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E a tal Páscoa, o que é?

Caro (a) leitor (a) do Jornal A GAZETA, iniciamos as comemorações do ponto mais alta da nossa fé: Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor. A Igreja celebra a Semana Santa, que acontece a partir do Domingo de Ramos (domingo passado) e vai até o Domingo de Páscoa (próximo domindo, 1º). E nós, queremos oferecer uma simples reflexão, sobre esse acontecimento, inspirado na visão da Teologia Franciscana e da Doutrina Católica. Esperamos poder contribuir para seu progresso espiritual e doutrinal.
São Francisco de Assis, homem todo católico e apostólico, participa da comunhão da Igreja de Cristo: Una; Santa; Católica=mundial, Universal; Apostólica, Romana. Celebra seus mistérios na liturgia perene como: ”ação do Cristo todo” (“Christus Totus”), na comunhão com “a Igreja Militante, que somos nós, que peregrinamos nesse mundo na penumbra da fé; a Igreja Triunfante, que é dimensão dos santos que vivem na glória da Páscoa Eterna; e a Dimensão Padecente, que ainda vai se purificando até a vitória final (purgatório= purificação)”. Não são três Igrejas, porém, três dimensões da mesma Igreja, participantes da Liturgia Celeste cujo penhor da Morte, Ressurreição e Glorificação do Cristo Senhor, envolve com sua Luz Radiante, numa celebração que é toda festa e comunhão; conforme nos inspira e revela o livro do Apocalipse de São João, no eterno Hoje de Deus.
O Apocalipse de S. João, lido na liturgia da Igreja, revela-nos primeiramente, “um trono no céu”, e, no “trono alguém sentado“ (Ap 4,2): “O Senhor Deus” (Is 6,1). Em seguida o Cordeiro, “imolado de pé” (Ap 5,6). Cristo crucificado e ressuscitado, o único sumo sacerdote do verdadeiro santuário, o mesmo “que oferece e é oferecido, que dá e que é dado”.
Devido a Tradição Apostólica que tem origem no próprio dia da Ressurreição de Cristo, a Igreja celebra o mistério pascal a cada oitavo dia, no dia chamado o “Dia do Senhor ou Domingo”. O dia da ressurreição de Cristo é ao mesmo tempo “o primeiro dia da semana”, memorial do primeiro dia da criação e o “oitavo dia”, em que Cristo, depois do seu “repouso” do grande sábado, inaugura o dia “que o Senhor fez”, o dia que não conhece ocaso. A “Ceia Pascal do Senhor” é o seu centro, pois é aqui que toda a comunidade dos fiéis se encontra com o Senhor ressuscitado, que nos convida ao seu banquete”. Por isso a festa da Páscoa não é simplesmente uma festa entre as outras: é a “Festa das festas”, “Solenidade das solenidades”, como a Eucaristia é o Sacramento dos sacramentos. Santo Atanásio (295-373) a denomina “o grande Domingo”, como a semana santa é chamada no oriente “a grande semana”.
A Igreja cristã herdou de Israel a sua festa de Páscoa; esta, porém, na passagem de Israel para a Igreja, mudou de conteúdo; tornou-se memorial de outro fato. ”A Páscoa de Israel era uma recordação e uma ação de graças pela grande emigração do Egito: ação libertadora do Senhor que tira seu povo da Escravidão, dando-lhe uma identidade: ser seu povo; passagem do povo pelo Mar Vermelho. Também significa a purificação da alma; passagem de toda paixão para o que é inteligível e divino” (Fílon de Alexandria). Passamos, pois da Páscoa, Judaica para a Páscoa Cristã.
E o conteúdo cristão da Páscoa é que: “Cristo nossa Páscoa se imolou por nós. Cristo é nossa Páscoa. Vós que ressuscitastes com Cristo, deixai as obras das trevas e revesti-vos do homem novo” (Justino e Melitão). A Páscoa é passagem de Cristo, da morte para a vida, e para os cristãos, também passagem dos vícios para a virtude.
Todos, portanto, já passamos com Cristo para o Pai e a “nossa vida já está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3,3), todavia todos devemos ainda passar. Passamos “em esperança” e “em sacramento”, na esperança e pelo Batismo, mas devemos passar na realidade da vida cotidiana, seguindo e imitando a Cristo e, sobretudo o seu Amor. Presentemente, nós realizamos esta passagem por meio da Fé que nos obtém o perdão dos pecados e a esperança da vida eterna (Páscoa Definitiva) se, porém, amamos a Deus e o próximo. “PÁSCOA É PASSAR PARA AQUILO QUE NÃO PASSA” (Santo Agostinho).
Em muitas casas, a Páscoa é vivida de forma paganizada e estragada pelas bebidas, sem um mínimo de senso religioso ou moral; ou como um mero folclore, um mero tempo para viajar, comer chocolates e descansar de suas fadigas. Assim, um tempo que nasceu para construir laços familiares e renovar a nossa sociedade com valores perenes, acaba não atingindo muitas vezes o seu objetivo.
As confraternizações, os alimentos específicos e muitos outros costumes são importantes e nos ajudam a celebrar a Páscoa, mas não podem nos desviar do seu principal e essencial sentido. Hoje, temos uma geração que não entende nada do verdadeiro sentido da Páscoa, mas devemos celebrá-la bem nós que não nos fechamos às suas origens e sabemos que ela é mais do que um “feriadão”; é uma “grande semana” na qual vivenciamos os mistérios da vida de Cristo e os mistérios da nossa própria vida.
Portanto, faz-se Páscoa, surge a vida, onde as pedras são retiradas dos sepulcros, onde se vive a caridade no serviço do próximo. Estes são os sinais de que Jesus Cristo continua ressuscitando hoje. Eles anunciam a sua ressurreição e suscitam nova vida, pois retiram todas as barreiras que atentam contra a vida.
Neste tempo da Semana Santa, poderemos anunciar no próximo Domingo, 1º de abril e desejar a você leitor(a) do Jornal A GAZETA: uma Feliz e abençoada Páscoa.
Cristo ressuscitou e caminha com seu povo, a Igreja do Ressuscitado! Aleluia, aleluia! Paz e Bem.

 

* Frei Paulo Roberto, Ordem dos Frades Menores Capuchinhos – OFM Cap.
Pároco da Paróquia de Bom Jesus do Abunã em Plácido de Castro – AC
Assistente Espiritual do Grupo Amigos de Francisco e Clara.
Reunião todo 3º domingo do mês, na Paróquia Santa Inês, às 7 horas.

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