Já não há mais argumentos. Hoje, ser mulher é um desafio constante e perigoso. Para cada assassinato, estupro, violência física e moral contra as mulheres não há mais como negar a causa: é o simples fato de ser mulher. De onde vem tanta fúria? Por que o feminicídio tem se revelado tão assustador na nossa sociedade?
Parece repetitivo afirmar que a violência contra a mulher tem alcançado níveis cada vez mais assustadores. O fato é que o assunto está na boca de todas pessoas, especialistas ou não, pois se tornou rotineiro, insano e até natural. Segundo pesquisas, hoje, a cada 2h, uma mulher é assassinada no Brasil e 40% delas dentro de suas próprias casas. Essas mortes são enquadradas como feminicídio porque ocorreram pelo fato das vítimas serem mulheres.
“Como educar crianças que continuam lidando com livros que subjugam as mulheres, com desenhos animados que inferiorizam, com brinquedos que rotulam?”
A mulher, mais frágil, fato. Mais desprotegida, fato. Mais vulnerável, fato. Mas nem por isso, menos digna, menos capaz, menos gente. Mais de 80% da violência contra a mulher é causada pelo marido ou parceiro, ou seja, homens matam mulheres e nem 25% deles são denunciados, pois o medo de represálias é maior que a necessidade de justiça.
Quando as manifestações em apoio às mulheres vêm à tona vêm portariadas de revolta, medo, indignação e dor e a esses sentimentos junta-se a impotência com a justiça não feita, a conscientização não alcançada e o ciclo repetido infinitas vezes. Como educar crianças que continuam lidando com livros que subjugam as mulheres, com desenhos animados que inferiorizam, com brinquedos que rotulam?
Como explicar para meninas que quase metade da violência contra a mulher no Brasil acontece por causa do machismo e do álcool em uma sociedade que chama feministas de histéricas e mal amadas? A quem recorrer na hora das cantadas baratas, dos salários mais baixos, das ofensas de gênero? Aos homens?
Assim, despeço-me com dois pedidos: um de usar a licença poética e falar agora em primeira pessoa, como mulher, mãe de menina, filha; outro, com o pedido de perdão por tantas perguntas sem respostas no decorrer dessas linhas, mas em um mundo de tanta violência prefiro calar-me a espancar sua mente com as verdades que saem da minha.
* Nayra Claudinne Guedes Menezes Colombo é professora, servidora pública, mestre em Letras.
E-mail: nayracolombo@hotmail.com