“O gigante realmente acordou,
mas de muito, muito mau humor”
Viver no Brasil de hoje é ser agredido todo dia. Não dá pra falar um ‘bom dia!’ na rua, sem ser mal interpretado. Folhear jornais e revistas é ler notícias de violência e troca de farpas entre políticos. Olhar o celular é quase o mesmo que abrir um dicionário de palavrões. Expor opiniões virou um jogo mais perigoso que Brasil e Argentina em Copa do Mundo.
O grande problema do país é, de fato, ‘a crise’ em todas as suas naturezas: econômica, social, política, ética, religiosa. E a grande consequência dessa crise é a nossa resposta, o revide na sua forma mais intolerante e agressiva. Tanto se cutucou o brasileiro, com os velhos jargões de “até quando?”, “chega de apatia!”, “está na hora desse gigante acordar”, que o povo se irritou. Não aguentou ser taxado de besta, de trouxa ou de otário, e partiu para o ataque.
O que não nós demos conta é que, sim, reagimos. O gigante realmente acordou, mas de muito, muito mau humor. Chega a ser desanimador, decepcionante, encarar a possibilidade de que, talvez, esse nosso ‘gigante’ chamado Brasil seja só mais um ogro, bruto e truculento, e não passe disso. Uma nação ensandecida em uma caça às bruxas frenética por corruptos, que se torna incapaz de ver que está caçando os lobos com cães mais selvagens ainda.
Deixamos de ser empáticos, deixamos de ser assertivos, para nos transformamos em rudes, mesquinhos, ofensivos e autoritários. Uma população que, diante de ensinamentos como os de Gandhi, nunca ‘vira a outra face’, pois acha que vai acabar com a ela toda esculachada, e nada vai mudar. Em redes sociais (espaços que deveriam ser de entretenimento e interação social), o discurso que impera é o do ódio vazio, gratuito e sem limites.
Nossa nação se ‘rachou’, e segue cada vez mais separada. E assim permanecerá, enquanto as pessoas não pararem de enxergar que vestir as camisas dos outros para trocar ofensas é deixar de lado à da nossa pátria amada. Das ofensas jamais nascerão o sentimento de união.
Não é essa a mensagem que imagino deixar para os meus filhos, meus netos. Não foi nesse país que eu cresci, e me recuso a acreditar que seja priorizando o ódio que as futuras gerações serão ‘educadas’. Sei que podemos ser melhor que isso. Sei que podemos reencontrar o Brasil de um povo heroico, que não confunde coragem com agressividade, e que um dia voltará a enxergar que a força do nosso braço que conquista nada tem a ver com a força física.
* Tiago Martinello é jornalista.
E-mail: [email protected]