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NOITE JUNINA

Em alguma parte de mim há um sentimento de alegria e ansiedade infantil, pronto para desfrutar uma festa junina. É uma porção inocente e cheia de energia para correr, brincar e comer milho verde cozido.

Um lado amável, que quer se juntar aos amigos, àqueles cuja companhia lhe faz bem. E que também pode acolher outros que vierem, desde que se acerquem com cordialidade e respeito.

É uma parte solícita, que se empenha em projetos cooperativos, como a organização de um arraial, que dá tanto trabalho, mas afinal nos diverte e une muito. Nesse lugar de mim vive o entendimento de que, se podemos fazer coisas tão proveitosas e estimulantes juntos, é tola demais a ideia de competir.

 

“Em certa instância de mim, sempre é noite junina”

 

Muito lúdica e bem humorada, essa feição se apresenta como moça que desponta na festa com um vestido de chita bem bonito, todo estampado, cheio de babados e fitas de cetim, com cores vibrantes e harmônicas, e também de cabelos trançados, toda contente por ser brasileira.

A moça é espreitada por alguém e também espreita. De modo que no correio elegante avoam recados de lá para cá e daqui para acolá, preparando agradável encontro sob as estrelas.

Músicos conhecidos e amistosos vêm de sertões vizinhos para tocar desde o anoitecer, madrugada adentro. E dançando a noite toda, os brincantes se certificam do quanto o forró, o baião e os tradicionais ritmos nordestinos têm poder de curar tristezas, com seu jeito mágico de bulir no corpo e na alma da gente. E o extraordinário e brilhante ser musical chamado Luiz Gonzaga é reverenciado no coração de todos.

Em torno da fogueira nos reunimos, apoiando-nos mutuamente. E a ela entregamos o que não nos serve mais carregar, especialmente as velhas mágoas. Para que sejam aniquiladas e se abra espaço ao novo em nossas vidas.

Nesse lugar do meu interior existe alguém que olha sem se cansar para centenas de bandeirinhas coloridas tremulando sob um céu de azul profundo como a vida, e essa visão me enche de esperança.

Em certa instância de mim, sempre é noite junina. E dela haverá de nascer o dia mais bonito.

 

Onides Bonaccorsi Queiroz

Fabiano Azevedo: