Oportunismo, entre outras definições, é aproveitamento das circunstâncias para se chegar mais facilmente a algum resultado. No sistema político em que a tática principal é a acomodação às circunstâncias, oportunismo é a transigência adequada nos fatos e acontecimentos momentâneos, para a consecução de seus objetivos.
Em nível de política nacional, isso ficou evidente por ocasião da decretação da prisão do ex-presidente Lula, e sua conseqüente detenção.
No comício na área externa do prédio do Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo, entre as pessoas que de fato estavam apreensivas e comovidas, pela possibilidade da prisão de Lula, surgiram alguns oportunistas com discursos reacionários, se colocando na “brecha” supostamente deixada pelo “companheiro”. Um caso explícito foi o discurso do escritor Guilherme Boulos, pré-candidato a presidente, sem densidade eleitoral e sem voto, pelo menos no momento, para ser presidente de condomínio.
Após 24 horas deste evento, no mesmo momento em que Lula se entregava à Polícia Federal, foi lançada oportunamente, uma candidatura à presidência da república, por uma candidata que teve sua ascensão política na ilharga da militância petista. O bom senso pedia que, em respeito ao velho companheiro de lutas, o anúncio fosse feito no dia seguinte!
Um deputado Federal do PDT, numa eufórica comemoração, foi mais explícito: A prisão de Lula favorece Ciro Gomes! Nesse caso, aquela conceituação de consideração, em relação ao próximo, de se manter ou manter-se nos limites oportunos e convenientes, não serve à política e seus mais dignos representantes.
Cito estes três fatos, notórios por sinal, para calçar este assunto, mas há centenas de outros eventos, espalhados por esse Brasil continental, que se reunidos em textos, o espaço aqui seria exíguo. Por extensão, tem também a questão da manipulação, que passa pela parceria promíscua entre partidos políticos e os agentes de marketing e publicidade. Mas, isto é outro assunto!
Deveras, no atual momento da política brasileira, a maioria dos nossos políticos deveria passar a usar óleo de peroba, tal a desfaçatez com que conduzem seus “mandatos”. No entanto, todo esse “oportunismo” se deve ao fato de a política ser o exercício do poder, e, só tem poder quem tem mais poder, notadamente de manipular, cooptar, com “domínio” de barganha ou transação fraudulenta ou, ainda, trapaça. Fato notório e insofismável no parlamento brasileiro. Para não falar, é claro, nos porões ou entranhas dos partidos políticos e seus acordos espúrios.
O anseio, ou desejo ardente, pelo poder público leva homens e mulheres a graus e atitudes extremamente egoístas e desonestas. Não interessam os meios, pois os fins justificam os meios, numa busca desenfreada pelo poder e realização pessoal (prazer) desmedidos, nem que para isso tenha que esfolar, trair antigos comparsas de paliçadas políticas. É uma corrida louca na busca desenfreada pela “glória”.
Faço uso, novamente, dum texto de autoria o renomado político e jurista brasileiro Afonso Arinos (1905-1990) numa de suas famosas conferências sobre o pensamento político e a reconstrução da democracia no Brasil, dizia que não haverá paz e progresso autênticos sem o restabelecimento das normas éticas no trato dos negócios públicos nacionais e internacionais; sem a restauração das liberdades fundamentais cívicas e privadas, do homem e do cidadão; sem a restituição da legalidade aos poderes políticos; sem o banimento, tanto quanto possível, da corrupção e da violência nos negócios entre o Estado e o cidadão.