A oratória, capacidade de bem dizer, de expressar-se com propriedade e de assim, trazer o público para si, é nomeada como arte, aclamada como dom divino e exaltada a tal ponto que há cursos para ensiná-la. Excelente. Saber o que se diz e como se diz faz parte da rotina de profissionais bem sucedidos. Mas, e a arte de ouvir, alguém ensina?
Rubens Alves nos alerta que se houvesse um curso de ‘escutatória’ talvez não houvesse matrículas e o porquê disso é que é o mais interessante: “escutar é complicado e sutil”. Essa sutileza vem do fato de que ouvir requer apuro e interpretar silêncios requer sabedoria. Ouvir o que o outro diz é difícil, mas ouvir o que o outro não diz é mais difícil ainda.
“Que todo nosso crescimento venha agregado
de mais ouvir e menos falar”
E o que isso nos mostra? Será que mostra que no mundo competitivo, solitário e vaidoso em que estamos somos apenas o reflexo de tudo isso, ou o mundo é nosso reflexo? Quando falamos e não ouvimos demonstramos que o que o outro diz não é importante como a nossa fala. Quando fechamos dois ouvidos para abrir uma boca consideramos que a proporção se equilibra por causa da qualidade do que dizemos. Para ouvir é preciso atenção e disponibilidade e talvez seja isso que nos falta.
Vivemos em meio a ruídos: na comunicação, nas relações, na profissão. Para perceber o mundo de modo sinestésico, para nos darmos ao luxo de contemplarmos o outro e suas necessidades de modo mais apurado precisamos calar e essa é uma atitude nobre porque nos retira do centro e nos coloca como coadjuvante. Porém, ao adentrar o mundo do outro através dos nossos ouvidos e demais sentidos conseguimos praticar um excelente vocábulo: altruísmo.
Assim, olhar para o outro mais devagar, sentir o outro mais próximo, ouvir o outro mais atentamente nos ajuda muito a compreender a nós mesmo porque quando ouvimos e refletimos sobre as oitivas nos enxergamos e reinventamos nossas percepções. Que todo nosso crescimento venha agregado de mais ouvir e menos falar e que todas as nossas relações sejam construídas nas mais diversas sensações.
* Nayra Claudinne Guedes Menezes Colombo é professora, servidora pública, mestre em Letras.
E-mail: nayracolombo@hotmail.com