A chuva que insistiu em cair nesta quinta-feira, 15, aumentou o drama vivido pelas famílias atingidas pelas enxurradas causadas pelo transbordamento de todos os igarapés de Rio Branco, depois de 10 horas de chuva ocorrida na última terça-feira, 13. Ainda nesta quinta-feira, o Corpo de Bombeiros do Acre recebe pedido de ajuda na remoção de famílias atingida pelas águas que são levadas a casas de familiares.
Os principais bairros atingidos por inundações foram Bosque, Estação Experimental, Tangará, Esperança, Conquista, João Eduardo, Manoel Julião, Vila Betel, Jacarandá entre outros.
Pelas redes sociais, algumas pessoas se mobilizam e tentam angariar algumas doações como materiais de limpeza, alimentos e colchões. Além disso, a prefeitura de Rio Branco está disponibilizando para as famílias atingidas kits de limpeza para fazer a higienização dos imóveis. Inicialmente serão distribuídas 500 unidades contendo balde, água sanitária, vassoura, sabão em pó e pano de chão.
Todos os principais igarapés que cortam os bairros da capital transbordaram. Foram registradas enxurrada nos igarapés São Francisco, Batista, Dias Martins, Redenção, Almoço, Amaro e Judia.
Segundo a Defesa Civil de Rio Branco pelo menos 900 famílias foram atingidas pela enxurrada. O coordenador do órgão, o coronel George Santos, explicou que além de fazer um levantamento sobre o número exato de famílias atingidas, as casas também serão avaliadas.
“Iremos avaliar os danos nas construções para definir se as famílias podem ou não retornar para os locais. Vamos definir qual o destino que vai ser dado para essas famílias que, temporariamente, foram desalojadas. Como é uma situação de enxurrada e não de cheia, os abrigos não estão mobilizados ainda. Algumas casas colapsaram e estamos fazendo o levantamento”, esclareceu.
Proporção do volume de chuva que caiu na capital e a possibilidade de enchente
O coronel George Santos que é especialista em Planejamento e Gestão em Defesa Civil, afirmou que se a chuva que atingiu Rio Branco entre a noite desta terça e quarta-feira tivesse ocorrido no Alto Acre estaríamos, em seis dias, com uma das maiores enchentes de Rio Branco.
Por exemplo, o volume de chuvas que caiu em Rio Branco na última terça-feira foi semelhante a enxurrada que se abateu sobre o Alto Acre em 2015, ano que houve grande alagação no Acre, afirmou o coronel.
E por falar em alagação do Rio Acre, essa é uma possibilidade que não está descartada. Ainda de acordo com a Defesa Civil, 73% das enchentes acontecem nesse período do ano, fevereiro e março.
O coronel alerta ainda que quando o rio está subindo nas cabeceiras, Assis Brasil, Brasiléia e Xapuri, o natural é que esse volume desague em Rio Branco, o que naturalmente causará elevação no nível das águas.
O nível do Rio Acre continua subindo sem trégua em Rio Branco. Nesta quinta-feira, dia 15, o manancial apresenta nível de 13,08 metros, mais de 30 centímetros da medição feita na quarta-feira, 14.
Ainda nesta quinta-feira, ele baixou de 13.08 para 13.01 metros, em Rio Branco. Já em Assis Brasil, o rio começou a elevar novamente seu nível marcando pouco mais de 5 metros e em Brasileia o registro é de 7,37 metros.
O Riozinho do Rola, principal afluente do rio Acre, também aumento seu nível e registrou 12,23 metros.
A Defesa Civil destaca que no interior do Acre, por onde o rio passa, não tem chovido muito, o que ajuda na manutenção do nível. Contudo, os afluentes do rio que ficam mais próximos de Rio Branco, onde a chuva tem sido intensa e em grande volume, estão subindo, o que, consequentemente, eleva o nível do Rio Acre.
Friale alerta para a possibilidade de chuvas volumosas até sábado, 17
O pesquisador meteorológico Davi Friale, reforça que a previsão para os próximos dias é de mais chuva volumosa na maior parte do Acre, pelo menos até o próximo sábado, 17.
O pesquisador alerta que os níveis dos rios Acre, em Rio Branco, e Iaco, em Sena Madureira, devem ficar próximo da cota de alerta, podendo transbordar até o fim desta semana, mas sem tendências, por enquanto, a enchentes de proporções alarmantes.
“Há probabilidade média de ocorrência de chuvas fortes e volumosas, em muitas áreas, podendo causar transtornos à população de pontos vulneráveis, como rápida inundação de ruas, transbordamento de córregos e igarapés”, ressaltou Friale.
Sobre a chuva história, Friale esclarece que o fenômeno foi provocado, basicamente, por quatro fatores, como havia sido anunciado, pelo O Tempo Aqui, com bastante antecedência.
Foram eles, a aproximação e a chegada de uma frente fria polar, a elevada umidade do ar trazida por ventos do Atlântico Norte, o calor característico do verão amazônico, a formação de um centro de baixa pressão atmosférica sobre a região de Rio Branco.
Polêmica dos números
Além dos estragos e do drama vivido pelas famílias atingidas pelas águas, o número divulgado pela Defesa Civil a respeito do volume de chuva que caiu em Rio Branco na última terça-feira, 13, foi contestado pelo vereador Roberto Duarte.
Segundo ele, o Instituto Nacional de Meteorologia – INMET aponta que a chuva que caiu em Rio Branco na noite da terça-feira, 13, não passou de 160mm. Enquanto que a Defesa Civil que o volume seria de 277,4 mm.
A divergência de números, de acordo com o coordenador do órgão, o coronel George Santos, o que ocorreu que cada instituição possui uma leitura diferente sobre a quantidade de chuvas, e o coordenador da Defesa Civil afirma que costuma se basear pelo “maior quantitativo”.
“As chuvas ocorrem de maneira diferente em cada ponto de coleta do pluviômetro, o que pode acarretar diferentes leituras. A cada três horas, diariamente, partir das 6h da manhã, nessa época do ano, são divulgadas informações pluviométricas, níveis dos rios e a influência das chuvas sobre esses mananciais”, ressaltou o coordenador.
Outra voz nessa polêmica é a do pesquisador meteorológico, Davi Friale, que confirma a informação divulgada pela Defesa Civil. O dia 13 de fevereiro de 2018 será lembrado como o dia que mais choveu em Rio Branco desde que começaram os registros meteorológicos oficiais na década de 1960.
De acordo com ele, choveu, em apenas, 10 horas, 159,2mm, na região do bairro do Tucumã, registrado pelo Instituto Nacional de Meteorologia, e 277,0mm, perto do centro da cidade, segundo o registro da Agência Nacional de Águas.
Foi, neste dia, a chuva mais volumosa de todo o Brasil. Antes desta data, conforme os registros oficiais, os maiores valores em 24 horas, foram inferiores a 150mm, ocorridos em dezembro de 1971 e em abril de 1985, com 129,6mm e 129,2mm. Choveu um pouco mais, em torno de 140mm, em janeiro de 2014.