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Um mês perdido!

E eis que correm os dias do chamado Mês das Mulheres! Há excelentes iniciativas sobre o respeito aos direitos femininos e a tão sonhada igualdade entre gêneros. Tudo seria perfeito se a nossa sociedade ao menos se inclinasse a ouvir esse clamor. Podia ser o mês delas, o mês da valorização, do respeito, do avanço de lutas. Mas o contrário insiste em nos assombrar nessa questão. O vil assassinato da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, só expôs mais uma vez na cara do Brasil o quanto ainda as brasileiras sofrem vítimas da nossa violência.

 

“Não estamos no Mês da Mulher. Estamos só em mais um mês que deveria ser o das mulheres”.

 

 

É fato: não estamos no Mês da Mulher. Estamos só em mais um mês que deveria ser o das mulheres. Mais uma chance perdida de mudarmos as coisas. Mais um mês de contradições, na qual uns vão dizer “defendei vossas mulheres”, enquanto o vizinho do lado está levantando a mão para a sua esposa ou a submetendo a agressões psicológicas por se achar “dono dela”.
O mês marcado por mortes de Marielles e por advogados que, em grupos de Whatsapp para toda a sua categoria ouvir, chamam as jornalistas do Acre, todas elas, de garotas de programa. Nossas jornalistas são respeitadas profissionais da comunicação, e não do sexo.
Além das agressões físicas e das mortes, no Estado ainda temos uma forte cultura covarde e atroz que desonra as nossas acreanas: a cultura do abuso sexual, do aliciamento e do estupro.
Pior ainda é saber que, sim, estamos cientes de que se trata de uma prática vil, abusiva e que ofende a todo e qualquer princípio de liberdade e de dignidade humana. Mas, ainda assim, continuamos a acobertá-la, tratando o estupro como uma atrocidade comum da atualidade, punível com leis imprecisas e penas de pouco efeito inibitivo, responsabilizando mais as mulheres pela forma com que se vestem do que os monstros que cometem tal crime.
Passamos do tempo de dizer que muitos cometiam estupros porque não entendiam ao certo o que estavam fazendo, como se fosse um lampejo de fraqueza perante a um instinto natural de momento. Essa lorota é velha. O estuprador tem plena consciência, sim, do que está fazendo.
No pé que estamos, talvez nem um ano inteiro em prol da mulher mude as coisas. Se queremos ser um país melhor, um Acre melhor, focado na vontade de crescer, precisamos superar essa cultura da violência contra a mulher, essa cultura dos homicídios das Marielles, das Keylas. Esse tem que ser um compromisso geral e cotidiano. A maioria da nossa população é composta de mulheres, e precisa ser respeitada.

* Tiago Martinello é jornalista.
E-mail: sdmartinello@gmail.com

Fabiano Azevedo: