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E a tal Quaresma, pra que serve?

Querido(a) leitor(a) do Jornal A GAZETA, Paz e Bem! Estamos iniciando mais um tempo Quaresmal, é o tempo litúrgico em que por 40 dias a Igreja chama os fiéis à penitência e à conversão, para se preparar verdadeiramente para viver os mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo na Semana Santa. Tempo de escuta da Palavra de Deus e de conversão, de preparação e de memória do Batismo, de reconciliação com Deus e com os irmãos, de recurso mais freqüente às “armas da penitência cristã”: a oração, o jejum e a esmola (ver MT 6,1-6.16-18).
De maneira semelhante como o antigo povo de Israel partiu durante quarenta anos pelo deserto para ingressar na terra prometida, a Igreja, o novo povo de Deus, prepara-se durante quarenta dias para celebrar a Páscoa do Senhor. Embora seja um tempo penitencial, não é um tempo triste e depressivo. Trata-se de um tempo especial de purificação e de renovação da vida cristã para poder participar com maior plenitude e gozo do mistério pascal do Senhor.
São Francisco de Assis sempre se recolhia e aproveitava o tempo oportuno da Quaresma para orar e meditar. Era fiel, pois estava encantado pelo Cristo. Queria acima de tudo seu Amor. E dessa vivência saia cheio para falar aos outros, ou mostrava com a própria vida.
Aqui estão cinco pontos que todo católico deve saber sobre a Quaresma:
1. Oração, mortificação e caridade: as três práticas quaresmais – A oração é uma condição indispensável para o encontro com Deus. Na oração, o cristão entra em diálogo íntimo com o Senhor, deixa que a graça entre em seu coração e, como Maria, abre-se para a oração do Espírito cooperando com ela em sua resposta livre e generosa (ver Lc 1,38).
A mortificação se realiza cotidianamente e sem a necessidade de fazer grandes sacrifícios. Com ela, são oferecidos a Cristo aqueles momentos que geram desânimo no transcorrer do dia e se aceita com humildade, gozo e alegria, todas as diversidades que chegam.
Da mesma forma, saber renunciar a certas coisas legítimas ajuda a viver o desapego e desprendimento. Dentro dessa prática quaresmal, estão o jejum e a abstinência que serão explicados mais adiante.
A caridade é necessária como refere São Leão Magno: “Se desejamos chegar à Páscoa santificados em nosso ser, devemos pôr um interesse especialíssimo na aquisição desta virtude, que contém em si as demais e cobre multidão de pecados”.
2. O jejum e a abstinência – O jejum consiste em fazer uma refeição forte por dia, enquanto a abstinência consiste em não comer carne. Com ambos os sacrifícios, reconhecemos a necessidade de fazer obras para reparar o dano causado por nossos pecados e para o bem da Igreja.
Além disso, de forma voluntária, deixam-se de lado necessidades terrenas e se redescobre a necessidade da vida do céu. “Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4,4).
O jejum não proíbe de tomar um pouco de alimento na parte da manhã e à noite. É obrigatório dos 18 aos 59 anos.
Por outro lado, a abstinência, embora proíba o consumo de carne, não é o caso de ovos, leite e qualquer condimento feito a partir de gorduras animais. O jejum é obrigatório a partir de 14 anos de idade.
3. A Quaresma começa com a Quarta-feira de Cinzas e termina na Quinta-feira Santa – Na Quarta-feira de Cinzas, iniciado ontem, começam os 40 dias de preparação para a Páscoa. Após a Missa, o sacerdote abençoa e impõe as cinzas feitas de ramos de oliveira abençoados no Domingo de Ramos do ano anterior. Estas são impostas fazendo o sinal da cruz na testa e dizendo as palavras bíblicas: “Lembra-te que és pó e ao pó retornarás” ou “Convertei-vos e crede no Evangelho”. Desta forma, a cinza é um sinal de humildade e recorda ao cristão sua origem e seu fim.
A Quaresma termina na Quinta-feira Santa. Nesse dia, a Igreja recorda a Última Ceia do Senhor, quando Jesus de Nazaré compartilhou a refeição pela última vez com seus apóstolos antes de ser crucificado na Sexta-feira Santa.
4. A duração da Quaresma está baseada na simbologia do número 40 na Bíblia – Os 40 dias da Quaresma representam o mesmo número de dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública, os quarenta dias do dilúvio, os quarenta dias da marcha do povo judeu pelo deserto, os quarenta dias de Moisés e Elias na montanha e os 400 anos que durou a estadia dos judeus no Egito.
5. Na Quaresma, a cor litúrgica é o roxo – A cor litúrgica deste tempo é o roxo, que significa luto e penitência. É um tempo de reflexão, penitência, conversão espiritual; tempo para preparar o mistério pascal.
Enfim, vamos nós também, nesta “tal Quaresma”, procurar um pouco mais o silêncio e a solidão, que não seja uma fuga das nossas responsabilidades, mas, para experimentarmos os sabores celestiais e enxergarmos melhor a beleza e o equilíbrio que estão contidos no mistério da criação; o jejum e a oração não tenha somente o sabor amargo da penitencia mas, também, o sabor da alegria em contemplar o mistério da redenção e a caridade como fruto inevitável desta bondade contemplada! Uma abençoada e santa Quaresma com Nosso Senhor Jesus Cristo. Paz e Bem.

* Frei Paulo Roberto Gomes é da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos – OFM Cap. Pároco da Paróquia de Bom Jesus do Abunã em Plácido de Castro – Acre. Assistente Espiritual do Núcleo em Formação da Fraternidade da Ordem Franciscana Secular, que se reúne todo 3º domingo do mês, na Paróquia Santa Inês, às 7 horas.

Fabiano Azevedo: