A Polícia Civil do Acre, por meio do Departamento de Inteligência (DI) e Núcleo da Delegacia Especializada de Combate ao Crime Organizado (Decco), identificou e prendeu cinco criminosos que apareceram em vídeo que incita a violência, segundo o delegado Alcino Loureiro.
As imagens ganharam repercussão nacional após serem incluídas em uma série de reportagens intitulada “Acre em Guerra”, exibida pelo Fantástico neste domingo, 3. Porém, as prisões ocorreram na madrugada de sexta-feira, 1º.
A matéria retrata o aumento da violência no Acre e a atuação de facções criminosas, sobretudo nas regiões de fronteira. Uma verdadeira guerra pelo domínio das rotas de tráfico de drogas produzidas na Bolívia e no Peru.
Os criminosos que aparecem no vídeo, no meio da floresta peruana, são membros de facções criminosas. Eles fazem ameaças aos rivais e mostram um forte arsenal, com fuzis e metralhadoras.
Ainda segundo o delegado, a quadrilha estava sendo investigada desde janeiro. Os presos também são responsáveis por um assalto a um comércio e por um roubo à residência de um empresário, em Cruzeiro do Sul.
“Aquele é o terceiro vídeo, existem outros dois. Aquelas pessoas que aparecem no vídeo são recrutadas por traficantes peruanos, que comungam o Comando Vermelho, para que façam a escolta da droga do acampamento do Peru até o acampamento do Brasil. Isto porque estava acontecendo muito roubo de droga entre membros de outras facções.”
Já as armas, segundo o delegado, são cedidas por traficantes peruanos. “Eram trazidos pelo menos de 200 a 300 quilos de droga por mês nesse translado”.
Loureiro afirma, assim como na reportagem, que a disputa por domínio de facções na região de fronteira ganhou força após a morte do narcotraficante Jorge Raafat, em 2016. “Isso basicamente obrigou que as organizações criminosas paulistas e cariocas tivessem um olhar maior nas regiões de fronteira no Norte”.
Apesar dos esforços da polícia, a falta de fiscalização e policiamento na região de fronteira facilita a atuação das facções, que usam rios e estradas para o transporte de drogas e armas. Inclusive, duas aldeias indígenas são rotas utilizadas pelos traficantes.
“É muito complicado de fazer essa fiscalização na área de reservas indígenas. A atribuição da Polícia Civil é fazer a investigação de crimes. Nós não temos uma atribuição, pelo menos constitucional, de fazer fiscalização de fronteira. Porém, quando essa ausência ou pouca fiscalização começa a ficar potencializada temos um impacto dentro das cidades, em homicídios, tráfico de drogas e armas. Então a Polícia Civil não só está fazendo a nossa parte de repressão, como também precisamos ir pra área de fronteira”, declara.
O delegado destaca o esforço do governo em combater o crime em todo o Estado. Além das ações com planejamento estratégico, o Acre vem, nos últimos anos, cobrando a atuação da União para o combate ao tráfico de drogas nas áreas de fronteira.
Somente este ano, segundo Loureiro, a PC apreendeu mais de 180 quilos de drogas nas regiões de rota de tráfico. A Secretaria de Segurança Pública do Acre afirma que investiu R$ 60 milhões para criar 2 mil novas vagas no sistema carcerário até o final deste ano. O intuito é zerar o déficit carcerário.
“O Estado implementa políticas quando monta núcleos decentralizados tanto do tráfico quanto ao combate do crime organizado. Com a implantação desses núcleos, as informações chegam muito mais rápido. Não à toa conseguimos dar respostas imediatas. Essa é a nossa proposta enquanto Segurança Pública”.
Falta de policiamento
Além da falta de fiscalização de responsabilidade do Governo Federal, existe a falta de investimentos do Governo do Estado. Em Marechal Thaumaturgo, por exemplo, apenas uma agente de Polícia Civil atua na região que é rota de tráfico.
Outros municípios como Porto Walter, Jordão e Santa Rosa também possuem falta de efetivo, de acordo com o delegado. Contudo, ele destaca que há dois concursos em andamento para provimentos de novas vagas para policial civil e militar.
Mas, como essa guerra entre facções afeta a vida dos acreanos? A resposta é simples: há crescimento da criminalidade. Somente nos últimos três anos, o número de assassinatos cresceu 150%.
Em contrapartida, o delegado explica que o número aumentou apenas em relação a assassinatos decorrentes da briga entre facções. A elucidação dos crimes também aumentou, segundo Loureiro.
“Em janeiro tivemos 40 homicídios, destes 25 foram decorrentes de enfrentamento de facções e outros 15 de homicídios comuns. Se formos olhar em relação há outros anos, nós reduzimos 40%. Mas, como um todo, houve um aumento. O enfretamento vai acabar quando ocupar o lugar que precisa estar, ou seja, com policiamento.”
Já a Polícia Federal informou que deve realizar concurso público este ano para preenchimento de 500 vagas para policiais que devem atuar nas fronteiras. Ainda segundo o órgão, nos últimos cinco anos, foram apreendidos quase quatro toneladas de drogas e foram feitas mais de 500 prisões no Acre.
Porém, o investimento do Governo Federal no Sistema Integrado de Monitoramento das Fronteiras (Sisfron), principal programa do Exército, diminuiu pela metade em 2017 em relação ao ano anterior. Dos R$ 430 milhões prometidos, apenas 30% foi pago pela União.
A segunda parte da reportagem do Fantástico será exibida no próximo domingo, 10.
Governador cobra mais participação da União e de outras instituições no combate ao crime organizado
O governador Tião Viana comentou sobre o assunto das facções através do seu perfil no Facebook. Ele voltou a frisar a omissão do Governo Federal em ajudar o combate ao crime organizado no Estado, a fim de evitar que mais drogas entrem no país em regiões de fronteira, e cobrou mais ativismo neste combate de outras instituições:
“A omissão da União em relação ao livre trânsito do narcotráfico através das fronteiras amazônicas, passando pelo Centro-Sul, deixa um rastro de sangue indescritível e milhares de corpos jovens no chão. Ministério Público e Judiciário do Brasil, silêncio até quando? Aviso aos medíocres: no Acre sobram vagas nas escolas, estamos super bem avaliados na educação brasileira, nosso PIB cresce além da média, nosso IDH alcançou nível alto… Mas o poder financeiro do narcotráfico para cooptar jovens é avassalador”, postou o governador.