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Amor de irmão

Dizem que tudo que acontece em nossas vidas tem algo a nos ensinar. E eu nunca duvidei disso. Mas, essa semana em especial, tive a oportunidade de presenciar o verdadeiro amor entre irmãos.
Em um leito do pronto socorro, enquanto lutava para acalmar meu pai e me acalmar, uma mulher de semblante sereno e sorriso largo se aproximou. Ela me ajudou e me ensinou técnicas que só poderiam ser de uma enfermeira, nenhum outro profissional.
Não aguentei e perguntei: Você é enfermeira? E ela, sorrindo, disse: Não. Estou há dois meses perambulando por hospitais. A mulher que ela acompanhava sofreu um aneurisma e tinha acabado de passar por uma cirurgia delicada. A partir daí comecei a observar o carinho que ela tinha pela pessoa que estava cuidando.
“Minha princesa”, “meu amor”, “minha rainha”, era como ela se referia e falava com a mulher. Fiquei encantada com tanto amor, não aguentei e fiz mais uma pergunta: Ela é sua mãe? Para minha surpresa sua resposta foi negativa. A mulher que estava deitada naquele leito, sem conseguir falar ou se mexer, era sua irmã.
Passei a noite inteira observando meu pai e elas duas, pensando em como Pedro Bial estava certo ao escrever, em um trecho de Filtro Solar: “Seja legal com seus irmãos. Eles são a melhor ponte com o seu passado e possivelmente quem vai sempre mesmo te apoiar no futuro”. Nesse momento foi impossível conter as lágrimas.
A madrugada parecia ter 24 horas, mas finalmente o dia amanheceu. Nem eu, nem minha colega de leito dormimos, mas a felicidade que ela trazia em seu rosto valeu cada minuto naquela cadeira de plástico. Mais um dia vencido e com notícias boas logo cedo: sua irmã estava se recuperando bem.
Meu pai recebeu alta médica e eu fui agradecer pelos ensinamentos e ajuda durante a noite. Nos abraçamos forte e desejamos muita saúde aos nossos familiares. Ela não sabe, mas naquela noite eu aprendi mais do que cuidados com idosos, aprendi a valorizar e amar ainda mais meus irmãos de sangue e de vida.
Eu não conheço a história daquela família tão pouco a educação que os filhos receberam de seus pais. A única certeza que tenho é de que lhes foi ensinado a amar. Amar o próximo como a ti mesmo. E se esse “próximo” for seu irmão, amar ainda mais.

“Ela não sabe, mas naquela noite eu aprendi mais do que cuidados com idosos, aprendi a valorizar e amar ainda mais meus irmãos de sangue e de vida”

Fabiano Azevedo: