A equipe do jornal A GAZETA bateu um papo essa semana com o pré-candidato a reeleição, senador Jorge Viana (PT). Na oportunidade, o parlamentar falou um pouco sobre o cenário político nacional e local, processo eleitoral de 2018, reeleição e pré-candidatura do ex-presidente Lula.
Viana falou ainda sobre a sua revista “Desafios do Tempo”, que traz um apanhado desses quase oito anos de mandato. A publicação, de 120 páginas, reúne estatística sobre seus pronunciamentos, projetos apresentados e aprovados, dados sobre emendas parlamentares, participação em comissões da casa, entre outros assuntos também relevantes.
Essa é a quinta publicação do tipo lançada por Jorge Viana. Especialmente essa, traz como ilustração de capa uma foto em preto e branco do consagrado fotógrafo Sebastião Salgado, uma imagem aérea do rio Acre que serpenteia em meio à floresta.
O prefácio é escrito pelo próprio senador, com o título: “O que passou, o que virá”. No texto, o senador homenageia seu pai, o ex-deputado federal Wildy Viana, que morreu em 2016. Além da homenagem ao seu pai, o senador também homenageia o líder ambientalista Chico Mendes e o pajé Vicente Yawrani, que viveu 106 anos.
O material está divido em três capítulos e com vários subtítulos: 1º – A causa acreana: fala da luta do petista em defesa da BR-364, das emendas destinadas ao Estado; 2º- Voz do Acre: traz os números do senador no parlamento, projetos de lei, fala na tribuna, a luta contra a devastação da Amazônia; 3º- Tempos Difíceis: conta os avanços dos governos Lula e Dilma, o processo de impeachment, além de uma longa entrevista em que o parlamentar faz um balanço da política e de como ela pode ajudar a construir um país e uma sociedade melhor.
“Nessa revista eu faço uma análise do momento que estamos vivendo e da importância de termos fé e esperança para superar esse momento difícil, tanto no Acre, como no Brasil. Traz também um resumo das propostas, trabalho feito e conquistas que tivemos com relatorias importantes, como foi o Código Florestal; a Lei da Ciência, Tecnologia e inovação; a Lei da Biodiversidade; as propostas que apresentei procurando aperfeiçoar e mudar o Código Penal brasileiro; além das lutas que tenho travado nos temas que dizem respeito aos direitos dos cidadãos, como o maior número de voos, preço justo de passagens, redução da conta de energia, melhoria da internet e telefonia no estado, e a redução do preço dos combustíveis, do gás de cozinha”, disse.
Confira a entrevista:
A GAZETA – Senador, faça um apanhado de sua atuação parlamentar ao longo desses anos últimos anos, destacando suas principais ações e debates.
JORGE VIANA – Bem, o tempo que estamos vivendo é de absoluta crise institucional, diria até de desmoralização das estruturas de poder do estado brasileiro. O Congresso, onde trabalho, lamentavelmente está desacreditado. Temos também um presidente tido como o mais impopular da história, resultado de conflito político que chamamos de golpe, que tornou uma tragédia. Desmentiu até mesmo o Tiririca, que dizia que pior que estava não ia ficar. E ficou ainda muito pior. O mais grave é que vejo que o Supremo começa também esse processo de desgaste e desmoralização. Isso é perigoso. Por um protagonismo exacerbado que não cabe ao Judiciário e também expressa a crise que nós estamos vivendo. Trabalhando no meio disso tudo, tenho procurado pautar meu trabalho tentando ser parte da solução. Busco com minhas vivencias e experiências achar uma forma de ajudar o Brasil a sair dessa crise que afeta os municípios, Estados, e a cada um de nós brasileiros. Ninguém aguenta mais essa crise e quer que ajudemos a sair dela. Meu mandato está à disposição para tentar vermos se saímos dessa confusão que nos metemos e está sendo prejudicial para todo mundo.
A GAZETA – Por diversas vezes o senhor sugeriu a antecipação das eleições como forma de amenizar a crise nos país. A quatro meses da eleição e diante ainda de um quadro caótico, o senhor ainda é a favor que o processo eleitoral seja antecipado?
- V.– Pedi as antecipações da eleições quando tentaram fazer o impeachment da presidente Dilma. Nessa época isso era importante para não nos distanciarmos da democracia. Fizeram o golpe, presidente temer assumiu prometendo mundos e fundos. E agora nos estamos vivendo uma crise terrível. Recentemente, falei que se era para tirar o Temer que se chamasse logo novas eleições. Isso foi no sentido de dizer que a saída dessa crise vai ter que passar pela democracia sempre para não ter risco de uma intervenção militar. Meu maior receio é que as coisas piorem ainda mais do que estão. Imagine se os resultados das urnas forem com pessoas inexperientes ou que agravem a situação. O Brasil está doente, a sociedade brasileira está doente, entristecida, sofrendo. Brasil está mal e nos precisamos de pessoas que tenham experiência, bons propósitos. Mesmo a turma nova, mas que não venham com discursos velhos, mas que tragam realmente algo novo e que somem aos antigos para vencermos esse período de dificuldade. Para mim, a saída do Brasil dessa crise é sempre pela democracia.
A GAZETA – Essa nova geração de políticos que se apresenta a sociedade, o que eles possuem de diferente em relação aos mais antigos?
- V. – Eu sou um dos representantes que pode se chamar de mudança da política. Fico o tempo inteiro me policiando para não ser parte do atraso. O que me preocupa hoje em dia é que estou vendo pessoas novas com discursos velhos, atrasado. Isso é muito perigoso. A minha geração tem ideário de vida. Eu, Marina, Binho, Tião, nós nascemos na era Chico Mendes. Tínhamos um compromisso com a causa ambiental, com uma sociedade mais justa, com uma ideia de um mundo mais igual. Hoje em dia estou vendo uma sociedade mais embrutecida, vivemos uma espécie de todos contra todos. E tem gente que acha que a solução para a criminalidade é distribuir armas. Tem outros que acham que a solução é punir as minorias. Minha luta é para que deixemos essa crise para trás, mas tenho sempre uma preocupação, que em uma hora dessas tenhamos pessoas com experiência e que tenham compromisso com a ética e a honestidade.
A GAZETA – Quando a população fala sobre o atual cenário político percebe-se certa revolta, certo ranço. Até que ponto isso seria prejudicial diante do processo eleitoral que estamos vivendo?
- V. – Isso é muito prejudicial. Vivemos um período de crise civilizatória. Isso é um desafio tremendo para todos nós superarmos esse período. Por isso que eu acho que nesse momento não podemos abrir mão de ter pessoas experientes, mas com pensamentos modernos e atualizados, para não cairmos na armadilha de uma aventura. O pior que poderia acontecer nessa hora é errar a mão e cair em uma aventura. Quando vejo que 30% das pessoas não querem votar me preocupo, pois isso é perigoso. Quando as pessoas tomam a decisão de decisão de anular o voto está entregando uma carta em branco para que alguém vote por ela. Aí pode dar Tiririca, fica pior do que está. Não precisamos de aventuras. E nesse aspecto que eu acho que as pessoas precisam ter um pouco mais de paciência e pegar a indignação e apontar para o caminho certo. É preciso ter esperança.
A GAZETA – No que diz respeito à disputa presidencial, as pesquisas feitas até então apontam o ex-presidente Lula como o preferencial do eleitorado brasileiro. Diante de sua prisão e levando em consideração que os recursos de liberdade negados, o PT já avaliou um plano B?
- V. – A prisão do maior líder político do Brasil é um exemplo da grave crise que o país está vivendo. Tenho muito respeito pela Justiça, mas que há hoje uma manipulação de órgãos que compõem as nossas instituições mais importantes, isso não se pode negar. Acho isso gravíssimo. Na época do governo dele não foi acusado de corrupção. No fundo, a sociedade está descobrindo que o corrupto não é o Lula. Ele estava dentro de um sistema político com essa quantidade enorme de partidos e que tinha corrupção como tinha na época do Fernando Henrique. Está tendo agora no governo Temer. O povo brasileiro sabe e por isso o querem ele de volta. Não existe um plano B. O plano é colocar o presidente Lula como candidato, registrar a pré-candidatura dele, recorrer das tentativas de cassá-lo. Se 10, 15 dias ante da eleição chegar um recurso final dizendo que ele realmente não pode, aí vamos ouvir o presidente para ver quem é que ele aponta para assumir o lugar dele.
A GAZETA – Recentemente foi aprovado na CCJ do Senado um requerimento de sua autoria que pede a criação de uma comissão suprapartidária para visitar o ex-presidente Lula na sede da PF, em Curitiba. Como está essa questão?
- V. – Bem, estamos aguardando a decisão da juíza e do próprio Ministério Público para somente depois marcar o dia da visita. Estará se direcionando para Curitiba um grupo de senadores de seis partidos diferentes a fim de verificar a situação da prisão ex-presidente Lula e dos outros presos.
A GAZETA – Marcus Alexandre está preparado para assumir o comando do Acre?
- V. – Marcus Alexandre tem uma experiência administrativa fantástica, muito trabalhador, uma pessoa honesta. Ele renova a Frente Popular. Marcus Alexandre para mim é a boa e segura mudança para suceder o governador Tião Viana. Obviamente que temos um processo eleitoral complicado e uma oposição que trouxe também um nome forte. Mas talvez o nome mais forte da oposição pode ser também o mais fraco pela absoluta falta de experiência de lidar com a administração pública, especialmente, em período de crise. Veja bem, isso não é uma crítica ao Gladson, apenas o reconhecimento de uma realidade. Em um período de crise como esse não podemos errar a mão. Acho, sim, que Marcus Alexandre é a boa mudança que nós precisamos. O Estado não pode cair em mãos erradas, pois mão aguentará muito meses. Friso novamente Marcus Alexandre é o melhor para o Acre.
A GAZETA – Como está sua pré-candidatura? As pesquisas mostram que o senhor é um dos favoritos para sair vitorioso.
- V. – Sempre fico muito receoso com a história de ser o favorito. As últimas eleições que disputei sempre fui tido como o favorito e graças a Deus o resultado materializou-se nas urnas. Mas, toda vez que vejo uma pesquisa em que estou na frente, reúno minha equipe, mando todo mundo caçar a sandália da humildade e dobro a aposta no trabalho. Essa vai ser mais uma eleição que irei trabalhar muito, com fé, esperança, confiança, para ver se trazemos alguma credibilidade para a boa política. A má política não realiza nada de bom, mas a boa politica muda a vida das pessoas, de um Estado, do país. Teve um período no governo Lula que experimentamos a boa política e os resultados vieram. Tenho fé em Deus que teremos sucesso nessa empreitada e tudo que quero é ajudar meu país, meu Estado. Minha reeleição tem, portanto, essa finalidade, continuar ajudando meu povo.