[dropcap]R[/dropcap]ecentemente, tivemos a oportunidade de ensinar, ou melhor dizendo, ajudar alunos do Mestrado em Ecologia da UFAC a aprenderem algumas técnicas de segurança em florestas do Acre. Durante o processo, vimos que aspectos que são importantes para alunos aprenderem poderiam ser relevantes à sociedade usar para cuidar do nosso planeta, a Terra.
Primeiro, os alunos tiveram que aprender sobre a realidade do seu condicionamento físico. Antes de fazer o teste de caminhada de 4,8 km em sua máxima velocidade, muitos achavam que tinham um condicionamento razoável ou não achavam que o condicionamento físico era um fator importante na pesquisa ecológica. A realidade foi diferente: todos ficaram inicialmente com uma classificação de capacidade fraca a muito fraca e soferam os efeitos da falta de condicionamento ao abrirem picadas, estabelecendo parcelas ou na simulação de busca e salvamento de colegas na floresta.
Uma avaliação honesta do condicionamento da Terra resultaria em algo semelhante – fraco a muito fraco. Atividades humanas estão fixando nitrogênio e liberando fósforo em quantidades maiores do que os fluxos globais naturais, desequilibrando muitos ecossistemas e causando preocupação sobre como alimentar uma população humana projetada para quase 11 bilhões em 63 anos, no ano 2080. A perda acelerada de biodiversidade está sendo chamada de “a Sexta Extinção”, com provavelmente um quarto das espécies recentes de aves já extintas. O desmatamento está afetando a ciclagem de chuvas em várias regiões da Terra, especialmente nos trópicos.
Muitos de nós ainda não entenderam que o bom funcionamento da Terra é um pré-requisito para manter o habitat humano. Dependemos de ecossistemas para purificar e regular a nossa água, fornecer alimentos, e reciclar os nossos dejetos. No mesmo tempo em que desmatamos e degradamos ecossistemas florestais na região, o ciclo de água está se intensificando nesta região da Amazônia com chuvas e secas mais fortes nos últimos anos, consistentes com o que esperamos com as mudanças climáticas influenciadas por atividade humana. Com demandas crescentes nestes serviços dos ecossistemas, a capacidade da Terra está indo de fraca para muito fraca.
Na última semana de aulas, ajudamos os alunos a pensar sobre o que fazer quando algo der errado no campo – um acidente, por exemplo. Com a ajuda de bombeiros, simulamos situações onde vítimas tiveram paradas respiratórias ou precisavam de transporte na floresta. Um exercício foi simular um acidente de barco que jogou os alunos num rio e eles, vestidos de roupa de campo com botas, necesitavam se deslocar cem metros na água. Muitos alunos foram confiantes demais que iriam conseguir nadar cem metros, mas encontraram dificuldades e tiveram que ser resgatados.
Encontramos que as práticas de resgate e de natação de sobrevivência foram mais difíceis do que a teoria indicava e os alunos precisavam errar algumas vezes para poder acertar. Em escala regional e global tudo indica que a passagem da teoria para a prática na reversão das nossas atitudes e ações vai gerar erros antes de promover acertos.
As nossas respostas aos impactos regionais das inundações, secas e incêndios florestais nos últimos 12 anos ainda são incipientes. Basta perguntar aos prefeitos e ao governador como poderíamos lidar no mesmo ano com uma seca como a de 2005, seguida por indundações como a de 2015 no Rio Acre e a do Rio Madeira em 2014. Precisamos analisar os nossos erros e corrigí-losrapidamente com a finalidade de podermos estar prontos para eventos climáticos que estão ficando cada vez mais intensos. No nível global, ainda estamos engatinando em ações para solucionar os problemas listados acima.
Os alunos do mestrado em Ecologia aprenderam que a práticae o treino valem a pena. Depois de fazer um simulado de busca e resgate na noite de quinta-feira passada e dormir na floresta da Fazenda Experimental Catuaba, da UFAC, os alunos enfrentaram um desafio real. Duas alunas tiveram problemas de saúde e precisaram ser transportados do dentro da floresta usando redes. Os alunos usaram a aprendizagem dos dias anteriores e conseguiram resgatar suas colegas. O treino anterior valeu e as duas estão bem agora.
Para entender como cuidar bem da nossa região e do planeta, precisamos de uma aprendizagem que se baseie em erros e acertos. Na avaliação final da disciplina os alunos viram que os erros que fizeram no treino poderiam ter custado caro ao bem-estar das suas colegas. Nós, como sociedade, precisamos tentar ações nos níveis regional e global para resolver não só problemas recentes, mas, também, nos prepararmos para resolver problemas que estão vindo. E precisamos aprender com nossos erros logo para podermos acertar no futuro.
Os erros são oportunidades de aprendizagem que precisamos aproveitar. Propomos que governos locais e estadual, a sociedade civil e acadêmicos discutam os erros nas respostas aos últimos eventos extremos. Precisamos modificar as nossas respostas para que possamos estar prontos quando estes eventos voltarem com mais força.
Foster Brown, Pesquisador do Centro de Pesquisa de Woods Hole, Docente do Curso de Mestrado em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais (MEMRN) e do Curso de Mestrado em Ciências Florestais (CiFlor) da UFAC. Cientista do Programa de Grande Escala Biosfera Atmosfera na Amazônia (LBA), do INCT Servamb e do Grupo de Gestão de Riscos de Desastres do Parque Zoobotânico (PZ) da UFAC. Membro do Consórcio Madre de Dios e da Comissão Estadual de Gestão de Riscos Ambientais do Acre (CEGdRA). Coordenador do Projeto MAP- Resiliência.
Lisandro Juno SoaresVieira, Professor e pesquisador do Curso de Mestrado em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais (MEMRN)e do Curso de Ciência Biológicas do Centro de Ciências Biológicas e da Natureza da Universidade Federal do Acre (CCBN-UFAC).