“Ainda que se abra um novo arquivo, um recomeço
está sempre ligado a um caminho já percorrido, e só pode fazer diferente quem já fez de alguma maneira”
De todos os comandos do editor de textos que uso diariamente, não há nenhum que me pareça mais psicanalítico do que o ‘salvar como’. Usá-lo é para mim, assumir o valor de nossas versões anteriores, assumir que as grandes mudanças se dão por acúmulo de experiência.
Ainda que se abra um novo arquivo, um recomeço está sempre ligado a um caminho já percorrido, e só pode fazer diferente quem já fez de alguma maneira. Na vida real não existe control z, é impossível desfazer, apagar e isso é boa notícia, juro. Repensar o que foi feito, redesenhar o significado do que não se deleta sim são chaves para andar para frente.
Para quem por algum motivo, acredita que não vale a pena ‘salvar como’ uma carreira, um casamento, uma escolha pouco acertada, proponho um ‘salvar-se como’.
Pensar-se em uma versão 2.0 que leve em conta os rumos tomados anteriormente. O convite é que se crie uma escuta generosa para a própria trajetória e que se encontre espaço para os aprendizados que a versão beta produziu. Vale copiar e colar o que fizer sentido, inserir notas de rodapé, formatar, corrigir e ‘salvar como’ quantas vezes forem necessárias.
* Roberta D’Albuquerque é psicanalista, autora de Quem manda aqui sou eu – Verdades inconfessàveis sobre a maternidade e criadora do portal A Verdade é Que…
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