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Oitenta anos da Academia Acreana de Letras

Neste 17 de novembro de 2017 a ACADEMIA ACREANA DE LETRAS (AAL) completa 80 anos de sua fundação. As comemorações ocorreram no dia 14/11/2017, às 19 horas, no salão nobre do Centro Cultural do Tribunal de Justiça – TJAC. Posteriormente, no dia 23 do corrente, na Assembléia Legislativa do Acre – ALEAC, por iniciativa da Deputada Eliane Sinhasique, que faz parte do quadro social como membro honorário, juntamente Daniel Zen e Ney Amorim. Também entre 14 e 23 haverá solenidade na UFAC, com a presença de dois membros honorários: Dr. Minoru Kinpara e Dr.ª Guida Aquino. A comunidade do Acre está convidada a celebrar, juntamente o sodalício da AAL, dessa importante comemoração. No dia14/11/2017, a Academia Acreana de Letras recebeu, em seu quadro social, novo membro honorário, a Desembargadora Dr.ª Denise Castelo Bonfim.
A instituição e a palavra academia têm uma origem interessante, que remonta a Grécia Antiga, provindo de uma escola instalada em Atenas, por volta do ano de 386 antes de Cristo, por Platão. O filósofo havia sido, traiçoeiramente, vendido como escravo pelo rei Dioniso I, de Siracusa, na Sicília. Libertado por um tal de Aniceres, que pagou o preço do resgate e depois recusou a quantia de três mil dracmas cotizados por amigos de Platão para ressarcir o comprador. Então, esses amigos utilizaram o dinheiro para comprar uma espécie de chácara, situada no subúrbio de Atenas. Lá existia um jardim dedicado a um herói ateniense, por nome Akademos, que revelou a Castor e Pólux o lugar onde se encontrava a irmã deles. Helena – de Tróia. Em homenagem a Akademos, deram ao sítio o nome de Academia. “Ali fundou Platão” – informa Will Durant – “a universidade que estava destinada a ser o centro intelectual da Grécia durante novecentos anos”.
A Academia de Platão – que ele dirigiu por trinta anos, até morrer – era, pois, uma universidade. Nela se ministravam cursos de filosofia, ciências, letras. Durou mais do que duraram até agora as modernas e mais antigas universidades européias – fundadas quase todas entre os séculos XII e XIII da era cristã: a de Bolonha, a de Coimbra, a de Paris, a de Oxford.
Durante muito tempo a Academia de Platão foi considerada a primeira universidade da Europa. Não é verdade. Will Durant esclarece: “Não foi, entretanto, a primeira universidade: a escola pitagórica de Crotona, já em 520, havia proporcionado variedade de cursos para uma comunidade escolar, a escola de Isócrates precedeu de oito anos a Academia”. E diz, falando de Isócrates (que foi discípulo de Sócrates, tal como Platão o fora): “Em 391 abriu a mais bem sucedida de todas as escolas de retórica de Atenas. De todas as partes do mundo grego afluíram moços desejosos de se fazerem discípulos de Sócrates; talvez a variedade de origem e de aspectos desses estudantes auxiliasse o mestre a formar a sua filosofia pan-helênica”.
A Academia de Platão foi, portanto, a terceira universidade da Europa. Aristóteles, discípulo de Platão, também fundou em 334 a.C. uma escola de Retórica e Filosofia que pode ser considerada uma espécie de universidade. Portanto a quarta da Europa chamou-se Liceu – nome devido ao acaso, sem relação alguma com a coisa nomeada. Conta Will Durant: “Escolheu para o local o mais elegante dos ginásios de Atenas, um grupo de edifícios dedicados a Apolo Liceu (deus dos pastores), cercou-o de sombreados jardins e alamedas cobertas. Pela manhã ensinava matérias adiantadas a estudantes regulares; durante o dia dava preleções a auditório mais popular, provavelmente sobre retórica, poesia, ética e política.
As academias de letras modernas começaram a surgir com a fundação da Academia Francesa, no século XVII, em Paris, pelo Cardeal Richelieu, todo-poderoso no reinado de Luís XIII. Richelieu elaborou o estatuto, e fixou o número de acadêmicos – quarenta – que se tornou padrão de quase todas as academias congêneres. Essa origem oficial, governamental, estatal, também a de outras academias européias. Não foi, porém, o caso da primeira academia de Portugal, que parece ter sido a Academia dos Generosos.
No Brasil houve diversas academias no período colonial. Todas mais ou menos efêmeras: Academia Brasileira dos Esquecidos, criada em 1724, na Bahia; Academia dos Felizes, instalada em 1736, no Rio de Janeiro; Academia dos Seletos, fundada no Rio de Janeiro em 1752, e que durou pouco tempo; Academia Científica do Rio de Janeiro, fundada em 1772 pelo médico José Henrique de Paiva, para estudos médicos, cirúrgicos,higiênicos, farmacêuticos, e também pesquisas agronômicas e que interessassem ao desenvolvimento da lavoura e fossem uma garantia das culturas contra as pragas que as infestavam.
A Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, foi àquela que ganhou vida e perdura até hoje. Fundaram-na, principalmente, Lúcio de Mendonça e Machado de Assis, em 1896, e foi instalada em 1897. No discurso de instalação da Academia – um modelo de concisão e elegância – Machado de Assis, eleito presidente, começou a definir a missão, o papel e o sentido da academia: “Não é preciso definir esta instituição. Iniciada por um moço, aceita e completada por moços, a Academia nasce com a alma nova e naturalmente ambiciosa. O vosso desejo é conservar, no meio da federação política, a unidade literária. Tal obra exige não só a compreensão pública, mas ainda e principalmente a vossa constância. A Academia Francesa, pela qual se modelou, sobrevive aos acontecimentos de toda a casta, às escolas literárias e às transformações civis. A vossa há de querer ter as mesmas feições de estabilidade e progresso”.
A importância da Academia Acreana de Letras, no Estado do Acre, flui do liame profundo que existe entre este sodalício e a cultura regional, nacional, internacional
A esta Augusta Casa cumpre seja sempre fecundada, sobretudo, quando o contexto histórico endeusa a ciência, aqui se faz o culto às letras, à literatura, à cultura, à poesia. Esta deificação é visível neste início de milênio quando o cientificismo, mais do que nunca, quer ser a chave mágica para solução de todas as questões, pretendendo resolver todos os reais problemas da humanidade.
Neste início do século XXI é grande o papel das Academias de Letras para vencer o individualismo, o liberalismo e o pernicioso relativismo. Neste mundo agitado os acadêmicos, pela sua serenidade, pela sua liberdade de expressão, pela confiança que inspiram no porvir, podem e devem ser os defensores da verdade expressa com os esplendores que só a literatura confere à comunicação daquele que ultrapassa o tempo, penetra a eternidade para, em seguida, iluminar este mundo. Parabéns e vida eterna à Academia Acreana de Letras – AAL ao completar 80 anos. Que os senhores do poder leguem um sítio à Academia sem que o sodalício pague dracmas cotizadas, porque a cultura, o saber, a literatura e a poesia são armas libertadoras da alma humana na construção de um mundo belo e feliz. Nós escrevemos, fazemos a memória cultural da região. Afinal, a língua é a alegria dos seres humanos. Nesta AAL repousa a poesia do desejo, a melancolia dos gritos premidos, o advento das estações, a exaltação do fino mistério soprado, quem sabe, pelo próprio Deus.

A Gazeta do Acre: