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Papel sociocultural da Academia Acreana de Letras (AAL)

A Diretoria da Academia Acreana de Letras assumiu o mandato para o próximo biênio em meio a muitas dificuldades. Aqui, neste artigo, iremos comentar alguns desses gargalos que enfrentam os intelectuais no Brasil e, em especial, no Estado do Acre. Também teceremos considerações alusivas ao papel da AAL no contexto sociocultural do Estado do Acre.
A nossa missão é zelar pelo idioma pátrio, apoiar e incentivar a literatura de expressão nacional. È uma atividade por demais difícil. Vejamos: no Brasil a leitura não é uma atividade comum, justamente porque os brasileiros não possuem este hábito. A Academia tem que fazer um trabalho de incentivo e valorização dos escritores e, com isso, criar espaços, em meio à população, para a cultura do livro. É um desafio quando a maioria da população não gosta de leitura. Mas é preciso que as pessoas compreendam que ler é um processo de produção de significados e sentidos. É a capacidade de decodificação, onde tudo que for lido tem que ser decodificado para fazer sentido na vida.
Ademais, não se pode perder de vista, a Língua Portuguesa é um instrumento facilitador da organização do pensamento. Uma pessoa que possui o conhecimento da estrutura do idioma, que tem plena consciência do que está sendo dito, automaticamente pensa melhor. Pensando melhor, ela argumenta melhor. E, se argumenta melhor, milita melhor nas causas em que acredita. O Português é um instrumento poderoso. Quando o brasileiro conhece bem a estrutura da língua e sabe articular com certa fluência e consciência o que está sendo dito, por consequência, passa a ser o operador mais dinâmico nesse processo e a ser mais bem sucedido nos seus objetivos e projetos.
É fato que a maioria dos professores e educadores tentam incentivar a leitura nas escolas, mas a juventude atual, com raras exceções, gosta de outras coisas e abomina a leitura, uma atividade essencial para adquirirem conhecimento e informações sobre todas as coisas existentes no mundo. A AAL é uma instituição que poderá ajudar o Acre nesse mundo da leitura/literatura e de zelo ao idioma pátrio.
Quando se fala em literatura, para os jovens, eles abominam, não querem saber de livros, preferem imagens. Porém, é urgente mostrar aos estudantes que a literatura nos mostra como a vida era antes, ou seja, como vivia sociedade de outros tempos e, ainda, como vive a sociedade atual. Os autores escrevem para a sociedade de cada época, no intuito de a sociedade refletir sobre o tempo em que vive e atuar para melhorar. Por este motivo, a literatura tem sido mais um componente presente em provas do ENEM, pois além de trazer conhecimento da época em que a obra foi escrita, conduz, também, à reflexão do tempo atual.
As leituras frequentes são formas de aprimorar não só o vocabulário, mas, também, a gramática e o domínio da língua portuguesa, modo geral. São exigências capitais do falante/escritor: saber concordar, saber reger, saber pronunciar e saber usar corretamente as palavras. É doloroso ouvir profissionais dizerem “existe muitas pessoas” ou “Eu lhe encontrei ontem”, ou pronunciar “récorde” no lugar de “recorde”, a palavra corretamente proparoxítona. Só há um meio de dominar o idioma: estudando e, sempre, sempre, prestando atenção ao que se fala e ao que se escreve.
Outro aspecto, intimamente ligado com a leitura e a escrita está relacionada à educação. E, neste caso, o Brasil falece de condições e políticas de estímulo à leitura e à escrita. Embora haja diversos programas e grupos empenhados em reverter essa situação, o país ainda está longe de alcançar as metas desejadas. Somente nos grandes centros nós vemos a produção, publicação e divulgação dos autores e, mesmo assim, permanecendo inacessíveis a muitos grupos sociais. Comprar livro tornou-se um hábito de luxo. Publicar uma obra é muito custoso. Não se tem uma política para publicação de obras e de incentivo aos escritores.
Todavia, em meio aos percalços mercadológicos, educacionais, sociais e históricos, percebe-se um aumento de publicações nacionais nos últimos anos. Isso acontece porque o autor deseja ter sua obra impressa, em forma de livro, e arca com essa publicação. Depois, ele mesmo, terá que sair fazendo a divulgação porque o país não possui uma política de cultura do livro e de apoio aos escritores.
O Brasil conta, hoje, com a Câmara Brasileira do Livro, órgão sem fins lucrativos, que atua na promoção do mercado editorial brasileiro. A CBL é responsável, desde 1959, pelo prêmio Jabuti, maior premiação de literatura no território, que premia anualmente desde romances a livros didáticos e projetos gráficos. Mas é somente isso, nada mais. É muito pouco para o muito que precisa ser feito pela cultura do livro, da leitura, do escritor.
Mas voltemos à questão da Academia Acreana de Letras – AAL, uma instituição que tem 80 anos e nunca possuiu sede. Não dispõe de um funcionário e nem de recursos para cumprir a sua finalidade precípua, mencionada acima. E não tem sido por desinteresse dos imortais, mas por total negligência dos poderes públicos que têm o dever constitucional de zelar pela educação, pelo idioma, pela cultura, como patrimônios da nação. Outro dia, por ocasião da eleição da Diretoria da AAL, no Centro Cultural do TJAC, fomos surpreendidos por um advogado, o Dr. Ildefonso Menezes, que veio ao nosso encontro para doar um terreno para construção da sede da Academia Acreana de Letras. Ele se sentiu tão comovido, ao ler no jornal A Gazeta, que a AAL, com 80 anos, não tinha sede. Foi um momento tão singular em que quase todos nós choramos.
Então, postas essas questões acima, que a sociedade conhece, acresce dizer que a língua nacional é a mais autêntica forma de expressão do espírito humano. Quem não conhece o próprio idioma acaba não se fazendo comunicar e não se entendendo a si mesmo. Ofícios, cartas, relatórios, teses, dissertações, artigos, científicos ou não, assim com toda produção que envolve o processo comunicativo, de natureza burocrática, acadêmica ou não, são meios de o indivíduo atuar na sociedade. Não saber produzi-los é se limitar as pessoas enquanto agentes sociais. E, aqui no Acre, a Academia Acreana de Letras muito poderia realizar em prol desses conhecimentos, isso porque nossa meta maior é o culto ao idioma pátrio. Necessitamos dialogar com as instituições e, sobretudo, do apoio do Governo (em todas as esferas) no apoio às nossas ações. A nossa imortalidade sustenta-se nos nossos feitos que ficarão para as gerações futuras. Necessitamos que a sociedade abrace a Academia Acreana de Letras para que nós possamos contribuir, grandemente, com o desenvolvimento do Acre.

 

*Prof.ª Dr.ª Luísa Galvão Lessa Karlberg — Coordenadora da Pós-Graduação em Língua Portuguesa (Campus Floresta (2010-2018); Orientadora de Pós-Graduação em nível de Mestrado e Doutorado; Orientadora de Pós-Graduação Lato Sensu; Pesquisadora DCR/CNPq (2015-2018); Embaixadora Internacional da Poesia, pela Casa Casimiro de Abreu; Grã-Chanceler J.G. de Araújo Jorge; Presidente da Academia Acreana de Letras – AAL; Membro da International Writers and Artists Association (IWA); Escritora e poeta.

Fabiano Azevedo: