X

De represas hidroelétricas na Amazônia ao Museu do Amanha

Na semana passada tive oportunidade de participar, na região metropolitana do Rio de Janeiro, de uma reunião científica sobre os rios da Amazônia promovida pela HYBAM. Numa das últimas apresentações que assisti, o palestrante esboçou a rede de represas programadas para a Amazônia andina e brasileira. Se forem implementadas, estas represas vão alterar o funcionamento de muitos rios, afetando o seus fluxos durante o ano, o transporte de nutrientes e sedimentos, migração de peixes, etc. Em outras palavras, estas represas vão entupir as veias da Amazônia; em troca, os centros urbanos vão receber mais energia elétrica.
De uma perspectiva, parece que seria mais uma das trocas que a sociedade humana faz entre a manutenção de ecossistemas e desenvolvimento econômico. Como se diz, não se pode fazer um omelete sem quebrar os ovos, mas existe uma diferença entre quebrar dois ou duzentos ovos para fazer o omelete. Além dos custos ambientais e sociais destas represas, creio que não são incorporados os efeitos de mudanças climáticas, que já estão intensificando os períodos chuvosos e as secas.
Se não forem levados em conta no desenho, estas intensificações poderiam: a) danificar/destruir as represas por inundações intensas; e b) reduzir a produção de eletricidade abaixo das previsões durante secas prolongadas. Ao mesmo tempo, o custo da energia produzida por turbinas aeólicas e por placas fotovoltaícas está baixando rapidamente, reduzindo a vantagem econômica de represas hidroelétricas.
A visão que tudo isto me deu foi de uma manada de elefantes brancos espalhadano oeste da Amazônia ou, para misturar métaforas, um monte de ovos quebrados para produzir um magro omelette. Parece que estamos usando uma linha de pensamento do século 20 sem fazer uma atualização para século 21.Em outras palavras, estamos andando para o futuro na marcha a ré.
Foi neste contexto triste que fui visitar o Museu do Amanhãao lado da Baia de Guanabara, no Rio de Janeiro. O Museu parece uma nave espacial que pousou no cais próximo da Base Naval. O foco do museu concentra-se em cinco perguntas: Deonde viemos? Quemsomos? Onde estamos? Para onde vamos? Como queremos ir?Destas cinco, as mais importantes para mim são as últimas duas que ligam com o meu futuro e os futuros de meus netos e afiliados.
O Curador Luiz Alberto Oliveira sumarizou a proposta do museu ”… é usar os recursos das Ciências contemporâneas para oferecer a seus visitantes uma jornada de exploração por cenários possíveis de futuro…O conceito essencial é o de que o amanhã não está pronto e finalizado a nossa espera. Ao contrário, os amanhãs que vierem a suceder decorrerão, necessariamente, do leque de escolhas que, a cada momento, somos convocados a realizar, como pessoas, cidadãos e membros da espécie humana.”
Em outros artigos, mencionei como as tendências atuais em vários aspectos de clima e deterioração ambiental do planeta não são muito promissoras, mas não enfatizei que temos meios para mudar as tendências. O Museu do Amanhã coloca que o futuro depende das nossas escolhas.
Olhando a tendência de represar os rios da Amazônia é possível pensar em outras escolhas coletivas. Mas estas escolhas serão baseadas, não só no conhecimento, mas também nos nossos valores. Ambos são necessários para alimentar as nossas ações que vão afetar a Amazônia.
No Museu do Amanhã, deparei com a seguinte frase que me fez lembrar da importância do que fazemos:“Nossas ações, por menores que pareçam, são capazes de mudar o mundo. A cada momento, fazemos escolhas sobre nossos modos de vida. Se nos conectarmos com o planeta e uns com os outros, seremos uma ponte para um futuro sustentável. Cada um de nós faz o seu Amanhã. E juntos fazemos os nossos – os Amanhãs que queremos.”
No fim da visita ao museu, percebi que eu estava deixando tendências, como a expansão de represas nos rios da Amazônia, me dominaram, esquecendo que temos mais poder que imaginamos. Quando passei pela porta de saída, queria sempre manter na minha mente a frase “nossas ações…são capazes de mudar o mundo.”

A Gazeta do Acre: