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Antônio e João

“O ente-João era autoridade dentro da minha casa”

Um ano tinha meu filho Antônio e seus olhos já brilhavam sempre que via João, com o dobro de sua idade. João foi seu primeiro amigo e, aos poucos, tornou-se seu ídolo.
Antônio aprendeu a falar. E indagava: “por que meu nome não é João?”, “por que meus olhos não são verdes como os do João?”, “quando eu crescer vou ter um filho chamado João”.
Então Antônio começou a aprender as letras. Seu alfabeto começou pelo “J”, naturalmente. E logrou escrever o nome do amigo antes do seu próprio.
Tudo o que João falava era verdade incontestável. A prova cristalina? A palavra do próprio: “O João que disse”. De modo que, durante alguns anos, convivi com o fato de que o ente-João era autoridade dentro da minha casa.
Se conhecesse algo bom, fosse diversão ou comida, Antônio queria que o amigo também experimentasse. E brincar com João era melhor do que qualquer passeio com adulto – a não ser que João fosse junto.
Era um amor surpreendente. Comovente. Quanta pureza e lealdade Antônio me mostrava que pode haver na amizade.
Agora têm 17 e 18 anos. Seguem amigos. E eu para sempre lhes serei grata por terem me ensinado tanto sobre o fabuloso mundo do companheirismo inocente e amoroso, para onde as crianças sempre nos convidam a entrar.
Não é uma tarefa exatamente fácil, mas, com todo o meu coração, creio que seja esse o destino humano. Faço dele o meu árduo e doce sacerdócio.

 

Onides Bonaccorsi Queiroz é jornalista, escritora e autora do blog verbodeligacao.wordpress.com
E-mail: onides.queiroz@gmail.com

Fabiano Azevedo: