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Qual é a Copa do Mundo que queremos?

A Copa do Mundo já começou. O Brasil inteiro estará assentado diante dos aparelhos de TV. É impressionante! De quatro em quatro anos, pelo amor ao futebol, não vemos torcidas de vários times brigando, mas todas unidas por uma seleção. Nos presídios, nas casas de recuperação, no trabalho, na empresa, nas obras, em família, pais, filhos, avós, tios, vizinhos enfeitando suas ruas e casas, todos se unem de olho na telinha ou no rádio, de jogo em jogo, sem perder nenhum lance e à espera do grande dia da final.
A vitória é intensamente desejada. Os jogadores se o Brasil ganhar -, serão transformados em heróis nacionais, deuses do futebol. Por um momento o tempo dará lugar à eternidade. Os vitoriosos, jogadores e torcedores, serão banhados por sua luz, terão suas almas lavadas, estarão em estado de graça.
É um risco dizer que o Brasil é o favorito, mas como é bom ouvir que o Brasil pode chegar lá e que tem as melhores condições de conquistar o hexacampeonato. Será?
Paralelo a tudo isso, se pararmos e pensarmos bem, somos um povo de coração bonito, capaz de vencer as diferenças, de se unir na hora das alegrias e das necessidades; um povo abençoado. Lembremo-nos: nossa terra, chamada hoje Brasil, ao ser descoberta teve o nome de Terra de Santa Cruz. Uma cruz foi cravada em nosso solo, sinal de Deus e de que somos uma terra escolhida, uma nação abençoada.
Está oferecida à sociedade brasileira a oportunidade de exercitar, durante um mês, sua indispensável capacidade de avançar na vivência da cidadania, sem privar-se da alegria, da beleza, da arte e da força própria de um esporte, fugindo das alienações facilmente encobertas por entusiasmos superficiais. Um avanço urgente quando se considera os incontáveis descompassos da sociedade brasileira, que contracenam com conquistas e progressos insuficientes para nos definirmos como nação civilizada.
O prêmio será a taça levantada para a contemplação dos olhos ávidos de felicidade e de glória. Os vencidos, de olhos baixos, se entregarão ao choro. Como é ruim, frustrante, a derrota! É assim que a disputa esportiva revive, na força da dramatização ritual-simbólica, o drama profundo da existência humana. Há uma batalha de fundo em que todos estamos metidos e que não admite derrota. Esta seria a destruição e a morte definitiva. Marx havia pensado que a religião era tão-somente a expressão simbólica de aspirações não realizadas na vida real, a solução fantástica de problemas reais, a compensação transcendente para frustrações históricas. Nós pensamos que a dimensão religiosa é a mais profunda dimensão da existência humana. O mal deve ser vencido desde as raízes mais profundas do ser humano. Sozinhos, não venceremos; precisamos de redenção, da graça de Deus e temos que lutar articulados, em equipe, por um projeto maior, sem estrelismos, sabendo que a vitória é possível e está ao nosso alcance. É preciso, entretanto, ter garra, dar a vida, o sangue, durante todo o tempo da partida. Assim nos ensina Jesus: Quem quiser salvar sua vida sua pele – perdê-la-á e quem perder sua vida por causa de mim, salvá-la-á (Lc 9,24).
Não podemos repetir na vida os erros que os derrotados cometem nas disputas esportivas. Ninguém recebe a coroa – a taça – antecipadamente e ninguém vence sozinho. A vitória é obra coletiva, garantida por Deus para aqueles que lutam, com garra e inteligência, até o fim. Como eu gostaria, quando soar o apito final, repetir com São Paulo: Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Desde já me está reservada a coroa da justiça, que me dará o Senhor, justo juiz, naquele Dia; e não somente a mim, mas a todos os que tiverem esperado com amor sua Aparição (cf. II Tm 4,7s).
Encerro fazendo minha as palavras do nosso querido Papa Emérito Bento XVI, que por ocasião da Festa de São Francisco de Sales, escrevendo uma mensagem para o dia Mundial das Comunicações: “De fato, é preciso difundir as verdades fundamentais e o significado profundo da existência humana, pessoal e social. Desta forma, os meios de comunicação podem contribuir construtivamente para difusão de tudo o que é bom e verdadeiro”. Estamos rumo ao Hexa! Mas o nosso objetivo é o Céu, nossa maior Copa! Paz e Bem.

Interino do Frei Paulo Roberto – OFM Cap.
Narciso Cândido L. Neto – Coordenador do Núcleo em Formação da
Fraternidade da Ordem Franciscana Secular – OFS. Encontro todo 3º domingo do mês na Paróquia Santa Inês, às 7h.

Fabiano Azevedo: