Num mundo em que a insensatez é grande, pois não se concebe mais um modo de vida simples e equilibrado, vida de prazer comedido, que por si só, se contrapõe, não apenas a dor, mas, sobretudo, ao tédio. Num mundo em que entre lutar pela vida e matar, pontificam as mortes trágicas: homicídios a cada minuto, guerras convencionais e atentados criminosos. Mundo em que a vida humana perdeu o valor, afinal mata-se por coisas tão banais. Mata-se por um picolé, ou uma dose de cachaça.
Mundo em que se constata que o homem deixou, em sua maioria, de ser consciente de si e dos outros. Não tem capacidade de reflexão e de reconhecer a existência do próximo como sujeito ético igual a ele. Perdemos a consciência moral, trocamos a verdade pela mentira. Podemos dizer a verdade, contudo preferimos a mentira. É assim aqui, ali ou em qualquer outro lugar nos quadrantes da terra.
Alias, neste contexto mundial, o Brasil se destaca, entre outras sandices, por banalizar os crimes de estupros e o assassinatos de crianças e mulheres indefesas. Aqui, vulgarizamos e até contamos piadas sobre as improbidades do executivo, do legislativo e do judiciário; aceitamos passivamente a cultura da morte e a cultura da droga e; continuamos sem solução para o problema da gravidez e por extensão do aborto na adolescência, que não consegue sair do campo das soluções teóricas.Não julgamos mais à luz dos valores e da ética, por exemplo, essa cultura do crime perverso e da violência de uns contra outros. Ao que parece, é o que sempre repito, perdemos a capacidade de discernir e compreender essa realidade estúpida em que vivemos.
Essa cultura destrutiva é produto, também, de filosofias, do passado, do tipo idealismo e naturalismo que surgiram como expressões de uma sociedade que fora ideada para a libertação do homem, mas que caiu sob a escravidão de objetos que ela própria criara.
Este é o fundo do ataque de Pascal ao predomínio da racionalidade matemática no século XVIII; é o fundo do ataque de Kierkegaard ao predominio da lógica despersonalizante no pensamento de Hegel. É o fundo da luta de Marx contra a desumanização ecônomica, do esforço de Nietzsche em prol da criatividade; do combate de Bergson contra o reino espacial de objetos mortos. É o fundo do desejo da maioria dos filosófos da vida, de salvar a vida do poder destrutivo da auto-afirmação do eu, numa situação na qual o EU estava cada vez mais perdido em seu mundo. Esses filosófos da vida tentaram indicar um caminho para a coragem de ser como si próprio, sob condições que aniquilam o EU e o substituem pela coisa (Paul Tillich).
Num mundo assim há de se louvar aqueles que querem e lutam por viver. Que tem vontade de viver!
O astrofísico Stephen Hawking, cujos movimentos do corpo são limitados por uma doença degenerativa há cinco décadas, é um bom exemplo dessa tenacidade pela vida. Quando era um estudante de 21 anos, Stephen Hawking descobriu que sofria de esclerose lateral amiotrófica, doença degenerativa que mata as células nervosas responsáveis pelo controle da musculatura. Na previsão dos médicos, ele teria alguns meses de vida, nos quais assistiria o corpo fugir progressivamente de seu controle. Contra fortes evidências, APOSTOU na VIDA – e se tornou protagonista de uma história fantástica. Aos 70 anos, já se casou duas vezes, teve três filhos e três netos, experimentou a gravidade zero num voo sub-orbital, acrescentou dados novos à teoria da relatividade de Einstein e popularizou a ciência ao escrever livros como Uma breve história do tempo (1988) e O universo numa casca de noz (2001).
Outro dia Stephen Hawking disse: “Não posso dizer que a doença foi uma sorte, mas hoje sou mais feliz do que era antes do diagnóstico” “Não importa quanto à vida possa ser ruim, sempre existe algo que você pode fazer, e triunfar”.
Ah, ia esquecendo: No debate sobre a morte digna, o físico defende a poderosa vontade de viver.
* Gestor de Educação Superior / Humanista.
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