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De funcionária pública à empresária bem sucedida: Íris Tavares é referência de empreendedorismo no Acre

 

“A minha história não é maior nem melhor do que a de ninguém, mas é a minha história”. É assim que a empresária e mastercoach, Íris Tavares, 56 anos, começa contando a sua história com o empreendedorismo.

O empreendedorismo corre nas veias de Íris que desde criança já pensava em ganhar seu próprio dinheiro. Com 11 anos, ela montou o primeiro “negócio” e começou a vender ‘sacolé’ na escola onde estudava. Aos 14 anos viu a oportunidade de entrar no mercado de trabalho após fazer um curso de datilografia. Dito e feito, em pouco tempo conseguiu um emprego na Prefeitura de Rio Branco.

“Quando cheguei na prefeitura, vi todas as moças datilografando o IPTU. Quando vi aquela máquina de datilografia funcionando, aquilo mexeu comigo. Pensei que aquela era uma oportunidade de eu ter um emprego, e aquilo pulou da minha boca: ‘Tá precisando de gente pra trabalhar?’, eu perguntei. E a moça disse que estava. Comecei no dia seguinte”, recorda.

O trabalho era temporário, mas logo Tavares foi aprovada no concurso público e passou a ser do quadro efetivo de funcionários. “Quando passei coloquei como objetivo que eu iria aprender tudo de todos os setores, quando eu aprendesse de um setor eu iria para outro, e assim eu fiz”.

A então servidora pública passou por todos os setores da Prefeitura, fez um curso de técnico em contabilidade e logo assumiu um cargo de chefia, com apenas 18 anos. Íris fez o vestibular e foi aprovada para o curso de Pedagogia, na Ufac. Lá, por meio de um dos seus professores teve o currículo selecionado para trabalhar em outro local.

Se desdobrando para dar conta dos dois empregos, Tavares decidiu viajar a Porto Velho com uma amiga para descansar. Ela mal sabia que a viagem a passeio mudaria sua vida.

“Nunca tinha ouvido falar em Ariquemes. Quando eu cheguei lá e vi pessoas de todo o país chegando para começar a vida, naquele momento, se eu tinha uma veia empreendedora, mexeu comigo. Em 15 dias, pedi demissão dos dois empregos, vendi tudo e fui pra lá.”

Íris abriu sua primeira loja de confecções. Como todo início, a empresária enfrentou diversas dificuldades que, por um momento, a fizeram pensar em desistir. “Fiquei lá quatro anos. Nesse tempo, a loja foi assaltada onze vezes, e onze vezes eu recomecei. No último assalto, que foi bem grande, minha família foi lá e me trouxe de volta”.

“A minha história não é maior nem melhor do que a de ninguém, mas é a minha história”

 

O sapato e a volta por cima

Desanimada com o ramo do comércio, Íris pensou em desistir após receber uma proposta para voltar a trabalhar no setor público. “Eu cheguei depressiva e não queria mais trabalhar com venda. Meu antigo chefe da prefeitura me ofereceu emprego na Assembleia por dois salários, e eu falei que iria pensar”.

Mas, a vida reservava muito mais para a jovem empresária que teve, mais uma vez, uma história de recomeço.

“Fui ao banco resolver minha conta, e daí uma mulher que estava na mesa do gerente viu o sapato que eu estava calçada e gostou. Ela perguntou, e ali eu vendi o sapato. Foi aquele sapato, naquela hora, que me estimulou a querer a voltar a vender. Eu entendi aquilo como um sinal. Pode não ter sido, mas eu entendi como um sinal.”

Íris decidiu vender o estoque de roupas que trouxe de Rondônia, começou a fazer clientes em diversos locais, e, em pouco tempo, a “Íris” era a vendedora de roupas mais conhecidas entre as mulheres da capital acreana.

 

De Íris Modas a “It”

Não teve jeito. A empreendedora teve que começar a pensar em um espaço para atender suas clientes, funcionários para ajudar nas vendas e num modelo de gestão de negócios. A garagem do seu pai foi o primeiro local que Íris encontrou para receber as clientes. O local fica em frente à atual loja.

“A loja começou a crescer e ao lado tinha uma auto-peças que estava construindo um prédio próprio, daí comecei lá. Sempre olhava para esse terreno e imaginava a loja. Quando você concebe mentalmente em alguma coisa, já é porque você acreditou. Eu olhei para o terreno da frente e enxergava a loja pronta.”

Íris Modas foi o primeiro nome dado à loja. O mercado da moda foi mudando e Tavares sentiu a necessidade de ampliar o espaço, fazer uma vitrine com programação visual, treinar os funcionários e acompanhar a tendência mundial.

“Passamos por várias mudanças de moedas, crises governamentais e, nesses anos todos, a moda mudou. Cada crise que o país passa, a moda passa pela crise também. Quando eu comecei na garagem, eu tinha um mix de produtos e acabava comprando de Goiânia. Depois começou a crescer e eu comecei a ir para Belo Horizonte. Depois que a loja ganhou as outras salas foi que o mercado começou a ter um mix maior de marcas, como zoomp, e eu comecei a não vestir só a cliente, comecei a vestir a família dela, o marido, os filhos”, relata.

Em seguida, a loja ganhou uma nova cara e um novo nome: Íris Tavares. “Segui a tendência dos estilistas do mundo inteiro de colocar o nome na marca, como Calvin Klein. Fiquei 10 anos com o Íris Tavares, e nos últimos dez anos fizemos uma repaginada”.

A “repaginada” rendeu um toque de sensibilidade em tudo, com um “it” a mais. Por que tudo que é “it” é legal, descolado, alto astral, explica Íris, que se arrepia ao se lembrar da conexão com o novo nome da marca. Neste momento, a loja ganhou outro nome, que é “It”.

“Fizemos o estudo do ‘it’. Fui pesquisar, e eu não imaginava o significado de ‘it’, que é ‘borogodó’, ‘barato’, é só coisa legal. Quando ligou com íris Tavares me arrepiei inteira”, conta.

Amor pela moda e arte

Hoje, a “It” deixou de ser apenas uma loja de roupas e sapatos e passou a ser um lifestyle, ou estilo de vida em português, como define a empresária. O espaço conta um café, uma escola de cursos de autoimagem, desenho, couch, entre outros, além do espaço da outlet.

“A It deixa de ser apenas uma loja de moda porque moda é arte.  A It é esse lugar de experiência, onde você vem para o café, encontra um amigo e bate-papo e acaba vendo moda também.”

Formada e pós-graduada em Administração, mastercouch, mãe e empresária, Tavares se reinventa todos os dias. Por isso, é referência em empreendedorismo no estado. Impossível não perceber o seu amor pela moda que nasceu da convivência com a sua mãe, que era lavadeira.

“Eu sempre falo que minha paixão por roupa veio da convivência com a minha mãe. Ela fazia aquilo com tanto amor, que acho que foi isso que trouxe esse amor que eu tenho pela moda. E o empreendedorismo veio dessa relação com o meu pai, que tinha uma mercearia na 6 de Agosto”, explica.

A empresária enfrentou diversos obstáculos ao longo dos anos, mudanças de governo, de moedas, e, recentemente, acredita estar vivendo mais uma transição. Desta vez, no mundo da moda.

“A moda está passando por uma mudança muito grande, talvez uma das maiores de todos os tempos. Por causa da tecnologia, da globalização, da venda da internet, do emprego diminuindo, acho que estamos tendendo para uma revolução. Eu não vou dizer que as crises que eu passei foram tão grandes porque eu consegui superar.”

Dona do próprio negócio

Para quem acha que a vida de empresário é mais fácil do que outros trabalhos está enganado, afirma Tavares. “Ser dono do próprio negócio é arregaçar as mangas, é sonhar, é o tempo todo você querer melhorar. É uma lâmpada queimada que só o dono enxerga”.

E, apesar das dificuldades, Íris continua expandindo a empresa. Este ano, a loja e o café devem passar por restauração. “Meu projeto é esse: passar pra frente tudo que eu aprender. Eu penso que estou vivendo o segundo ciclo da minha vida. Estou colocando muito amor em tudo que eu faço, e eu já fazia isso lá atrás sem saber”.

Empreendedora Iris Tavares – FOTO ARQUIVO PESSOAL
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