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Crianças no mundo virtual!

[dropcap]L[/dropcap]i, recentemente (Folha de Londrina/PR) que quase 70% das crianças e jovens com idade entre 9 e 17 anos acessam a internet ao menos duas vezes por dia. Foi o que revelou uma pesquisa realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic). Segundo o estudo, o número triplicou no período de um ano. Se em 2015, 66% dos jovens entre 9 e 17 anos disseram acessar a rede de computadores ao menos duas vezes ao dia, no ano de 2014 o índice era de 21%. As entrevistas foram realizadas entre novembro de 2015 e junho de 2016 com 6.163 entrevistados – crianças, adolescentes e seus pais ou responsáveis. Ainda de acordo com estudo, dos 29,6 milhões de jovens de 9 a 17 anos, 80% são usuários da internet. Como era esperado, nas classes econômicas mais altas é maior a proporção de crianças que acessam a internet. Nas classes A e B, 75% disseram acessar a rede ao menos duas vezes ao dia. Já nas classes D e E, são 49%. O celular também ganha espaço nessa faixa etária para acesso à internet. O telefone foi utilizado por 83% desse público para navegar na web – em 2012, o uso era feito apenas por 21%. Interessante observar que os smartphones são o único meio de acesso à internet para 55% das crianças das classes D e E. O computador de mesa é utilizado por 38% das crianças para acessar a web e o computador portátil, por 33%.
Mesmo considerando que a internet, presente no dia a dia das crianças e adolescentes, traz benefícios para o desenvolvimento educacional dos jovens, a reportagem alerta para o que todos nós sabemos: É preciso que pais e educadores considerem que existem páginas na rede adequadas para cada idade. Deixar que as crianças naveguem livremente, sem orientação de um adulto, pode ser perigoso à medida que a web é freqüentemente usada por pessoas mal intencionadas. Os pais podem indicar para os filhos os portais seguros, ativar filtros de controle de conteúdo e colocar limites para a exposição das crianças a todo tipo de mídia, incluindo games e televisão.
Mesmo salutar e oportuna, o alerta da reportagem, dentre tantas, soa como uma verdadeira utopia, uma vez que a realidade, nua e crua, das crianças brasileiras é cruel. De maneira singular: crianças que estão inseridas num contexto familiar miserável; sobrevivendo à margem da vida, sacrificadas pelas desigualdades sociais, produto, também, duma sociedade míope e vaidosa em todas as suas manifestações, quando se trata de proteger e defender os sem defesa.
Muito além, das desigualdades sociais, tem, ainda, a tal onda da diversidade social globalizada e a cultura do “ficar” que leva a maioria das nossas crianças, meninos e meninas, ainda em tenra idade, 9 a 14 anos, talvez mais ou menos, experimentar uma realidade sexual própria de adultos. Reverberando, portanto, no dia-a-dia a violência a que são submetidos seus corpos juvenis, pois no campo do abuso sexual contra crianças, a estatística é alarmante e estarrecedora: a cada 8 minutos, uma criança é violentada no Brasil.
Vivo repetindo, daqui deste espaço, ano após ano, que qualquer pessoa, com um mínimo de bom senso, pode constatar que as nossas crianças são um portal para as mais cruéis maquinações do mundo do crime. Hoje, as casas de “recuperação”, estão repletas de crianças, adolescentes e jovens, que inegavelmente cometeram delitos hediondos e que já experimentam no inicio da vida, a mais vil degradação humana. Como é possível, nos auto-argüimos, que uma criança, com um caráter em formação, seja capaz de crimes tão perversos?
Apesar dos pesares, desejo melhor sorte a todas as crianças que vivem zanzando por ai.

A Gazeta do Acre: