Ícone do site Jornal A Gazeta do Acre

A Academia Acreana de Letras, em 80 anos, realiza a sétima eleição

Hoje é data expressiva para a Academia Acreana de Letras – AAL, a instituição literária mais antiga e importante do Estado do Acre. Acontece, no Centro Cultural do TJAC, a eleição de nova Diretoria para o biênio 2018-2020, das 10 às 15 horas. Podem votar os 36 imortais que fazem parte, hoje, do sodalício (temos 4 cadeiras  vacantes). É uma eleição que restaura e fortalece o rito estatutário e regimental da AAL, que ficou imêmore por duas décadas e ressurgiu, com fôlego, no ano de 2015. Por isso é importante que cada acadêmico deposite o seu voto inteiro, não uma simples tira de papel, ou um simples e-mail (correa.pontes@globo.com), mas deposite toda  confiança na equipe que mantém viva a Academia Acreana de Letras, que renasce das cinzas e caminha sob a égide da esperança, da força da literatura e das palavras, em cenário acreano.
A instituição e a palavra academia têm origem na Grécia Antiga. Proveio de uma escola instalada em Atenas, por volta do ano de 386 a.C., por Platão. Lá existia um jardim dedicado a um herói ateniense, por nome Akademos, (aquele que revelou a Castor e Pólux o lugar onde se encontrava a irmã deles, a Helena de Tróia). Pois bem, em homenagem a Akademos, deram ao sítio o nome de Academia. Ali fundou Platão a universidade que estava destinada a ser o centro intelectual da Grécia durante novecentos anos. A partir de então, muitas academias foram fundadas.
As academias de letras modernas começaram a surgir com a fundação da Academia Francesa, no século XVII, em Paris, pelo Cardeal Richelieu, todo poderoso no reinado de Luís XIII. Richelieu elaborou o estatuto, e fixou o número de acadêmicos – quarenta – que se tornou padrão de quase todas as academias congêneres. No Brasil houve diversas academias no período colonial, todas de vida efêmera.
A Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, foi àquela que ganhou vida e perdura até hoje. Fundaram-na, principalmente, Lúcio de Mendonça e Machado de Assis, em 1896, e foi instalada em 1897. No discurso de instalação da Academia – um modelo de concisão e elegância – Machado de Assis, eleito presidente, disse o seguinte:
Não é preciso definir esta instituição. Iniciada por um moço, aceita e completada por moços, a Academia nasce com a alma nova e naturalmente ambiciosa. O vosso desejo é conservar, no meio da federação política, a unidade literária. Tal obra exige não só a compreensão pública, mas ainda e principalmente a vossa constância na vida do país.
No ano de 1937, num ato de extrema ousadia, foi criada a Academia Acreana de Letras. Decorridos 80 anos de sua fundação sem sede, a AAL permanece sem sede e sem apoio de Governos.  A  intervenção dos anos não nos separam das dificuldades do passado. Nunca recebeu incentivo de nenhuma entidade governamental ou não governamental, embora seja a Casa que concentra o maior número de escritores e poetas do Estado do Acre.
Temos, também, renomados cientistas (em número menor do que a UFAC, aqui temos 40 assentos, e a UFAC possui mais de 800 docentes). Contudo, temos gente que produz muito, faz história, literatura, memória e culto ao idioma pátrio, num trabalho peregrino que deixa marcas profundas nos jovens. O ideal de Machado de Assis permanece vivo entre nós e nos anima a seguir adiante.
Pelos fatos aqui descritos, os anos vividos não nos isolam de seus fundadores e tão pouco das dificuldades daquele ano de 1937. Nós escrevemos, fazemos a memória cultural da região. Afinal, a língua é a alegria dos seres humanos. Falar, escrever, pensar, alcançar as fendas onde a metáfora pousa solitária, é nosso mister. Sob o estímulo desta tradição, a Academia Acreana de Letras sempre se rendeu às turbulências da arte, às tentações do pensamento, à insubordinação criadora. Instaurou em seu cotidiano o ritual da cerimônia, quis conciliar o que emana do sagrado e do profano, amenizar as discrepâncias, rejeitar os expurgos arbitrários, tornar o convívio fonte de concórdia.
Hoje, talvez mais do que dantes, é  forçoso proclamar que as quimeras e as ilusões, originárias e atuais nunca se afastarão de sua matriz singular: o culto ao idioma pátrio. Mais que nunca, na origem e no destino, estamos enlaçados ao pacto que nos força a ouvir o coração da população acreana, representada por todos nós, a clamar por apoio às letras, o respeito aos escritores, aos poetas, aos cientistas acreanos.
A tradição de 80 anos nos ensinou a conviver com os impasses da história, a resistir aos tormentos da modernidade e a ousar falar do futuro. Podemos realçar que a glória da instituição repousa, também,  em tantas vitórias individuais que favorecem o coletivo. Por tudo isso, como filhos da pátria, de um idioma composto com sobras latinas, gregas, asiáticas, africanas, espalhada em 4 continentes, possuímos uma feição arqueológica que nos consagra na vida acadêmica e cultural do país.
Quer queiram, quer não, somos os guardiões do idioma pátrio que traduz a vida nesta região do Acre. Isso porque escrever é comum, incomum é escrever poesia, contos, romances, textos científicos, ensaios, resenhas. Mas nem por isso, as autoridades, raras exceções, reverenciam os imortais. Esquecem que a língua portuguesa possui extrema importância no dia a dia da vida. De sua expressividade dependem a guerra e a paz.
É urgente a necessidade de um novo olhar sobre as academias, a literatura, o idioma pátrio. Tudo isso faz parte da imortalidade que permeia entre nós. E ao falar em imortalidade, dizemos que essa adjetivação há muito ronda a Academia Acreana de Letras. Fomentada, decerto, pelo imaginário popular, que na ânsia de crer na perenidade das coisas, na permanência da arte, reveste o criador com o manto da ilusão. Insiste em desprender a arte das agruras do cotidiano, em devolver o artista à vida, sob forma transfigurada. A imortalidade em forma de livros/romances/contos/poesia/ciência.
Nós escrevemos, fazemos a memória cultural da região, significando tão somente o desejo coletivo de prorrogar as ações humanas vinculadas à construção artística, seja ela representada na prosa, na poesia, na ciência, na literatura em geral. Afinal, a língua é a alegria dos seres humanos. Nesta AAL repousa a poesia do desejo, a melancolia dos gritos premidos, o advento das estações, a exaltação do fino mistério soprado, quem sabe, pelo próprio Deus. Que este novo biênio nos oferte uma Casa, onde possamos armazenar nossos sonhos e realizações. Caminharemos firmes na direção de nossas metas, porque o pensamento cria, o desejo atrai e a fé realiza. Feliz eleição para todos nós.

DICAS DE GRAMÁTICA

COMO USAR “A GENTE” E “AGENTE”, PROFESSORA?
A gente – é uma locução equivalente a um pronome pessoal. Indica todas as pessoas, em geral. Deverá ser conjugada na terceira pessoa do singular. Ex.: A gente não pode deixar de sonhar e trabalhar.
Agente – é um substantivo, quer dizer uma pessoa que faz alguma coisa, ou seja, o agente da ação. Ex.: O agente da polícia prendeu o bandido.

Prof.ª Dr.ª Luísa Galvão Lessa Karlberg — Coordenadora da Pós-Graduação em Língua Portuguesa (Campus Floresta (2010-2018); Orientadora de Pós-Graduação em nível de Mestrado e Doutorado; Orientadora de Pós-Graduação Lato Sensu; Pesquisadora DCR/CNPq (2015-2018); Embaixadora Internacional da Poesia, pela Casa Casimiro de Abreu; Grã-Chanceler J.G. de Araújo Jorge; Presidente da Academia Acreana de Letras – AAL; Membro da International Writers and Artists Association (IWA); Escritora e poeta.

Sair da versão mobile