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Aumento da tarifa de ônibus compromete 20% do salário mínimo, diz economista

Quem usa transporte público todos os dias na capital acreana vai pagar mais caro pelo serviço a partir desta quinta-feira, 14. O preço da passagem passa de R$ 3,50 para R$ 4, para quem vai pagar no dinheiro. O valor da tarifa utilizado com bilhetagem eletrônica será de R$ 3,80. O preço da tarifa estudantil permanece R$ 1.

Mas, qual o impacto do reajuste no orçamento do trabalhador que recebe um salário mínimo por mês? A reportagem conversou com o economista Carlos Franco sobre os gastos com transporte público em Rio Branco.

Levando em conta os R$ 4 cobrados pelas empresas de ônibus para quem paga no dinheiro, o trabalhador gasta por mês R$ 192 somando a ida e a volta. A quantia corresponde 20% do salário mínimo, que hoje é de R$ 954.

“Quem precisa de ônibus em geral é a classe baixa, então é um impacto muito grande. Quanto menor a receita da família, maior o peso do segmento alimentação no orçamento dela. Esse dinheiro faz falta para comida. Ou a pessoa anda de ônibus ou ela come”, destaca.

Os números apresentados pelo economista se aproximam da média nacional. De acordo com pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o gasto com deslocamento chegou a 20,1% do orçamento do brasileiro, em 2010. Em 2000, esse tipo de serviço comprometia 18,7% das despesas de consumo do cidadão.

Em Rio Branco, o reajuste homologado pela prefeitura na última sexta-feira, 8, gerou polêmica. Vereadores, representantes de movimentos sociais e usuários de transporte público criticaram o aumento. Porém, a prefeita Socorro Neri alega que acompanhou todo o processo com a preocupação de que a nova tarifa ficasse no valor “estritamente” necessário à sustentabilidade do sistema.

“O que chamei de tarifa justa e, por incompreensão deste termo ou interesses políticos, tenho tido minha honra e condição de mulher duramente atacadas. Com certeza seria mais fácil ceder aos apelos populistas ou daqueles que pouco se importam com a regularidade dos transportes coletivos, mas não posso agir de forma irresponsável e inconsequente. Meu único interesse é o bem público, e este requer decisões responsáveis, consequentes e sustentáveis juridicamente, ainda que impopulares”, diz em nota.

Para tentar derrubar o novo valor da tarifa de ônibus, o advogado Gabriel Santos e o assistente social Carlos Gomes, ambos da Rede Sustentabilidade, entraram com uma ação judicial contra o reajuste. A justificativa, segundo eles, é de que o aumento é abusivo e que o processo não respeitou os prazos e trâmites da lei municipal.

Independente de polêmica e ações judiciais, quem continua a sentir no bolso o peso do aumento é o trabalhador que utiliza transporte público todos os dias. É o caso da empregada doméstica, Antônia Silva, de 49 anos. Sem carteira assinada, ela conta que recebe apenas uma ajuda de custo para o transporte e ainda não sabe se vai receber aumento.

“Poucas pessoas têm condições de assinar carteira e a gente se vira com o que dá. Não sei se vou receber aumento para ajudar a pagar a passagem de ônibus. Meu patrão ainda não falou sobre isso comigo, mas se eu não tiver nenhuma ajuda vai ficar difícil continuar trabalhando só pra pagar passagem de ônibus”.

 

 

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