A cidade de Rio Branco vive novamente as agruras duma nova enchente, agravada pelas fortes e intensivas chuvas deste inverno, atingindo muitas famílias que ainda sobrevivem em situação de risco.
Face ao fenômeno natural, em meio tantas opiniões, ouso pousar o meu olhar conceitual e reflexivo sobre o infurtúnio das famílias, independente do nível social, das pequenas e grandes cidades brasileiras, afetadas aqui, em estados adjacentes (Amazonas e Rondônia) pela subida dos rios. Ali, nas regiões serranas pelos deslizamentos, trazendo angústia, aflição, amargura e, quem sabe, desgraça, na medida em que a inundação aumenta.
Penso que o problema do sofrimento humano é assunto, antes de qualquer ciência, da filosofia. Pois, como dizia o filósofo cearense Raimundo de FARIAS BRITO (1862-1917) “Vivemos dolorosamente (angústia e sofrimento) e temos de morrer: eis aí a verdade suprema!” Assim, filosoficamente, sofremos quando nos é ou são tirados os prazeres, sejam os naturais e necessários, comer, beber água, dormir, etc.; sejam os naturais não necessários com suas variações supérfluas; sejam os naturais e vãos, como as riquezas e o poder.
Quando estamos acostumados com algum bem-estar e repentinamente perdemos, principalmente de forma repentina, como é o caso dessas famílias que viram anos de trabalho ser arrastados em poucos minutos pela violência das águas em grande volume e velocidade levando tudo e a todos de roldão, ocasionando destruição e morte, como aconteceu no Estado do Rio de Janeiro, então sofremos.
Tem ao mesmo tempo a questão afetiva: a casa e o lugar ou qualquer outro bem de consumo; os animais de estimação; a pessoa amada que se vai porquanto quis ir ou porque morreu. Essas perdas nos trazem pequenos e grandes sofrimentos, notadamente porque algumas dessas famílias viviam prazerosamente, e quanto maior for o deleite perdido, maior a dor ou o sofrimento. Em outras palavras, o sofrimento humano é ocasionado pela privação daquilo que nos traz felicidade, prazer ou alegria: a prisão é a negação da liberdade; a morte é a privação da vida; a fome é a ausência do alimento; a sede é a privação do saciar-se com a água; a escuridão é a privação da luz; o caos é a negação da ordem; a doença no corpo humano é a falta de saúde plena; etc.
Dentre as muitas lições, que esse grave problema público deixa em seu bojo, posso pontuar, além das impressões acima, duas:
A primeira é que a maior força na face terra, ainda é á força de vontade de homens e mulheres de bem. Compartilhar a mesma condição, reconhecer em si e nos demais a mesma dignidade, enfim, sentir-se no mundo como co-habitantes da mesma possibilidade e neceessidade.
A segunda é que a cada dia aumenta, infelizmente, nos fortes, nos poderosos e nos espertos sem escrúpulos, a capacidade de manipulação e os meios de escravizar os fracos. Realidade que nos remete a uma urgente necessidade de se estabelecer uma moral capaz, como queria o filósofo Emmanuel Lévinas, de proteger o homem contra o próprio homem.
*Gestor de Educação Superior/Humanista. E-mail: [email protected]