No quarto dia de greve dos caminhoneiros, os protestos chegaram ao Acre, na quinta-feira, 24. Mais de 150 caminhões estão parados na lateral da BR-364, próximo ao bairro Belo Jardim. Também há interdição na região conhecida como Quatro Bocas, na Via Verde e na AC-40. O protesto contra o aumento dos combustíveis ocorre em pelo menos outros 20 estados.
O ato é contra a disparada do preço do diesel, que faz parte da política de preços da Petrobras, em vigor desde julho.
Ao tomar conhecimento das interdições, os motoristas acreanos não perderam tempo e literalmente lotaram os postos de combustíveis para garantir o abastecimento dos veículos.
“Não posso correr o risco de ficar sem combustível. E pelo jeito não vai demorar para acontecer o racionamento de produtos”, comentava um motorista enquanto aguardava o abastecimento do carro.
Em outros estados do país, o desabastecimento já é real e em muitos postos, os preços foram elevados chegando a custar R$ 10,00 o litro da gasolina. Em Rio Branco, até o fechamento desta edição, o preço ainda não tinha sofrido reajustes.
O medo dos motoristas não é à toa. Nas interdições estão passando apenas carros pequenos, ônibus e cargas vivas. Na BR-364, já são mais de quatro quilômetros da fila de caminhão. Os caminhoneiros queimam pneus e pedaços de madeira e evitam a passagem das cargas.
A Polícia Rodoviária Federal do Acre (PRF-AC) acompanha o movimento e garante que os caminhoneiros estão permitindo que passem pelas barreiras montadas carros, motocicletas, ônibus, caminhões com cargas vivas e de primeira necessidade.
Segundo os manifestantes, eles devem manter o movimento e a interdição das vias do estado por tempo indeterminado ou até que o governo federal anuncie redução significativa no preço dos combustíveis.
Em resposta aos protestos, a Petrobras anunciou redução de 10% no preço do diesel nas refinarias e a medida deve valer por 15 dias. A redução representa menos R$ 0,26 no litro do combustível.
Sindepac pede calma aos motoristas acreanos
“Pedimos calma a população. Se não tiver correria conseguiremos atender a todos e não vai faltar produto. Não precisa estocar gasolina em casa. Se tivermos calma, ainda existe um estoque para alguns dias”, comentou a diretora do Sindicato dos Revendedores de Combustíveis do Acre (Sindepac), Karyenne Machado.
O presidente do Sindepac, Delado Lima, adianta que o sindicato apoia o movimento. “Preocupante era previsível, mas não esperávamos. O próprio sindicato já esclareceu que o problema do preço de combustíveis é a alta carga tributária que incide. O sindicato apoia o movimento que é um grito de socorro. Apesar disso, sabemos que é um transtorno para o comércio e a população em si”.
Em determinados postos, a procura foi tamanha que não tem mais o produto. Como explicou o empresário Eliazar Junior, dono do posto Parati. “O meu estabelecimento não tem mais combustível porque houve um desespero por parte dos rio-branquenses para abastecer. Vamos aguarda pra ver como vai se comportar a greve dos caminhoneiros. Defendo a greve dos caminhoneiros e vamos aguarda a reabertura da BR-364”, esclareceu.
MPAC deflagra operação
O Ministério Público do Estado do Acre (MPAC), por meio da Promotoria de Justiça Especializada de Defesa do Consumidor, deflagrou nesta quinta-feira, 24, em Rio Branco, uma operação visando à fiscalização dos possíveis aumentos abusivos nos preços dos combustíveis nos postos de abastecimento.
Para a operação, foram sendo chamados Polícia Civil, Polícia Militar e Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon).
De acordo coma promotora de Justiça Alessandra Garcia Marques, todas as providências serão tomadas para que os preços não sejam aumentados injustificadamente, uma vez que não há nenhum fato excepcional que onere o combustível mais do que ele já está onerado.
Ainda segundo a promotora, a crise, por si só, não é motivo para preços exorbitantes e aumentar os valores em decorrência de greves é abuso.
Presidente da Acisa aponta desabastecimento de produtos perecíveis, caso a greve se estenda
O presidente da Associação Comercial do Acre (Acisa), Celestino Bento, ressaltou que no momento não há risco de desabastecimento de combustíveis no estado.
“A população não deve ir com essa euforia pra abastecer seus carros sem necessidade. Não há necessidade pra desespero. Tem reserva, mas se todo mundo correr aí a reserva diminui para três dias”, alerta.
A preocupação dos empresários é sobre o desabastecimento. “O problema é que não houve tempo de se prevenir. Os estoques de produtos não perecíveis duram entorno de 40 dias, mas os produtos perecíveis, se na semana que vem a greve continuar, vai faltar hortifrutigranjeiros”, diz.
Vale ressaltar que a maioria dos supermercados trabalharem com um estoque médio de cerca de 40 dias, os produtos perecíveis que precisam de reabastecimento constante poderão faltar nas prateleiras dos supermercados acreanos.
“O risco de desabastecimento existe sim, mas bem mais de produtos perecíveis, como frutas, legumes, verduras, carnes e produtos resfriados, como laticínios”, frisa.
O presidente foi taxativo ao falar sobre a greve dos caminhoneiros. “Sou favorável à greve dos caminhoneiros, este é um direito da categoria. Talvez, dessa forma, através de pressão, eles consigam seus objetivos. Hoje, o custo de um caminhão parado é altíssimo, e para sobreviver, o caminhoneiro precisa trabalhar quase 100% da sua totalidade”, finalizou.
O empresário Adem Araújo informou que ainda não há razão para alarde, mas confirmou que nos próximos dias, produtos em que a capacidade de estoque é reduzida, como hortifruti, a escassez será inevitável.
“Razão para alarde acredito que ainda não. Acho que essa paralisação deverá ser resolvida em poucos dias. Com isso, poucos produtos irão faltar no marcado. Hortifruti, alguns laticínios, embutidos, mas não todos. Ou seja, faltará uma marca ou outra desses produtos. A maior preocupação é no hortifruti. Semana que vem teremos vários produtos em falta: tomate, batata, maçã e outros”, adiantou o empresário.
Tião Viana em Brasília e reunião com representantes dos supermercados ocorre em Rio Branco
Cumprindo agenda em Brasília, o governador Tião Viana postou em sua página pessoal no Twitter sobre a situação da greve. “Estou em Brasília, com outros governadores, acompanhando cada passo dessa greve FEDERAL dos caminhoneiros, a qual, trará prejuízos graves ao Brasil. Inocentes serão afetados, e o golpe avança”.
Enquanto isso, no fim da tarde desta quinta-feira, 24, representantes dos supermercados locais se reuniram na Casa Civil para esclarecer que por enquanto não há motivo para pânico referente ao abastecimento de produtos. Na ocasião, foi esclarecido que ainda há estoque para os próximos dias e que não existe motivo para pânico por parte dos consumidores acreanos.
Infraero
A Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Ifraero) informou que no Acre, nos dois aeroportos (Aeroporto Plácido de Castro e Aeroporto Internacional de Cruzeiro do Sul), os voos estão operando normalmente.
O órgão disse ainda, por meio de nota, que “está monitorando o abastecimento de querosene de aviação por parte dos fornecedores que atuam nos terminais e já alertou aos operadores de aeronaves que avaliem seus planejamentos de voos para que cada um possa definir sua melhor estratégia de abastecimento de acordo com o estoque disponível na origem e destino do voo.