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Elas enfeitam o nosso mundinho fugaz

Eis aí o poeta reflexivo tal qual espelho de cabaré. Meditabundo a partir da medula. Hoje, ao cair da tarde dos seus dias, anda a pensar nas mulheres muito mais que antes, até há uma hora daquelas, quando média idade ele tinha. Certamente, é porque dos olhos delas escorrem rimas e lirismo, ou talvez porque das suas atitudes e volteios fluem formosura e graça. Ele deixou grafado em boa tinta e excelente papel que, quando permitimos, elas transformam tudo ao redor em poesia e fazem dos nossos lares sínteses de felicidade. Sim, quando as temos em casa.
A senhora Stael dizia sentir-se feliz por não ser homem, porque, se o fosse, teria de casar com uma mulher. Já a diva Marlene Dietrich apregoava que muitas mulheres não sossegam enquanto não mudam o seu homem. E, quando o conseguem, ele perde a graça.
Isso é pura sacanagem. As duas acima erram quando assumem tais posicionamentos. Discordo total e incisivamente.
Alguém viu o Plutarco por aí, certamente. É este filósofo grego, peralta de ofício, morto há uma cacetada de séculos, o autor de um aforismo segundo o qual nada é tão flexível como a língua da mulher, nada é tão pérfido como os seus remorsos, nada é mais terrível que a sua maldade, nada é mais sensível que as suas lágrimas.
Esse cara não teve mãe, no mínimo. Muito grave. Forte demais. À exceção da questão das lágrimas, tudo é um completo disparate.
Quando tocadas na alma pela alma nobre de um cavalheiro de verdade, tais argumentos caem por terra. Elas precisam de amor e carinho, só. Além do luxo em doses profiláticas, um porsche vermelho cai muito bem.
Cabe observar, pois, que as mulheres analisam todos os fatores nos mínimos detalhes, inclusive, os sórdidos, ou aqueles que fogem à realidade. São minudentes ao extremo, mas são humanas e, às vezes, coisas extremamente importantes passam ao largo e elas ficam feito bolha n’água.
O livre pensante anota minúcias, de memória, com os cantos dos olhos, para não levantar suspeita mínima. É que o respeito é maior que a vontade de bem analisar. Nascido em berço estilo miçanga, ele jamais seria um basbaque abelhudo.
Sondagem do tipo meia boca – mas sem treta – levou o cronista peripatético a observar que moças moderninhas adeptas dos regimes lunares, solares, estelares e o raio que o parta, aquelas estilo macarrão, ou acessíveis apenas no modo tripa fina, desagradam a uma multidão de homens, mas agradam às próprias mulheres. Fêmeas mesmo. Segundo o ponto de vista das melhores estetas do ambiente refinado, a não depender da idade, o que mais vale é a silhueta ossuda. Pois.
Todavia, por outro lado, a tal pesquisa sem muitos critérios, à boca miúda, revela, aqui pra nós, que as beldades estilo fortinha mas nem tantocaem em cheio nas graças de nove entre dez homens destas civilizações ocidentais. Elas estão com a bola toda. Nenhuma surpresa, mas espatifou-se no chão o queixo, o tal poeta maduro esqueceu de apanhá-lo e ainda está de boca aberta. Aplausos demorados e de pé! Elas merecem.
Um único ser masculino ponderou que as magras apresentam costelas proeminentes em que você pode ou deve se segurar, para não cair não sei de onde. Uns vinte caras disseram que as fortinhas mas nem tanto, além de serem vistosas e lindas, têm muito mais onde acariciar com as mãos arteiras. Há áreas vastas, com planícies e campinas, por onde o príncipe tarado viajará calmamente e fará exploração completa usando os artefatos linguodentais, além de beijos em profusão diluviana. Em síntese, um pouco mais de carne e músculos as tem levado à categoria top de linha. Lindas, sim.
Daí foi que a Matilde, rodando aí pelas cinquenta voltas, se meteu no meio e, como de hábito, desvirtuou o rumo da prosa, ou quase:
– Carinha que morava comigo era cheio de frescura. Diz ele que foi fazer mestrado nas estranjas. Espanha, parece. Era educadíssimo. Fino mesmo. Destes que abrem a porta do carro, que puxam a cadeira pra gente sentar, e por aí vai. Ele era tão assim, que dizia para eu não ter medo de me livrar da maquiagem, porque ao natural é mais sexy. Pode?
Segundo o poeta cortês, faziam muito sentido as palavras da moçoila. Esse tipo de homem, tipo um roberto carlos em avançado estágio romântico, já não se encontra em qualquer banheiro público, não.
Um dia, então, ele anotou e aqui transcreve revelação bombástica, em resposta às conjecturas da Matilde, uma mulher não acostumada a homens de boa formação:
– Os homens também esperam por abraços e apertos de mãos. Uma carícia no cangote, ou uma olhada de soslaio não deve sempre levar ao sexo. O romantismo ainda povoa os sonhos de homens e mulheres, apesar de vivermos a plena pós-modernidade. Mas nós podemos fazer amor a qualquer hora, sim, sempre que você queira. Devo admitir e difundir pelas galáxias afora que não existe melhor som do que o de uma mulher tendo um orgasmo… Apesar de que o escapamento de um porsche boxster é bom pra caramba também!
Foi por uma destas noitadas da vida que o poeta e companhia estavam à mercê da discussão educadíssima de um casal de amigos, em mesa de bar. Um debate muito parcimonioso estabelecera-se entre os dois. Coisa de gente de fino trato.
O casal formado por uma psicóloga e um professor universitário seria a síntese da fortuna a dois. Não se pode confirmar geral e nem dizer o contrário, porque sentir os cheiros noturnos debaixo do cobertor é coisa deveras particular. Cada um no seu quadrado. Nós falávamos sobre verdades e mentiras caóticas que apodrecem os relacionamentos por aí afora. E foi ele quem disse algo muito interessante:
– Não vou dizer que não minto. Sou humano e masculino. Mas devo admitir que só mentiria com o intuito de ver você se sentir bem. Não vejo porque ficar zangada com isso, se você, realmente, não estava procurando a verdade de qualquer maneira. Não fomos ao restaurante do lago, como eu disse e como você queria, mas viemos para ficar aqui, à beira do rio, num local bacana, onde sempre se sentiu aconchegada. Bom mesmo é que eu acertei em cheio. A sua cara de felicidade é testemunha disso.
– Gosto desse seu ar professoral, mesmo quando está em estágio etílico além do normal. – Ponderou a bela, ao que ele completou:
– As mulheres não deveriam ter as tais raivas súbitas e muitas vezes sem sentido, o que não é o seu caso. Considerando as similaridades em termos culturais, antes de tudo, é preciso que fique muito claro que alguns acertos ou correções de percurso devem ser feitos. Quando você ficar com raiva de alguma coisinha estúpida e sem sentido, por exemplo, eu questionarei a sua inteligência, certamente, e a mesma atitude pode ser recíproca.
Imaginemos uma conversa dessa entre dois turrões sem traquejo e sem educação. Acabaria na bala e a polícia teria trabalho.
Em verdade, elas são belas, maravilhosas, espetaculares e tudo o mais, mas são falíveis posto que humanas. É preciso, então, compreendê-las nas suas imperfeições e beijá-las e amá-las nos seus estados de tensão, inclusive, este a que denominam pré-menstrual.
Ora, pois-pois… Melhor de tudo é que, realmente, elas enfeitam o nosso mundinho serelepe. Coisa de Deus.

A Gazeta do Acre: