Caro irmão, cara irmã, leitores do Jornal A GAZETA, neste mês, gostaria de trazer até vocês uma breve reflexão sobre a compreensão que Francisco tem sobre a Igreja. Diz seu no Testamento que: desde os primeiros momentos da Ordem Franciscana, Deus concedeu a ele, e aos seus irmãos, “tanta fé nas igrejas” e “tanta fé nos sacerdotes”, ele possuía com certeza uma compreensão toda própria sobre o Mistério da Igreja. Quando fala dela, Francisco se refere sempre a seus elementos visíveis e tangíveis: as coisas, as pessoas, os edifícios, aos ritos; para ele, são “Igreja”, são sinais da presença real de Cristo, embora de forma mística. Presença que tudo santifica e congrega em torno do Irmão mais Velho, Verbo nascido à beira do caminho. Também é Família congregada por Cristo, sacramento de um Pai que é fonte de todo bem, sinal e instrumento da intima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano. Francisco convida-nos a amar intensamente a santa mãe Igreja, meditando sobre seu mistério, estudando seus ensinamentos e aderindo a eles com fidelidade, participando de sua vida e missão.
Professando nossa fé na Igreja, Una, Santa, Católica, Apostólica, que respira com seus dois pulmões do Oriente e do Ocidente, empenhemo-nos com todas as forças em edificar o Corpo de Cristo e em manifestar a sua unidade, a exemplo de São Francisco, que foi “homem católico e todo apostólico”. A Igreja é “Uma ilustre desconhecida” por seus membros e pelos de fora. É vista somente em sua dimensão humana, institucional, como ente da história e da sociologia. Pouco se aprofunda sobre sua dimensão mistérica, mística, espiritual. Com isso, é reduzida somente aos seus acidentes, as fraquezas de seus membros, deturpando sua identidade profunda de ser; Igreja Povo de Deus, Corpo de Cristo, Templo do Espirito Santo; Assembleia daqueles que, em todos os povos, foram aceitos por Deus, pois temem o Senhor e praticam a justiça. Constituídos em povo de Deus, que O conhece na verdade e santamente O servem: “uma raça eleita, um sacerdócio régio, uma nação santa” (1 Pd 2,9).
São Francisco vê na Igreja Católica a realização dos desígnios de Deus que elegeu um Povo no Antigo Testamento, e o secou de carinho e proteção para ser luz para os povos. A origem e fundação da Igreja estão veiculadas as promessas feitas aos patriarcas, e sua missão é levar todos os povos a formarem a grande família católica, dado que católico significa: mundial, universal, igual no mundo todo. A palavra Igreja vem do grego “EK-Kalein” que quer dizer; chamar fora. Significa “convocação”. Nos desígnios de Deus significa “Assembleia do Povo” (At 19,39 e Ex 19). Ao denominar-se “Igreja”, a primeira comunidade dos que criam no Cristo se reconhece herdeira dessa assembleia. Nela Deus convoca seu povo de todos os confins da terra. A Igreja é o povo que Deus reúne no mundo inteiro.
São Francisco, como nós, cremos que a Igreja é “Santa” e “Católica” e que é “Una” e “Apostólica”, como acrescenta o Símbolo Niceno (325)-Constantinopolitano (380), e que é inseparável da fé em Deus Pai, Filho e Espírito Santo. No Símbolo dos Apóstolos (Creio), fazemos a profissão de crer numa Igreja Santa, e não na Igreja, para não confundir Deus e as suas obras, e para atribuir claramente à bondade de Deus todos os dons que ele colocou na sua Igreja (Catech. R. 1,10,22). A Igreja “não tem outra luz senão a de Cristo; segundo uma imagem cara aos Padres da Igreja, ela é comparável à luz do Sol”. O próprio Cristo é a fonte do ministério na Igreja. Institui-a, deu-lhe autoridade e missão, orientação e finalidade. O Cristo prometeu-lhe ficar com ela até o fim dos tempos (Mt 18,20).
Na história sempre houve, há, haverá contestadores da Igreja como sacramento de salvação. Na época de São Francisco diversas vozes surgiram para contestar, desacreditar, dividir, confundir, desmoralizar a santidade da missão da Igreja; forças vindas de dentro e de fora; mas a verdade triunfou.
Hoje, novamente ouvimos vozes dizendo: Deus sim, Cristo não! Cristo sim, Igreja não! Igreja sim, Cristo não! Com isso o mar da vida fica agitado balançando a Barca-Igreja, trazendo confusão para muitos. Francisco convida-nos a sermos fieis a Igreja. Por isso, a Igreja como instituição é uma verdade óbvia para ele. O que importa é ver nela o lugar da comunhão com Cristo; a importância das estruturas visíveis está no fato de que elas estão a serviço da comunhão eclesial. A Igreja, portanto, é lugar onde a Trindade está conosco, onde Cristo habita e vive ainda depois da ressurreição e ascensão, onde Cristo age em unidade com o Pai e com o Espirito Santo.
A exemplo de São Francisco de Assis, que foi homem católico e todo apostólico, prestemos fiel obediência ao Espírito de Cristo que vive e opera na Igreja. Prestemos obediência e reverência ao Papa, a quem o Senhor constituiu pastor supremo e guardião do deposito da fé que ele nos deixou. Empenhemo-nos a fomentar nos ambientes da vida o amor e reverencia a Santa Igreja. A todos PAZ E BEM!
* Frei Paulo Roberto Gomes é da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos – OFM Cap.
Pároco da Paróquia de Bom Jesus do Abunã em Plácido de Castro – Acre.
Assistente Espiritual do Núcleo em Formação da Fraternidade da Ordem Franciscana Secular – OFS, que se reúne todo 3º domingo do mês, na Paróquia Santa Inês, às 7 horas.