontrei pessoas positivas que têm outra maneira de enxergar as coisas”, completa.
E é assim, aos poucos, que o estudante traça planos futuros, que incluem o curso de inglês, a academia e até a conclusão do curso de psicologia. Outra coisa foi a mudança de hábito, antes adepto do frugivorismo [alimentação exclusiva de frutas, verduras e legumes], Borges hoje segue uma nova dieta vegetariana.
‘Estou numa dieta vegetariana. Estou comendo queijo também e outras coisas, porque é muito difícil você se manter em uma dieta vegana na cidade, porque não tem muitas opções também. Mas, assim que eu me restabelecer, porque pretendo ganhar mais peso ainda, vou tentar adotar novamente uma dieta vegana”, diz.
Bruno se dedica agora também às publicações dos livros. O segundo volume deve sair no início de novembro. Nos 10 primeiros dias que voltou para casa, fez ajustes e algumas inclusões no primeiro livro, que foi reeditado e já publicado por algumas editoras.
O livro “TAC: Teoria da Absorção do Conhecimento” entrou para a lista “não ficção” dos mais vendidos da semana, entre 24 e 30 do mês de julho. O ranking é do site PublishNews, construído a partir da soma das vendas de todas as livrarias pesquisadas.
Como nunca foi ativo nas redes sociais, Borges diz que prefere se manter assim. Ele mantinha um perfil no Facebook, mas, segundo ele, esqueceu a senha e nem faz esforço para recuperá-la.
Para se comunicar com amigos de Rio Branco e de fora, ele usa aplicativos de mensagens e diz que futuramente pretende abrir um portal de estudos para manter contato com os admiradores de sua obra.
“Ainda não pensei sobre isso [redes sociais], mas penso em montar uma página de estudos para me comunicar com as pessoas. Fico muito feliz quando vejo algumas pessoas dizendo que ajudei elas, porque essa era a minha intenção. Então, isso me fortalece”, finaliza.