Um dos maiores elementos da cultura acreana, a farinha de mandioca faz parte da tradição familiar da população do Juruá e é uma das principais fontes de renda de muitas pessoas. Esse trabalho exercido em família foi foco de um estudo realizado pelo governo do Estado, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Social (Seds), com intuito de orientar a população sobre a prática do trabalho infantil.
O relatório diagnóstico, construído em parceria com o Ministério Público do Trabalho (MPT), Ministério do Trabalho (MT) e Fórum Estadual do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Fepeti), foi selecionado para participar da II Mostra de Experiências em Vigilância Socioassistencial, entre os dias em 19 e 21 de junho, em Brasília.
O levantamento foi realizado em 72 comunidades na região do Juruá, alcançando 446 famílias. Ao longo do processo, foi identificado que 858 crianças e adolescentes contribuíam com o processo de fabricação da farinha no núcleo familiar, porém, apenas 617 foram encontradas em situação de trabalho infantil. Dessas, sete estavam fora da escola.
Segundo Claudia De Paoli, diretora de políticas de assistência social da Seds, o documento servirá como guia para o desenvolvimento de ações educativas na região. Dessa forma, não existe a intenção de penalizar as famílias, apenas orientá-las.
“O fato de essas crianças estarem fora da escola representa o nosso desafio junto à Secretaria de Educação para identifica-las e incluí-las na escola, acompanhando de perto as famílias. Esse documento foi apenas para identificar situações e apontar qual tipo de trabalho social e educativo deve ser feito com essas famílias, porque o trabalho não é para apontar que a família está errada nem para fiscalizar [as casas de farinha]”, explica.
Para Claudia, trata-se de uma questão cultural e, por isso, o governo também irá apoiar as prefeituras na realização das ações necessárias. “Nós sabemos que é um problema cultural, que estamos em uma região amazônica e estamos cientes das dificuldades de acesso a essas comunidades, então, nós queremos junto com os municípios, identificar quais tipos de atividade o município vai realizar, em parceria com o Estado, mais especialmente a assistência social, saúde e educação que vão realmente fazer para minimizar a situação de trabalho infantil”, pontuou.
Mecanização – Tradicionalmente explorada em todo o Estado, do Alto Acre ao Juruá, a farinha de mandioca entra em um novo patamar a partir deste ano com a expansão dessa cadeia produtiva, cujo projeto está sendo executado pelo governo do Estado, por meio das secretarias de Agricultura e Pecuária (Seap) e de Extensão Florestal e Agricultura Familiar (Seaprof).
Xapuri, por exemplo, possui uma indústria de derivados de mandioca, após uma série de investimentos do Estado e também fruto de uma parceria público-privado-comunitária integrada.
Ainda neste ano, o governo quer implementar mais 32 indústrias do mesmo modelo, beneficiando todas as regiões do Estado. Dessa forma, a utilização de mão de obra infantil será abolida nessas regiões, respeitando as tradições locais e fomentando a economia local.