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Cultura do fogo

“É esse caminho fácil que está destruindo nosso meio ambiente”

 

Todos os anos, o período de estiagem traz consigo a problemática das queimadas no Acre. A sensação é que as coisas vão piorando com o passar do tempo. Mas, o fogo não surge assim do nada. Alguém o acende. Há mão sujas de cinzas e com responsabilidade sobre o fato de estarmos respirando mais fumaça nas últimas semanas.
Quando viajo e digo que moro no Acre, a ideia das pessoas de fora é de um estado mais preocupado com o meio ambiente, com ar puro, verde estonteante. Essa é a imagem que eles têm de nós, mas ela não é real, pelo menos não por completo.
Temos uma terra boa, uma flora linda que não é tão valorizada, infelizmente.
Talvez quem pratique a queimada não seja de todo mau. Há uma cultura do fogo forte nessa região.
Em conversa com um servidor do IMAC, ele recordou que há trinta anos atrás, quem queimava sua terra era tido como trabalhador e quem o evitava era denominado preguiçoso.
É muito fácil juntar um lixinho no quintal também e “tacar” fogo. É mais prático queimar o mato ao invés de roçar ou escavar. No entanto, é esse caminho fácil que está destruindo nosso meio ambiente.
Chega de se apegar à desculpa do “é cultural” para justificar o fato de nosso Acre estar em chamas. É hora de mudar essa cultura. É hora de educar e fazer diferente.
Já tentaram lavar roupa e colocar para secar ao ar livre esses dias? Se for branca irá perceber que deixá-la ali foi uma péssima ideia. As fuligens que caem de cima vão deixando seu rastro de sujeira. O mesmo vale para as varandas e áreas. É limpar para vê-las sujas no instante seguinte.
A ironia disso tudo é que estamos no meio da Amazônia Legal. Veja bem, mais de 8 mil focos de incêndios e queimadas foram registrados pelo Brasil desde o início do ano de 2018. Deste total, pouco mais da metade, cerca de 51%, ocorreu na região da Floresta Amazônica, segundo informações do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
No Acre, o ano de 2017 registrou o dobro de focos de queimadas em relação a 2016. O temor é que este ano se supere.
Os dados são preocupantes, ainda mais se levarmos em consideração que o período de estiagem está longe de chegar ao fim. Ainda temos dois longos meses aí pela frente.
Não faça queimadas e aconselhe a todos que puder. A fumaça causada pelo fogo atinge a saúde das crianças, dos idosos e de pessoas como eu e você. Juntos podemos mudar esse quadro. Juntos podemos mudar a cultura.

* Brenna Amâncio é jornalista.
E-mail: brenna.amancio@gmail.com

Fabiano Azevedo: