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Candidatos, quais são as suas propostas para lidar com eventos extremos de clima?

O tema dominante para as eleições deste ano parece ser como responder a violência criminal,seja no nível nacional, seja no nível local. Como reportamos neste espaço no dia27 de março deste ano, em 2016 a taxa de homicídiosno Acre — 45 mortes por 100.000 habitantes por ano — foi 50% acima da média nacional e mais de 45 vezes a taxa de Portugal e de outros países europeus. Precisamos encontrar soluções para esta situação. Temos exemplos emoutras partes do mundo de que soluções são possíveis, contando que entendemos bem o problema e existe vontade para solucioná-lo.
Mas algo está acontecendo que pode ser até mais letalem longo prazodo que a violência atual. No seu livro “Colapso: Como as Sociedades Escolhem o Fracasso ou o Sucesso”, Jared Diamond documentou exemplos de várias sociedades que colapsaram quando excederam a capacidade do seu ambiente, acoplado a uma falta de adaptabilidade. Nos últimos treze anos, já enfrentamos uma série de eventos extremos do clima – inundações, secas severas, incêndios de florestas e áreas agrícolas, ondas de calor e ventanias – que podem ser prenúncios de eventos ainda mais extremos. Este artigo visa lembrar dos danos destes eventos e pedir aos candidatos a governador, senador e deputados estadual e federal para articular suas respostas.
Vamos lá com a listados últimos treze anos: em 2014, a inundação do Rio Madeira reduziu o transporte via a BR-364 durante dois meses, causando até racionamento de comida (ver foto). O Governador Tião Viana estimou danos de 800 milhões de reais à economia acreana. Em 2015 a inundação do Rio Acre foi recorde, causando cerca de 200 a 600 milhões de reais de danos em Rio Branco.
Em 2005, a seca severa propiciou que o fogo transformasse em cinzascerca de 370.000 hectares de pastos e áreas agrícolas. No mesmo ano, mais de 350 mil hectares de florestas foram atingidos por fogo.
Os custos foram na escala de dezenas de milhões de reais para produtores rurais. Mais ainda foi a perda de serviços ambientais das florestas. Se o impacto nesses serviços fosse igual a multa de mil reais por hectare, o dano teria sido equivalente a 350 milhões de reais. Esta perda pode ter sido temporária e precisa de melhor quantificação, especialmente em vista de novas pesquisas confirmando o papel crítico de florestas emmanter aschuvas.
A fumaça destas queimadas extrapolou os limites diários da Organização Mundial de Saúde, múltiplas vezes durante semanas, criando um problema de saúde pública não só em 2005, mas em 2010 também.
Em 2016, o Rio Acre chegou a sua cota mais baixa em quarenta anos e o abastecimento de centenas de milhares de residentes de Rio Branco quase ficou em perigo, sem falar dos outros municípios. Em 2017 três municípios declararam situações de emergência por falta de água. Nos anos 2006, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014, inundações causaram dezenas de milhões de reais de danos para residentes de Rio Branco.
Em 2017 Cruzeiro do Sul sofreu uma inundação histórica. Durante a época de chuvas de novembro de 2014 a março de 2015, a cidade de Tarauacá sofreu dez inundações. Em fevereiro deste ano, um mês de chuva (270 mm) caiu em poucas horas na cidade de Rio Branco. Em geral, os levantamentos são incompletos dos danos destes eventos, levando a uma situação de empobrecimento silencioso da sociedade.
Eventos destes agora são parte da história recente da sociedade acreana com custos materiais medidos em centenas de milhões de reais e em dezenas de milhares de vidas atingidas.
Se acreditarmos nos mais de 90 porcento de cientistas que estudam o clima, nas dezenas de academias de ciência, inclusive do Brasil, e nas associações de meteorologistas profissionais, os eventos extremos que sofremosvão ficar mais extremos e mais frequentes nos próximos anos e décadas. Continuar o desmatamento na Amazônia vai reduzir as chuvas, levando a uma possível mortalidade massiva de árvores nesta região, isto é, transformando a floresta em cerrado.
Os candidatos eleitos terão a oportunidade de fortalecer a resiliência da sociedade regional a estes eventos extremos via a) fortalecimento das defesas civis nacional, estadual e municipais, b) apoio aos setores produtivos rurais, às comunidades indígenas e aos centros urbanos para adaptarem-se a esta nova realidade e c) promoção no sistema educacional de ensino de orientações e atividades sobre soluções para estes eventos extremos. Além de adaptação, precisamos participar mais efetivamente na mitigação destes eventos com a redução do desmatamento e a implantação de programas de reflorestamento como parte do compromisso do Brasil, frente a convenção do clima.
Se os candidatos não tiverem propostas efetivas para lidar com eventos extremos e forem eleitos, eles podem ser um passo na direção do colapso social que Jared Diamond reportou: a má-adaptação de uma sociedade a uma nova realidade. Espero que isto não seja o caso, para o bem dos nossos filhos e netos.
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As referências que apoiam as afirmações deste artigo podem ser obtidas via solicitação a agazeta.jornal@gmail.com.

Fabiano Azevedo: