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Comandante mais jovem da PM/AC, Marcos Kinpara vai focar gestão na motivação da tropa e no combate ao crime organizado

De forma segura e com um olhar de quem sabe o grande desafio que tem nas mãos, o novo comandante-geral da Polícia Militar do Acre, coronel Marcos Kinpara, recebeu a equipe do Jornal A GAZETA para falar sobre gestão, Segurança Pública, policiamento ostensivo e combate ao crime organizado.
Durante a entrevista, ele contou orgulhoso que já foi morador da Baixada da Sobral, local pelo qual nutre muito carinho. Na juventude, Kinpara estudou na Escola Serafim da Silva Salgado e, sempre que podia, ajudava a mãe com os afazeres.
Na última quinta-feira, 18, ele assumiu o comando da PM/AC durante solenidade em frente à Praça da Revolução. Foi um momento de emoção para ele e a família.
Kinpara, o mais jovem comandante a assumir a Polícia Militar acreana, coleciona grandes experiências na área da Segurança Pública, como as vezes em que viajou para o exterior em busca de conhecimento e quando participou da missão de paz da Organização das Nações Unidas (ONU), no Sudão do Sul.
Agora, ele está à frente da maior força de segurança do Estado em termos de tamanho, que é a Polícia Militar do Acre. Comandar uma das mais importantes instituições públicas do Acre não será tarefa fácil, mas Kinpara afirma que fará tudo com humildade e responsabilidade.

A GAZETA – Diante dessa nova missão de comandar a Polícia Militar do Acre, no que o senhor irá focar a sua gestão?
Marcos Kinpara – Foi um longo caminho percorrido. Já tenho quase 23 anos de Polícia Militar e 25 trabalhando no Estado. A gente chega primeiramente com humildade, que eu acho que você tem que ter. Não há nenhuma soberba. Da mesma forma que eu entrei em 1995, vou continuar hoje, mas é claro que com mais responsabilidade. O que pesa para mim e o que é mais importante é a responsabilidade. Também sei que tudo o que eu trilhei e da forma que eu trabalhei deu certo porque eu cheguei no ápice profissional.
Das primeiras coisas que eu quero trabalhar é a tropa, do soldado ao coronel. Visitar as unidades do interior e da Capital. São 10 batalhões, sendo cinco em Rio Branco e cinco no interior. Vamos ouvir, porque eu acho que isso deve acontecer. A minha intenção é realmente motivar a tropa. Entendo que prestaremos um serviço de qualidade se o policial militar estiver bem, motivado. Quando digo tropa eu me refiro ao soldado, cabo, sargento, subtenente, do segundo tenente, do primeiro, do capitão, do major, do tenente-coronel e do coronel. Todos têm que estar motivados.

A GAZETA – O senhor já tem alguma mudança em mente?
M. K. – Mudanças vão ocorrer nas funções e isso é normal. Precisamos trabalhar duro para conseguir dar tranquilidade à população. Eu olho muito à frente. Eu sou totalmente acessível à questão de tecnologias novas, de ferramentas de administração e ideias novas. Temos um planejamento estratégico que foi realizado no final do ano passado que é muito bom. Ele tem vários eixos que foram deixados e que eu vou aproveitar. Temos que ter visão de futuro e captar recursos. Em tempos de crise, esses recursos podem ser captados por meio de convênios com instituições, com as prefeituras, com o próprio Detran, o Ibama e o Imac, que são órgãos que utilizam o policiamento florestal. A nossa parte está sendo feita com operações. Iremos investir no policiamento com o uso de motocicletas, porque é ágil, rápido e entra em qualquer local. Esse policiamento tem muito efeito e é uma prioridade do Governo do Estado, da Secretaria de Segurança, através da Polícia Militar.

A GAZETA – O país e também o Estado tenta se recuperar de uma forte crise econômica. Portanto, o senhor assume em um momento delicado, logo após haver a possibilidade de corte da gratificação da sexta parte da categoria. Essa situação pode desmotivar os policiais ou é uma página virada?
M. K. – Isso aí é uma recomendação que tinha do Ministério Público. O Governo do Estado, através da Secretaria e dos Comandos do Bombeiro e da PM, sentaram com o Ministério Público. A recomendação está suspensa até que se analise, porque a nossa legislação é diferente das demais, ela é específica. Em março, a gente pretende apresentar a questão da legislação e mudar. Quando colocar o vencimento básico ou subsídio, ela não alcança mais a gente. Mas, momentaneamente, isso está resolvido. A tropa não precisa se preocupar, porque o Governo do Estado, a Secretaria de Segurança Pública e a Polícia Militar estão empenhados em resolver essa situação, assim como outras.

A GAZETA – Diante das mudanças que serão realizadas, há algo que não tem dado certo e que poderia ser deixado para trás?
M. K. – Tudo o que estamos fazendo tem dado certo. Mas temos que pensar e evoluir com estratégias novas, porque o crime migra e está sempre mudando. Temos que estar à frente e ser proativos. Temos estratégias de operações novas através da inteligência, da análise criminal, quais são os bairros com maior incidência. Trabalhamos com ações integradas, porque a Segurança Pública é o governo todo, é o Estado. Já estamos realizando reuniões e, neste fim de semana, entraremos com operações novas. Aquelas que já existem continuam, mas iremos investir em operações novas, integradas, porque temos o pensamento de que se todos estiverem envolvidos, a missão será mais fácil. Hoje temos uma relação muito boa com a Polícia Civil, o Corpo de Bombeiros, o Detran/AC, a prefeitura, Rbtrans, também com a Secretaria de Segurança Pública, com o Ciosp.

A GAZETA – Ao assumir o comando da PM/AC, o senhor exaltou que irá trabalhar a aproximação da polícia à comunidade. Como será isso?
M. K. – A missão da PM é o policiamento ostensivo, que é garantir a ordem pública e o bem-estar da comunidade. A Constituição Federal, em seu artigo 144, fala que a Segurança Pública é dever do Estado, mas é direito e responsabilidade de todos. Então, todo mundo tem que ajudar. Sabemos que só trabalhar na repressão, como fazemos, prendendo e prendendo, não resolve a questão da segurança. Tem que fazer. Claro que se a pessoa cometeu o crime ela deve ser presa. Mas, eu tenho claramente que a gente tem que investir em prevenção. O que seria prevenção? Um Proerd que forma mais de 9 mil alunos por ano. Eu pretendo ampliá-lo para todos os 22 municípios do Acre. É um desafio porque temos dificuldade de efetivo e, às vezes, da própria estrutura. Contudo, o retorno é alto. Talvez a gente estude também uma forma de retornar a Guarda Mirim. Quero aumentar a Banda Mirim e, se eles tomarem realmente gosto, serão os futuros membros da banda oficial. O que essas crianças e adolescentes aprendem fica para a vida inteira.

A GAZETA – Com um elevado número de homicídios de membros de facções, a população teme estar no meio do fogo cruzado. Quais estratégias serão usadas na sua gestão no combate ao crime organizado?
M. K. – O combate ao crime organizado é feito com um trabalho integrado das polícias Militar e Civil com a inteligência, planejamento estratégico, envolvido com o Iapen, o ISE (Instituto Socioeducativo do Acre), o Poder Judiciário e o Ministério Público. Este será um ano de muitos desafios, mas também de vitórias. Da parte da Polícia Militar, continuaremos com as nossas prisões, com a nossa inteligência trabalhando, e, claro, teremos um reforço maior, porque sabemos que a sociedade precisa desse apoio. Iremos nos empenhar e aumentar o número de operações em todos os municípios, além de focar nas parcerias.

A GAZETA – O coronel Júlio César deixou o comando após realizar diversos avanços na PM/AC como as promoções e os concursos. Para este ano, o que a população pode esperar da administração do quartel?
M. K. – Temos um concurso em andamento. Os selecionados irão fazer o curso de capacitação e isso será um grande reforço para gente de 250 policiais militares. Ao longo do ano, chegarão mais 90 motocicletas, além de viaturas, equipamentos, pistolas, fuzis, coletes balísticos. Pretendemos implantar, ainda, cursos de educação continuada para os policiais para que se aperfeiçoem e se atualizem. Estou empenhado e sabendo da responsabilidade que é estar aqui. É uma missão árdua, mas com planejamento estratégico, com visão de futuro e foco vamos conseguir realmente dar uma resposta na parte da polícia ostensiva.

A GAZETA – O senhor é o mais jovem a assumir o comando da PM/AC?
M. K. – Da Polícia Militar do Acre, eu acho que sou o comandante mais jovem de todos os tempos. Do Brasil, também devo ser um dos mais jovens. Da academia que eu me formei, eu sou o primeiro comandante que saiu de lá e pra mim é uma grande honra.

– O senhor adquiriu muita experiência com os cursos no Japão e nos Estados Unidos e com a missão de paz da ONU no Sudão do Sul. Quais das coisas que viveu lá podem ser colocadas em prática no seu trabalho aqui no Acre?
M. K. – Sobre essas experiências, ao trazê-las para cá, a gente faz algumas adaptações, porque são realidades diferentes. No Japão, por exemplo, é um país em que a sociedade reverencia muito a polícia. Para se ter uma ideia, lá, a maior parte dos policiais japoneses não usam armas. Já no Sudão do Sul, a gente vê muitas coisas piores do que aqui, mas também iguais como o problema do tráfico de drogas, a questão da própria cultura violenta de tribos. Nos Estados Unidos, mesmo sendo um país desenvolvido, com todas as tecnologias avançadas e investimentos na Segurança Pública, eles têm dificuldades de controlar a fronteira e enfrentam crimes de roubo e de furto. Nós temos dificuldades e desafios, mas o governo do Estado, através da Polícia Militar, tem feito reuniões semanais para discutir a Segurança Pública com todo o sistema integrado. A Polícia Militar, durante o meu comando, estará empenhada ao máximo e prestará um serviço de qualidade de segurança à população.

A GAZETA – Esse trabalho requer dedicação total. Isso atrapalha na relação familiar?
M. K. – Estou aqui e sei que vou sair à noite, mas não tem problema algum, pois eu me preparei para isso. A minha família gostou muito e é super compreensiva com essa nova missão. Eles compreendem que é uma tarefa difícil. Mas, como a minha família tem uma base evangélica, eles entendem. Colocamos sempre Deus à frente.

A GAZETA – Qual recado o senhor gostaria de deixar à população acreana?
M. K. – Vamos trabalhar com todo empenho, motivando a nossa tropa. Que eles possam ter certeza que têm um comandante que, quando eles estiverem corretos, irá apoiá-los. Nunca vou desmerecê-los. Peço também o apoio da população para que confie na Polícia Militar do Acre, que é a mais honesta do Brasil. Isso é importante para a motivação desses profissionais.

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Fabiano Azevedo: