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Emylson Farias pede junção de forças entre Estados e União no combater ao narcotráfico nas fronteiras

“O pacto federativo foi derrogado pelo narcotráfico”. A frase é do secretário de Segurança Pública do Estado do Acre, Emylson Farias, ao destacar a importância do debate em torno da elaboração de um plano nacional de segurança pública, com as autoridades brasileiras, no sentido de conter o avanço da criminalidade em todo o país. A afirmação foi feita durante uma entrevista com a equipe do jornal A Gazeta.

As vésperas do Encontro de Governadores do Brasil pela Segurança Pública e Controle das Fronteiras – Narcotráfico, uma emergência nacional, que acontece na próxima sexta-feira, 27, que debaterá, dentre outras coisas, a criação desse plano, o gestor faz uma avaliação das ações promovidas pelo Estado no combate à violência.

“Nós tínhamos feito um planejamento do sistema integrado, com diretrizes determinadas, bem claras. Essa missão foi colocada em prática desde 2013. Os números do Ipea não me deixam mentir. Tivemos uma considerável redução da criminalidade no período de 2013 a 2015. Enquanto no Brasil subia, o Estado do Acre vinha reduzindo os homicídios. Fomos o único Estado da Região Norte que conseguiu isso. Tivemos resultados positivos, principalmente na redução do crime organizado. Podemos observar que os crimes com arma branca diminuíram, porém, aumentaram com armas de fogo. Em 2016, os homicídios somaram 50% a mais em relação ao ano anterior. O crime tem se interiorizado, isso a nível nacional. No Acre, esse cenário cresceu devido às disputas de algumas facções por território”, ressaltou Farias

O secretario falou que apesar de todos esses acontecimentos, a polícia mostrou o seu poder de reação. “Apesar de dados nacionais apontando que o Estado é um dos menos violentos do país, a sensação não é essa. Nunca disse que estamos em um mar de rosas, no entanto, agimos de forma intensiva no combate à criminalidade. Esses estudos sobre a segurança não nós acomoda. Procuramos sempre trabalhar em defesa da população. O Acre é o Estado que mais elucida crimes em todo o país, uma média de 80% a 85%. Isso é em decorrência das diversas operações que realizamos”.

Interiorização do crime

Ao ser questionado sobre o aumento da criminalidade no Acre, o gestor pontua acerca da interiorização do crime organizado. “Não estamos buscando uma desculpa para nenhum tipo de situação, porém, não podemos simplesmente deixar de lado esse fenômeno. Ele está ocorrendo no território brasileiro e tem como objetivo estratégico o controle do tráfico, especialmente nos corredores de entrada da fronteira. Vivemos em nosso dia a dia as sequelas dessa empreitada criminosa que se manifesta pela briga por território e a eliminação de grupos rivais”, disse.

Emylson lembra que entre os anos de 2005 a 2015, embora outras federações apresentassem um amento na violência, o Acre experimenta uma redução. Segundo ele, o cenário mudou a partir de 2015 com a disputa por territórios que culminou com a morte do traficante Jorge Rafaat, em Pedro Juan Cabellero, no Paraguai.

“Esse episódio mudou a geopolítica da droga em todo o mundo. No Brasil, as rotas tiveram que ser reinventadas por essas organizações, envolvendo ainda mais grupos do Norte. As rotas que antes eram dominadas passam a ser disputadas pelas facções criminosas, que compõe o Estado Brasileiro e interiorizam o crime. A consequência disso foi à interiorização do crime. No Acre, onde experimentávamos uma tendência de queda, ocorrem mudanças. Foi quando teve indício as ondas de ataques em todo o Estado”, disse.

Rearranjo na segurança

O secretário pontua que com a interiorização do crime, fez-se necessário um rearranjo também nas ações da segurança pública. “Aqui no Acre tivemos que fez um rearranjo. Precisávamos silenciar o escritório do crime. Aquelas pessoa que estavam segregadas no maior presídio do Acre precisavam deixar de ter contato com o mundo externo. O que fazemos? Mandamos os líderes para fora do Estado, fortalecemos as guaritas, instalamos bloqueadores, contratamos novos agentes penitenciários, fazemos revistas rotineiramente nos presídios e implantamos o regime RDD (Regime Disciplinar Diferenciado). Em março, abril, maio e junho conseguimos reduzir os homicídios. No tocante à repressão, proporcionalmente, somos o estado da federação que mais prende”.

Debate nacional

Segundo o gestor, a segurança pública deve passar a ser debatida a nível nacional, pois, as ações dos bandidos já ultrapassaram limites territoriais.  “Os criminosos não veem barreiras entre as atribuições separadas dos municípios, estados e federação, por isso há a necessidade desses entes se encontrarem para promover a segurança pública”.

Disse mais: “Não adianta só o Acre fazer tudo o que for necessário para promover uma boa segurança, porque vivemos num mundo on-line. Uma ligação no Mato Grosso pode afetar a Segurança Pública no Acre. O narcotráfico derrubou o pacto federativo, portanto, o debate deve ser unificado”. Defende.

Fortalecendo as fronteiras

Para Emylson, uma das formas de se controlar o aumento na criminalidade do país é tornar mais rígida fiscalização nas fronteiras do país. “Precisamos fortalecer nosso olhar para as fronteiras, por isso, ressalto a importância do Encontro de Governadores que ocorre na próxima semana. Não é possível que em pleno século XXI tenhamos uma lei ainda do século passado. A vida tem que ser colocado em primeiro lugar nesse país. É para isso que esse encontro vai servir”, afirma.

Disse mais: “É o momento de unir as inteligências estaduais com a da União e repartir recursos e conhecimento para criação de uma tática de enfrentamento mais eficaz contra os narcotraficantes. O narcotráfico é um negócio que rende, atualmente, bilhões. Só a cocaína movimentou aproximadamente R$ 5 bilhões em todo Brasil, e de maneira intributável. Não podemos ficar inertes a essa situação”.

Encontro de Governadores pela Segurança

O encontro é fruto de intensa articulação do governador Tião Viana desde o começo do ano. Para a programação do dia 27, está prevista a participação da Presidência da República, ministérios da Integração, Defesa, Meio Ambiente e Justiça, Procuradoria-Geral da República, Superior Tribunal Federal, Senado e Câmara Federal, Colegiado de Procuradores Gerais do Brasil, Conselho dos Tribunais de Justiça do Brasil, embaixadores e governadores da Bolívia, Peru e Colômbia, Comando Militar da Amazônia e Comando do Exército Brasileiro.

 

 

 

 

 

A Gazeta do Acre: