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A saudação “Paz e Bem”

Na manhã do último dia 27 de abril (no horário da Coreia do Sul) o presidente sul-coreano Moon Jae-in e o líder norte-coreano Kim Jong-un fizeram história em Panmunjeom, Coreia do Sul, fronteira com a Coreia do Norte.
Em um encontro diplomático e cheio de expectativas, os líderes coreanos conversaram sobre a possível desnuclearização da Coreia do Norte e redigiram uma declaração conjunta, onde asseguram que trabalharão unidos pela paz, melhoria das relações e bem-estar de ambos países. Segundo o porta-voz da presidência sul-coreana, Yoon Young-chan, esses foram os assuntos entre os dois países, que tecnicamente ainda seguem em guerra.
O presidente sul-coreano disse a Kim Jong-un que estava “feliz por conhecê-lo” e mais tarde afirmou que a presença de Kim fazia de Panmunjon um símbolo de paz, e não mais de divisão. Afinal, foi neste mesmo local que o cessar-fogo de 1953 entre os dois países foi assinado.
Trazendo para a nossa espiritualidade franciscana, o nosso modo de viver a Paz e Bem em todas as esferas, vimos como positivo a proximidade de paz entre as duas lideranças norte coreanas.
Entre os inúmeros costumes franciscanos a saudação Paz e Bem é, certamente, um dos mais apreciados e divulgados, onde tem sua origem na descoberta e na vocação do envio dos discípulos, que São Francisco descobriu no Evangelho e, que ele colocou na Regra dos Frades – “o modo de ir pelo mundo”. Já no Evangelho de São Lucas (10,5) fala na saudação “A paz esteja nesta casa”, e Francisco acrescenta que a saudação deve ser dada a todas as pessoas que os frades encontrarem pelo caminho: “O Senhor vos dê a paz”.
No seu Testamento, Francisco revela que recebeu do Senhor mesmo esta saudação. Portanto, ela faz parte de sua inspiração original de vida: anunciar a paz. Muito antes de São Francisco, o mestre Rufino (bispo de Assis, na época em que Francisco nasceu), já escrevera um tratado, “De Bono Pacis” – “O Bem da paz” e, que certamente deve ter influenciado a mística da paz na região de Assis. Haviam, então, diferentes formas de saudação da paz, entre elas a de “Paz e Bem”.
Nas Fontes Franciscanas, por três vezes, vemos referências ao cumprimento da paz:
a) Legenda Maior (LM 3,2) – “Em cada pregação sua, saudava o povo no início do sermão, anunciando a paz, dizendo: ´O Senhor vos dê a paz´”.
b) Legenda dos Três Companheiros (LTC 26) – “… em toda pregação sua, saudava o povo, anunciando a paz no início da pregação”.
c) Compilação de Assis (CA 101,14) – “O senhor revelou-me que como saudação devia dizer: ´O senhor te dê a paz´”.
Francisco de Assis não transformou a saudação “Paz e Bem” num simples cumprimento religioso, mas sim num programa de vida. Desejar a paz e o bem a tudo e a todos é ter as melhores palavras e a melhor presença, é bem-dizer, é desejar o melhor; não é só dizer, mas fazer o bem, levar a saúde da alma, do corpo e das relações. Ter nos lábios o que pulsa no coração. É o contrário do mal-dizer, da negatividade, de falar apenas o mal. Reprova nos irmãos o maldizer. Ser um irmão e irmã é ser portadores de paz, do amor e do bem. No lugar da maldição colocar a bênção.
Hoje, as igrejas protestantes tem suas saudações próprias: Paz do Senhor; Graça e Paz; Paz seja convosco! Alguns deles, tem horror a saudações entre eles, mas usam com orgulho e soberba o Paz e Bem dos Franciscanos (ou usam com profunda sinceridade e carinho). No Evangelho de São Lucas (10,5) fala na saudação “A paz esteja nesta casa”, e Francisco acrescenta que a saudação deve ser dada a todas as pessoas que os frades encontrarem pelo caminho: “O Senhor vos dê a paz”.
Mais do que Paz do Senhor, Shalom, Graça e Paz, O Senhor vos de a Paz (saudação de Francisco), ou Paz e Bem (saudação dos discípulos de Francisco), deve estar e reinar a verdadeira Paz em Nosso Coração. Só deseja paz verdadeira quem vive a paz verdadeira.
No entanto, não podemos esquecer dos 103 primeiros missionários coreanos, leigos (homens e mulheres) martirizados e canonizado por São João Paulo II, no dia 6 de maio de 1984, na Praça Yoido de Seul, fazendo crescer a fé cristã no país asiático.
Contudo, essas saudações entre os lideres coreanos, seja um cessar de guerras, intrigas, discórdias que já vem desde (1950-1953), quando “terminou” com um armistício, não com um tratado de paz. E os dois líderes concordaram em dar início a “uma nova era de paz”, mas, para que isso de fato ocorra, ainda há muito trabalho pela frente. Mas já foi um belo passo para vivermos uma cultura de paz, tão sonhada de desejada por muitas nações.
Para a conquista dessa graça, porém, é preciso que trabalhemos primeiro fazendo bem o necessário-inevitável expresso nos afazeres cotidianos mais simples e comuns como ter que levantar, acordar, comer, beber, dormir, cuidar dos afazeres domésticos, das nossas doenças, virtudes e defeitos, nossas funções e compromissos, etc.
E como franciscanos seculares, desejamos a você a verdadeira Paz e o Bem que vem de Nosso Senhor Jesus Cristo, nosso único Príncipe da Paz e suficiente Salvador.

Interino do Frei Paulo Roberto – OFM Cap.
* Narciso Cândido L. Neto – Coordenador do Núcleo em Formação da
Fraternidade da Ordem Franciscana Secular – OFS. Encontro todo 3º domingo do mês, na Paróquia Santa Inês, às 7h.

Fabiano Azevedo: